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DHARMA - LEI DIVINA e CÓSMICA


DHARMA COMO LEI DIVINA E CÓSMICA:

ORIGENS, CONCEITOS E IMPLICAÇÕES


Imagem do Cantinho dos Anciãos representando a sabedoria Cósmica do Dharma, criada por I.A.
Imagem do Cantinho dos Anciãos representando a sabedoria Cósmica do Dharma, criada por I.A.

"Viver de acordo com o Dharma é caminhar em harmonia com o ritmo silencioso do universo. Quando suas ações nascem da verdade, da compaixão e da consciência, você se alinha com a ordem natural da vida. Mesmo em meio ao caos, o Dharma é o fio invisível que conduz à paz interior, ao equilíbrio e ao propósito. Confie nesse caminho: ele não impõe, apenas revela — com sabedoria — o que já vive em seu coração."

Equipe Cantinho dos Anciãos


1. Introdução


O conceito de Dharma é um dos pilares do pensamento religioso e filosófico oriental. Presente nas Tradições do Hinduísmo, Budismo, Jainismo e Sikhismo, ele carrega significados que vão desde a conduta ética individual até a expressão de uma ordem cósmica e divina que rege toda a existência. Este texto visa aprofundar a compreensão do Dharma como Lei Divina ou Natural, explorando suas origens, desenvolvimentos e implicações ontológicas, morais e cósmicas.

 

2. A Etimologia e a Origem do Conceito de Dharma


A palavra Dharma deriva do sânscrito dhr, que significa “sustentar”, “manter” ou “suportar”. No contexto védico mais antigo (1500 a.C.), Dharma já estava associado à ordem natural das coisas — rita, a ordem cósmica anterior ao Dharma, representava a primeira noção do cosmos organizado e inteligível. Com o tempo, Dharma passou a integrar e substituir o conceito de rita como a própria lei que governa o universo, os deuses e os humanos.


3. Dharma[1] como Lei Cósmica nas religiões de Bhārata (Índia)


Créditos da imagem Pixabay por ciaorioris.
Créditos da imagem Pixabay por ciaorioris.

No Hinduísmo[2], Dharma possui um caráter polissêmico, sendo tanto lei eterna (Sanatana Dharma) quanto dever individual (Svadharma). Como lei cósmica, o Dharma é o princípio que rege o universo, garantindo a ordem e o equilíbrio entre os mundos.


O conceito de Dharma ocupa um lugar central e multifacetado no pensamento hindu, sendo uma das ideias mais complexas e profundas dessa tradição milenar. Seu caráter polissêmico permite que ele seja compreendido sob diferentes perspectivas: a) como lei eterna e universal (Sanātana Dharma); b) como ordem cósmica que regula o funcionamento do universo, e; c) como dever individual (Svadharma), adaptado à natureza, à posição e ao estágio de vida de cada ser humano. Essa riqueza de significados reflete a abrangência do Dharma enquanto princípio espiritual, moral e metafísico, capaz de articular o equilíbrio entre o absoluto e o relativo, o divino e o humano. Assim temos:


Sanatana Dharma

Rita e Dharma

Dharma e os Deuses

Refere-se aos princípios eternos que sustentam o universo — verdade (Satya), compaixão (Daya), não violência (Ahimsa), entre outros.

O Dharma sucede o conceito de Rita nos Vedas como a nova expressão da ordem universal.

Vishnu, como sustentador do universo, é frequentemente associado ao Dharma. Nas escrituras, Vishnu desce ao mundo (avataras) para restaurar o Dharma sempre que ele se enfraquece.


3.1 - Sanātana Dharma: A Lei Eterna


No plano mais elevado e impessoal, o Dharma é compreendido como Sanātana Dharma, isto é, o Dharma eterno, atemporal e imutável que sustenta toda a criação. Ele representa os princípios fundamentais da existência, como a verdade (satya), a compaixão (dayā), a não violência (ahiṁsā), a retidão (śīla) e o autocontrole (damah). Estes valores não estão sujeitos a modismos culturais ou épocas históricas; ao contrário, são considerados leis eternas da realidade, intrínsecas ao próprio tecido do cosmos. Sanātana Dharma é, assim, a expressão espiritual da ordem divina — um padrão moral e metafísico que transcende qualquer religião organizada, servindo como base para o caminho de realização espiritual e harmonia universal.


