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As Quatro Nobres Verdades de Buda Shakyamuni

Crédito da imagem Pixabay por Lavillia


O caminho vivido por um Buda (Buddha - iluminado) é único em suas experiências, mas o processo do seu despertar é comum a todos. Pois, todos caminhamos para o nosso próprio despertar. Nesse artigo, compartilhamos, as "Quatro Visões" de Siddhartha Gautama, e a realização nos ensinamentos das "Quatro Nobres Verdades". Elas ilustram a jornada do despertar espiritual e da transformação interior. Ao reconhecer o sofrimento, compreender suas causas, perceber a possibilidade de sua cessação e seguir o caminho que leva a essa cessação, qualquer indivíduo pode trilhar o caminho da iluminação. Os ensinamentos do Buda, Siddhartha Gautama, permanecem como um guia atemporal para aqueles que buscam a verdade e a libertação do sofrimento.



सिद्धार्थ गौतम

Buda Śākyamuni, Siddhārtha Gautama


Crédito imagem Pixabay por DuongNgoc-HoangPhapPagoda

O Buda, Siddhartha Gautama, começou seu despertar há muitas vidas. Em sua última encarnação foi o príncipe Siddhartha Gautama, do clã e reino Xáquia (Śākya) no século VI a.C., em Lumbini, região que hoje corresponde ao Nepal. Filho do rei Suddhodana, Siddhartha foi criado em um ambiente de luxo e conforto, isolado das realidades dolorosas da vida.

Contudo, isso mudaria, quando aos 29 anos, ao sair do palácio em suas viagens, foi confrontado com realidades dolorosas da existência humana, como a velhice, a doença, a morte e a libertação. Visões que mudaram sua percepção da existência humana.


Essas experiências, conhecidas como as "Quatro Visões", despertaram nele uma profunda reflexão sobre o sofrimento e a busca por um caminho que conduzisse à superação desse sofrimento.



catvāri āryasatyāni

As Quatro Visões e o Despertar Espiritual

 

Pintura de um Templo Laosiano retratando os quatro mensageiros celestiais que o Bodhisatta Siddhartha Gautama (o futuro Buda) encontra em suas viagens fora do palácio: (1) um velho, (2) um doente, (3) um cadáver e um (4) monge errante.
Pintura de um Templo Laosiano retratando os quatro mensageiros celestiais que o Bodhisatta Siddhartha Gautama (o futuro Buda) encontra em suas viagens fora do palácio: (1) um velho, (2) um doente, (3) um cadáver e um (4) monge errante.

As Quatro Visões são um conjunto de experiências profundas que se tornaram relatos simbólicos ao ilustrarem o processo de conscientização do príncipe Siddhartha Gautama sobre a impermanência e o sofrimento da vida.


Tendo passado 29 anos de sua vida no palácio, as inquietações foram aumentando até que decidiu sair e ver o mundo com os seus próprios olhos. Apesar dos cuidados do pai para esconder os inúmeros problemas da realidade do mundo, a imagem do homem velho impactou o príncipe Siddhartha, que chegou a perguntar, inocentemente, ao cocheiro e amigo, Chandaka, sobre a imagem da condição daquele homem. E, chandaka, lhe explicou que todas as pessoas envelheciam. Assim, em pouco tempo, as viagens fora do palácio, levaram Siddhartha a testemunhar as visões de:



1 - Um homem idoso, representando a inevitabilidade do envelhecimento (Dukkha);







Um homem doente, simbolizando a fragilidade da saúde (Samudaya);


Um cadáver, evidenciando a certeza da morte (nirodha);



Um asceta, que, apesar de sua condição de sofrimento, buscava a libertação através da renúncia (Magga).





Para Siddhartha, as visões que presenciou despertaram uma profunda crise existencial, levando-o a abandonar sua vida de príncipe em busca de um caminho que o libertasse do sofrimento.


Imagem ilustrativa do príncipe, Siddhartha Gautama, deixando o palácio da cidade com o cocheiro, amigo e primeiro discípulo.
Imagem ilustrativa do príncipe, Siddhartha Gautama, deixando o palácio da cidade com o cocheiro, amigo e primeiro discípulo.

Acompanhado por seu fiel amigo Chandaka, deixou o palácio e seguiu inicialmente para Rajagaha, onde passou a viver como um mendicante, adotando uma vida ascética e pedindo esmolas pelas ruas.






Durante sua estadia na cidade de Rajagaha, os soldados o reconheceram e levaram-no levado até o rei Bimbisara. encantado com suas palavras e sua sabedoria, ofereceu-lhe o trono. Siddhartha, porém, recusou a proposta, prometendo apenas que retornaria ao reino de Magadha após alcançar a iluminação.


Deixando Rajagaha, ele procurou orientação espiritual com dois mestres eremitas. Primeiro, estudou com Alara Kalama (em sânscrito: Arada Kalama), cujos ensinamentos dominou rapidamente. Kalama o convidou a sucedê-lo como mestre, mas Gautama, sentindo-se ainda insatisfeito, decidiu seguir adiante.