3.2 - De Rita a Dharma: A Continuidade da Ordem Cósmica


A origem do conceito de Dharma remonta ao período védico, onde a palavra ainda não era amplamente usada. Nos Vedas, a ideia de ordem universal era expressa pelo termo Rita — a lei cósmica natural que mantém o equilíbrio dos mundos, regula o movimento dos astros, das estações e dos rituais sagrados. Com o desenvolvimento das filosofias indianas, o Rita foi progressivamente substituído por Dharma como conceito mais abrangente, incorporando não apenas a ordem física e ritualística, mas também a ordem ética e espiritual. O Dharma tornou-se, assim, a nova linguagem da ordem cósmica, preservando o legado védico ao mesmo tempo em que o expandia para incluir a moralidade, a conduta social e a busca espiritual.


3.3 - Svadharma: O Dever Pessoal e Contextual


Krishna (Krsina) e Arjuna (arjuna).           Céditos da imagem Pixabay por GodsFavoriteArts.
Krishna (Krsina) e Arjuna (arjuna). Céditos da imagem Pixabay por GodsFavoriteArts.

Enquanto o Sanātana Dharma aponta para valores universais, o Svadharma se refere ao dever individual — aquilo que é apropriado a cada pessoa, segundo sua natureza (svabhāva), sua casta (varna), seu estágio de vida (āśrama) e suas circunstâncias específicas. No Bhagavad Gītā, Krishna ensina a Arjuna que é melhor cumprir seu próprio dever de guerreiro, mesmo que imperfeitamente, do que desempenhar perfeitamente o dever de outro. Isso mostra que o Dharma não é uma norma única e imutável, mas um princípio contextual e dinâmico, que reconhece a diversidade dos caminhos humanos e orienta cada um a agir com retidão a partir de sua própria verdade interior.


3.4 - Dharma e os Deuses: Vishnu como Guardião da Ordem


No panteão hindu, o Dharma também é personificado e protegido pelas divindades, em especial por Vishnu, considerado o sustentador do universo na trindade (Trimūrti) que inclui também Brahma (o criador) e Shiva (o transformador). Vishnu está intimamente ligado ao Dharma, pois sua função cósmica é preservar a ordem universal e intervir quando ela está ameaçada. Em seus avataras — encarnações divinas como Rāma, Krishna ou Narasiṁha — Vishnu desce ao mundo sempre que o Dharma enfraquece e o caos (adharma) prevalece. Como afirma o Bhagavad Gītā:


"Sempre que há declínio do Dharma e ascensão do adharma, eu me manifesto para proteger os justos, destruir o mal e restaurar o Dharma." (Gītā 4.7–8)

Essa doutrina revela a crença em um equilíbrio dinâmico entre o bem e o mal, e na certeza de que o Dharma, embora possa se esconder temporariamente, jamais é destruído. A restauração periódica da ordem pelo divino reflete a resiliência eterna do Dharma, que mesmo diante do caos, encontra meios de se renovar e reestabelecer sua presença no mundo.


Portanto, o Dharma, nos ensinamentos das religiões de Bhārata (Índia), é uma Lei Viva e Integrativa não é uma lei fixa, arbitrária ou meramente legalista. Ele é ao mesmo tempo cósmico e pessoal, eterno e situacional, regulador da ordem universal e guia prático da vida cotidiana. Ao unir a estabilidade dos princípios universais com a flexibilidade dos deveres individuais, o Dharma constitui uma lei viva, profundamente espiritual e adaptável, que convida o ser humano a viver em consonância com a totalidade da existência. Compreender e seguir o Dharma é, nesse sentido, participar conscientemente da harmonia do cosmos, contribuindo para um mundo mais justo, equilibrado e iluminado.


4. Dharma no Budismo: Ordem Existencial e Caminho de Liberação

Créditos da imagem Pixabay por ciaorioris.
Créditos da imagem Pixabay por ciaorioris.

No contexto do Budismo, o Dharma — ou Dhamma em Pali — é muito mais do que um conjunto de ensinamentos; ele é a própria verdade eterna que rege tanto o mundo físico quanto os domínios sutis da mente e da experiência humana.

As Quatro Nobres Verdades e o Caminho Óctuplo

O Dharma como realidade última

Interdependência e Impermanência (Pratītyasamutpāda e Anitya)

representam a aplicação prática do Dharma para transcender o sofrimento.

No Abhidharma, os “dharmas” são unidades básicas da existência, sugerindo uma estrutura cósmica fundamental.

Revelam que o Dharma também é uma lei natural de causalidade e fluxo.

O Dharma é, assim, simultaneamente uma lei universal e um caminho de realização espiritual. Para os budistas, seguir o Dharma é viver em harmonia com a realidade como ela é, e não como desejamos que seja. É reconhecer a natureza fundamental da existência e agir de forma coerente com essa compreensão.


No centro do Dharma budista estão as Quatro Nobres Verdades, que diagnosticam o sofrimento (duḥkha) como condição central da vida e indicam seu antídoto. Elas afirmam: (1) que o sofrimento existe; (2) que ele tem uma causa, o desejo e o apego; (3) que é possível superar o sofrimento; e (4) que há um caminho que conduz a essa superação. Esse caminho é o Nobre Caminho Óctuplo, que oferece uma prática ética, meditativa e contemplativa voltada à libertação. Trata-se da aplicação prática do Dharma, uma bússola que orienta o praticante em direção ao fim do sofrimento e à iluminação.


Em uma abordagem mais filosófica e analítica, especialmente nos textos do Abhidharma, o Dharma é interpretado como a realidade última da existência. Nesse contexto, os "dharmas" (com letra minúscula) são compreendidos como os elementos básicos que compõem tudo o que existe — fenômenos físicos, mentais e psicológicos. Esses dharmas são considerados as “partículas” fundamentais da experiência, revelando uma estrutura cósmica detalhada e impessoal da realidade. A compreensão e observação direta desses elementos são consideradas etapas essenciais para o despertar.


Bhavachakra mostrando os seis reinos da existência nos quais um ser pode reencarnar, de acordo com a doutrina do renascimento do budismo. As três principais formas de desvio ou venenos (ganância, ódio e ilusão) ficam bem no centro da roda. A borda externa mostra a doutrina dos doze nidanas. De Seattle, Washington, EUA.
Bhavachakra mostrando os seis reinos da existência nos quais um ser pode reencarnar, de acordo com a doutrina do renascimento do budismo. As três principais formas de desvio ou venenos (ganância, ódio e ilusão) ficam bem no centro da roda. A borda externa mostra a doutrina dos doze nidanas. De Seattle, Washington, EUA.

Além desses ensinamentos e preceitos fundamentais temos os conceitos de:

  • Interdependência (Pratītyasamutpāda) e;

  • Impermanência (Anitya) 


Aprofundam o entendimento do Dharma como uma lei natural de causalidade e fluxo contínuo. Nada existe por si mesmo ou de forma isolada; tudo surge em dependência de causas e condições, e tudo está em constante transformação. Essa visão rompe com qualquer noção de essência fixa ou de ego permanente, e revela a vacuidade (śūnyatā) como um aspecto central da existência.


Portanto, no Budismo, o Dharma é simultaneamente caminho, verdade e estrutura última da realidade. Ele é um princípio dinâmico que orienta a prática espiritual e, ao mesmo tempo, descreve o funcionamento mais profundo do universo e da mente. Compreender e viver segundo o Dharma é, assim, tanto uma forma de sabedoria quanto um modo de libertação.


5. Dharma no Jainismo: Lei da Alma e da Moral Cósmica


Crédito da imagem wikipédia.
Crédito da imagem wikipédia.

Para o Jainismo, o Dharma é duplo:


  1. Dharma como substância cósmica que permite o movimento — um dos seis dravyas (substâncias fundamentais do universo).

  2. Dharma como ética absoluta, onde a alma se purifica ao seguir a conduta correta (satya, ahimsa, asteya, aparigraha).


Assim, no Jainismo, o Dharma é tanto lei física quanto lei espiritual, governando a existência universal sem depender de um Deus criador.


Na imagem, ao lado, o Símbolo oficial do Jainismo, conhecido como Jain Prateek Chilhna. Este símbolo jainista foi adotado por todas as seitas jainistas em 1975.



Lokapuruṣa (homem cósmico). Água e tinta dourada (de um manuscrito. Samghayanarayana do século XVI) Jainismo. Créditos da imagem Wikiital.
Lokapuruṣa (homem cósmico). Água e tinta dourada (de um manuscrito. Samghayanarayana do século XVI) Jainismo. Créditos da imagem Wikiital.

No Jainismo, o conceito de Lokapuruṣa, ou Homem Cósmico, representa uma imagem simbólica do universo (loka) estruturado em forma de um corpo humano[3]. Essa cosmologia visual ajuda a compreender a ordem do cosmos segundo os jainistas, dividida em três regiões principais: o mundo inferior (infernos), o mundo médio (onde vivem humanos, animais e seres comuns) e o mundo superior (morada dos seres celestiais e dos seres libertos, os siddhas). O topo da “cabeça” do Lokapuruṣa representa o estado de libertação plena, onde habitam as almas purificadas, livres do ciclo de renascimentos (saṃsāra).


Dentro dessa estrutura cósmica, o Dharma no Jainismo não é um código moral ditado por uma divindade, mas uma lei universal e impessoal que rege o movimento e o progresso espiritual. Ele está profundamente ligado à ética da não violência (ahiṃsā), à verdade, ao autocontrole e ao desapego. O Dharma é o caminho que conduz à libertação (mokṣa), através da eliminação do karma, que no Jainismo é visto quase como uma substância sutil que se adere à alma e obscurece sua pureza original.


Assim, o Jainismo vê o universo como eterno e regido por leis naturais imutáveis, das quais o Dharma faz parte. Seguir o Dharma é viver de modo a purificar a alma e se libertar das impurezas cármicas — um processo que ocorre através da conduta ética rigorosa, do conhecimento correto e da fé verdadeira.



6. Dharma no Sikhismo: Vontade Divina e Conduta Justa


O sarovar adjacente ao Templo de Gurdwara Dukh Nivaran, Patiala, Sikh.     Créditos da imagem pixabay por Jeevan.
O sarovar adjacente ao Templo de Gurdwara Dukh Nivaran, Patiala, Sikh. Créditos da imagem pixabay por Jeevan.

O Dharma, no Sikhismo ensina que:


  • O ser humano deve viver em harmonia com Hukam (ordem divina), aceitando sua vontade e agindo com justiça, honestidade e compaixão perante a vontade de Waheguru (Deus).


Segundo a tradição local, respaldada por um antigo manuscrito preservado no Gurudwara, um homem chamado Bhag Ram, um jhivar da aldeia de Lehal, prestou serviço ao nono Guru dos sikhs, Guru Tegh Bahadur, durante sua estadia em Saifabad (atualmente Bahadurgarh). Movido pela aflição de sua comunidade, Bhag Ram pediu ao Guru que visitasse sua aldeia e a abençoasse, na esperança de livrar os moradores de uma doença grave e misteriosa que os afligia há muito tempo.


Atendendo ao pedido, Guru Tegh Bahadur visitou Lehal em 5 de Magh Sudi do ano 1728 do calendário Bikram, correspondente a 24 de janeiro de 1672, e hospedou-se à sombra de uma figueira-de-bengala próxima a um lago. Após sua visita, observou-se uma redução significativa na doença que assolava a aldeia. O local onde o Guru se sentou passou a ser conhecido como Dukh Nivaran, que significa literalmente “aquele que elimina o sofrimento”. Os devotos creem até hoje nas propriedades curativas das águas do sarovar (reservatório) que acompanha o santuário. Posteriormente, Raja Amar Singh de Patiala (1748–1782) mandou construir um jardim no local em forma de memorial, confiando sua guarda aos sikhs Nihang.


O compromisso de fé e abnegação espiritual do Guru Tegh Bahadur, naturalmente, compartilhava sua energia em harmonia com os preceitos e canais divinos. Esse relato mostra que, no Sikhismo, Dharma refere-se à vida de retidão conforme a vontade de Waheguru (Deus). Embora menos cosmológico, o Dharma sikh está profundamente conectado ao conceito de Hukam (ordem divina), que é a força que regula o universo.

 

7. A Manifestação do Dharma na Natureza e na Vida


O Dharma é observado:

Na natureza

Na sociedade

Na espiritualidade

ciclos da vida, estações, interdependência dos seres.

leis, deveres, papéis sociais (varna-ashrama-dharma).

meditação, rituais, busca pelo autoconhecimento.

É tanto descritivo (como as coisas funcionam) quanto prescritivo (como devemos agir), fundindo ciência e ética, cosmologia e conduta.


7.1 - Na natureza, o Dharma se manifesta nos ciclos regulares e interdependentes que mantêm o equilíbrio da vida. Fenômenos como o nascer do sol, as estações e a interação entre os seres vivos expressam uma ordem cósmica. Para as tradições orientais, essa regularidade é também espiritual, revelando uma inteligência que sustenta a existência.


7.2 - Na sociedade, o Dharma aparece como deveres e funções que mantêm a harmonia coletiva. No Hinduísmo, isso se traduz no sistema de varna-ashrama-dharma, que orienta os papéis sociais e estágios da vida. O cumprimento desses papéis visa alinhar o indivíduo com a ordem universal, promovendo justiça e equilíbrio.


7.3 - No plano espiritual, o Dharma é um caminho de autoconhecimento e disciplina interior. Práticas como meditação, rituais e serviço desinteressado ajudam o indivíduo a se conectar com sua essência e com a realidade última. Viver o Dharma, em tradições como o Budismo, é trilhar o caminho para a libertação do sofrimento.


O Dharma possui uma dimensão descritiva, ao revelar a ordem natural do universo, e uma dimensão prescritiva, ao orientar ações humanas em direção ao equilíbrio. Ele integra ciência e ética, mostrando que compreender o mundo e agir com retidão fazem parte do mesmo esforço por harmonia. Unindo a estrutura do universo à conduta humana, o Dharma propõe uma visão integrada da existência. Viver bem, segundo esse princípio, é compreender o papel de cada ser na ordem cósmica e agir com consciência, responsabilidade e sabedoria em todas as áreas da vida.


9. O Dharma e o Karma: Lei e Recompensa


A solidariedade é Agir na Lei do Dharma e vivenciar a experiência de ir além de si mesmo e alcançar o próximo.                                                                                    Créditos da imagem Pixabay por willian_2000
A solidariedade é Agir na Lei do Dharma e vivenciar a experiência de ir além de si mesmo e alcançar o próximo. Créditos da imagem Pixabay por willian_2000

O Dharma está intimamente ligado ao Karma, a lei de causa e efeito moral:


  • Cumprir o Dharma gera bom karma.

  • Desviar-se dele resulta em sofrimento e desordem.


Essa relação fundamenta um sistema de justiça cósmica onde cada ação reverbera em harmonia ou desequilíbrio com o universo.


Créditos da imagem Pixabay por Leroy_Skalstad
Créditos da imagem Pixabay por Leroy_Skalstad

Dharma e Karma são princípios interdependentes: o Dharma aponta o caminho correto, e o Karma responde às ações com consequências, formando uma visão integrada da existência.


O Dharma define o que é apropriado segundo o contexto de vida de cada um, enquanto o Karma é a lei de causa e efeito moral. Agir conforme o Dharma gera bom karma e harmonia; desviar-se dele resulta em sofrimento.


Essa relação estabelece uma justiça cósmica impessoal: o universo responde com precisão às ações sem punições arbitrárias, mostrando que tudo está interligado e que a moralidade surge da própria ordem da realidade.


No Hinduísmo, Budismo e Jainismo, Dharma e Karma são centrais. Cumprir o dever pessoal (svadharma) preserva a ordem e gera karma positivo, enquanto práticas éticas e intenções corretas conduzem à libertação do sofrimento.


A interação entre Dharma e Karma mostra que, apesar das consequências do passado, o ser humano pode transformar sua vida. O Dharma guia a conduta, e o Karma reflete essa jornada, unindo liberdade e responsabilidade.


No fim, a união desses princípios convida a viver com consciência, ética e propósito. Cada ação molda o futuro, e viver em sintonia com o Dharma é essencial para o bem-estar individual e o equilíbrio universal.


10. O Dharma no Tempo: Degeneração e Restauração


Imagem representando o Tempo de forma cíclica, segundo a concepção dos ensinamentos Hindus.                                                                                                                                                                Créditos da imagem Pixabay por geralt
Imagem representando o Tempo de forma cíclica, segundo a concepção dos ensinamentos Hindus. Créditos da imagem Pixabay por geralt

Nas tradições religiosas de Bhārata (Índia), o tempo é cíclico. O Dharma se enfraquece nos tempos de decadência (Kali Yuga) e é restaurado por figuras divinas como os avataras de Vishnu.


Essa ideia reforça o caráter dinâmico e cíclico da Lei Cósmica, que sofre flutuações, mas é eterna em essência.


Nas tradições indianas, especialmente no Hinduísmo, o tempo é visto como cíclico, composto por fases de criação e renovação. O Dharma, embora eterno, varia em sua manifestação conforme o momento do ciclo, enfraquecendo ou sendo restaurado.


Diagrama mostrando de forma simplificada o ciclo de "Ascensão" e "Declínio" dos yugas de nosso planeta.        Imagem Cantinho dos Anciãos.
Diagrama mostrando de forma simplificada o ciclo de "Ascensão" e "Declínio" dos yugas de nosso planeta.      Imagem Cantinho dos Anciãos.

Essa visão se expressa nos quatro yugas Satya, Treta, Dwapara e Kali — que formam o Maha Yuga. Cada era representa um grau de afastamento do Dharma, sendo o Satya Yuga o mais puro e o Kali Yuga, o atual, o mais degradado.


No Kali Yuga, o Dharma está fragilizado, sustentado por apenas um pilar. Ainda assim, o ciclo prevê que o equilíbrio será restaurado por avataras divinos, como Vishnu, que descem à Terra para reestabelecer a ordem.


A cosmovisão indiana ensina que o Dharma é eterno, mas sua expressão muda com o tempo. A decadência, portanto, é parte de um ciclo contínuo de renovação e não um fim absoluto.


Esse entendimento revela o caráter adaptável do Dharma e oferece esperança, mesmo em tempos sombrios. O mal e a desordem são transitórios, e o equilíbrio sempre retorna guiado por uma ordem superior.


No fim, essa visão cíclica coloca o ser humano como agente ético num universo ordenado. Reconhecer a flutuação do Dharma é um chamado à responsabilidade, mesmo nas fases mais obscuras do tempo.


Créditos da imagem Pixabay por ciaorioris.
Créditos da imagem Pixabay por ciaorioris.

Ver o Dharma como uma Lei Divina ou Natural permite uma síntese entre o sagrado e o racional, entre a conduta moral e a ordem cósmica. Em vez de uma imposição externa, o Dharma emerge como a estrutura íntima da realidade, que pode ser percebida, vivida e realizada por meio da consciência e da prática espiritual. Ao buscar compreender e viver em conformidade com o Dharma, o ser humano não apenas encontra o seu lugar no cosmos, mas também contribui para a restauração da harmonia universal.


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Amor, Luz e Paz Sempre!

Salve a Grande Luz!



Ruan Fernandes

Equipe Cantinho dos Anciãos


Referências:


ACHARYA, Dharma Pravartaka. Introduction to Sanatana Dharma. Dharma Ascending Press, 2021.


ACHARYA, Dharma Pravartaka. Sanatana Dharma: The Eternal Natural Way. LIGHTNING SOURCE INC. 2015.


Besant, Annie. Karma e Dharma: a lei de ação e reação e a lei de evolução. Editora Teosófica. 2016.


BOMTEMPO, Márcio. Dharma Shastra Samhita. Editora Irradiacao Cultural, 1995.

Buda Sidarta Gautama. Dhammapada: O Caminho do Darma. Ensinamentos de Buda pela Tradução de Rafael Arrais. Textos para Reflexão, 2018.


HAAS, Simon. O Livro Do Dharma: A Arte De Fazer Escolhas Iluminadas. Tradução de Thaís Gonçalves Webster. Ed. Veda Wisdom Books, 2020.


KUMAR, Mukesh; SINGH, Ankita. Sanatana Dharma: a viagem para a paz interior e o despertar espiritual. Edições Nosso Conhecimento. 2023.

MAGALDI, Carolina Alves. Dharma. PARATEXTO EDITORA, 2023.


SANATANA Dharma. Sanatana Dharma: Understanding the Knowledge and Ethics of Hinduism. Rupa Publications India, 2013.


Notas:


[1] O Dharma é um conceito central na espiritualidade de Bharata, e seu significado vai muito além de leis ou normas jurídicas. Ele representa uma ordem cósmica universal, que sustenta toda a vida e à qual todos devem se alinhar, independentemente de casta ou classe. O Dharma envolve não apenas o dever individual, mas também a relação com os outros seres e com a natureza. Trata-se de uma ética fundamental e abrangente, presente inclusive em outras culturas ancestrais, como entre os aborígenes australianos. O Dharma é entendido como uma ordem essencial da existência, dada desde o princípio dos tempos.


[2] O termo utilizado para designar a "religião" de Bharata (Índia) foi criado por europeus da tradição judaico-cristã. Na verdade, trata-se de uma expressão pejorativa, pois descreve os praticantes como seres que “têm aparência de gente, mas não são gente”, por supostamente não possuírem alma — ou seja, seriam “pagãos ignorantes”, “restolho”, “gentinha”. No entanto, essa designação não se refere a uma única religião, mas sim a um vasto conjunto de tradições religiosas da Índia, que pode chegar a cerca de 30 mil formas diferentes de prática espiritual dentro do território de Bharata. Os próprios habitantes de Bharata chamam sua tradição religiosa de Sanatana Dharma, expressão em sânscrito — a antiga língua clássica dos Vedas — que significa “Ordem Eterna”. Essa era a expressão frequentemente usada por Mahatma Gandhi, como forma de resgatar a dignidade da tradição e afastar o sentido pejorativo atribuído pelos colonizadores europeus.


[3] Para os observadores e questionadores encontraram semelhantes desses conhecimentos com uma outra referência, o famoso complexo de templos de Karnak, no Kemet (Egito), na margem oriental do Iterú (Nilo), onde toda a estrutura dos prédios e os seus respectivos conhecimentos ensinados e vividos à época correspondiam ao de uma figura humana.



2 comentários


Alê_al62
Alê_al62
07 de set.

Vou ser bem sincera, meu... ainda me sinto no comecinho quando o assunto é dharma 🙈. Alguns trechos do texto são mais profundos do que consigo alcançar agora… parece que tocam num lugar que eu ainda não consigo explicar direito, mas que sinto que está vivo dentro de mim. Mesmo sem compreender tudo 100%, deu pra perceber que essa ideia do Dharma — como uma lei divina e cósmica que organiza a vida de forma justa e inteligente — tem muito a ver com esse chamado que venho sentindo: o de viver com mais verdade, mais sentido 🌿.

Mesmo com minhas dúvidas e limitações, esse artigo me deixou com uma vontade enorme de continuar explorando esse universo. Me sinto como…

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Joãof27
Joãof27
06 de set.

Mano, que texto profundo! Deu até aquela bugada boa na mente 😅! Tipo, o jeito como vocês explicam o lance do Dharma, eu já tinha lido umas coisas por aí, assisto muito coisa, mas essa lei cósmica que liga tudo é surreal de bonito. Na real mesmo. Tipo, dá pra sentir que tem MUITO mais aí do que só palavras... é tipo uma código pra entender a vida em outro nível.


Eu tô ainda engatinhando nesses assuntos, mas deu uma empolgada. vou ler mais vezes e estudar pra ver se vou além. Dá pra sentir o peso das informações, mas o texto é claro, dá pra sentir que é pra todo mundo. Vou seguir no corre, tentando captar pelo meno…

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