Pouco tempo depois tornou-se discípulo de Udaka Ramaputta (em sânscrito - Udraka Rāmaputra), com quem atingiu elevados estados de consciência meditativa. Mais uma vez, foi convidado a assumir o lugar do mestre, e novamente recusou, percebendo que esse ainda não era o caminho da libertação definitiva.


Sujātā, esposa do chefe de família de Bārāṇasī, entregando o Kiripindu (arroz de leite) para Siddhartha. Ela na ocasião, o encontrou muito debilitado após quase se afogar no rio Neranjara devido as práticas austeras por alimentar-se muito pouco.
Sujātā, esposa do chefe de família de Bārāṇasī, entregando o Kiripindu (arroz de leite) para Siddhartha. Ela na ocasião, o encontrou muito debilitado após quase se afogar no rio Neranjara devido as práticas austeras por alimentar-se muito pouco.

Ao lado de cinco companheiros, liderados por Kaundinya, Siddhartha aprofundou-se em práticas austeras extremas, acreditando que a privação total — inclusive alimentar-se de apenas uma folha por dia — o levaria à iluminação. Enfraquecido, quase morreu afogado ao cair em um rio durante o banho. Esse episódio o fez repensar seu caminho.


Foi então que recordou um momento da infância em que, ao observar seu pai arando o campo, havia experimentado um estado de calma, concentração e felicidade interior — o jhana. Essa lembrança o levou a reconhecer que o equilíbrio, e não a extrema renúncia, poderia ser a chave para alcançar a verdadeira libertação.


Crédito da imagem pixabay por GDJ


Esse estado de equilíbrio é desenvolvido pelos ensinamentos do “Caminho Óctuplo” ou “Caminho do Meio”. Ele se inicia pelas progressivas práticas de Dhyāna (Jhana), tendo como meta última, o estado de Nirvana, uma experiência contínua do espírito, que vai além do cérebro e da matéria. Esses ensinamentos do Caminho Óctuplo abordaremos em artigo futuro, por agora, retomamos o estudo das “Quatro Visões”.



As Quatro Nobres Verdades: Os Ensinamentos do Mestre Siddhārtha Gautama


Créditos da imagem pixabay por hunghq88
Créditos da imagem pixabay por hunghq88

Desde o nascimento, o percurso da vida deste Mestre, nos revela como as nossas vidas são repletas de escolhas e possibilidades para as mais diversas direções. Contudo, dentre essas direções tomadas, no percurso da vida, muitas podem trazer consequências indeléveis para o espírito, tanto para o bem, quanto para o mal. E é aqui onde reside o ponto central no aperfeiçoamento de cada um de nós, o desenvolvimento da consciência.


Se negligenciado, o processo de desenvolvimento da consciência, produz inquietações e crises no âmbito espiritual que repercutem no emocional, como: o Estresse, a ansiedade, as crises existenciais, apenas para citar algumas. E, por sua vez, o emocional, também, ao ser negligenciado repercute no âmbito físico podendo gerar, até mesmo, as doenças psicossomáticas, doenças que decorrem de processos emocionais dolorosos, como: a depressão, a ansiedade, compulsões, dentre outras enfermidades psíquicas, as quais podem progredir em sintomas físicos, como gastrites, enxaquecas, e até mesmo o bruxismo.


Para evitar nos perdermos demasiadamente nas distrações do mundo e adiarmos os nossos compromissos interiores devemos, antes tomar os devidos cuidados em ouvir e aprender os ensinamentos dos Mestres Anciãos, pois as lições compartilhadas por eles são frutos de experiências vividas e que tiverem força suficiente para moldar a história e os povos do mundo. 


Buda sob a árvore Bodhi.                            Crédito da imagem pixabay por Jhollu7.
Buda sob a árvore Bodhi. Crédito da imagem pixabay por Jhollu7.

Portanto, ouçam com os ouvidos de ouvir e vejam com os olhos de ver, pois as “Quatro Nobres Verdades” são uma jornada que culminou na iluminação do mestre Siddhartha Gautama sob a árvore Bodhi, onde ele compreendeu as causas do sofrimento e o caminho para sua cessação.





As Quatro Nobres Verdades: O Caminho para a Libertação


Após sua iluminação, o Buda compartilhou com seus discípulos as Quatro Nobres Verdades, que formam a base de seus ensinamentos:


  1. A Verdade do Sofrimento (Dukkha)[1]: Reconhecimento de que a vida está permeada de sofrimento, insatisfação e impermanência.




"Esta é a nobre verdade do sofrimento: nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento, morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento; em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento."


Dukkha é a primeira das Quatro Nobres Verdades e descreve a natureza insatisfatória da existência humana. O termo "dukkha" é frequentemente traduzido como "sofrimento", mas sua abrangência é maior, incluindo também "insatisfação", "desconforto" e "imperfeição". O Buda afirmou que o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte são formas evidentes de sofrimento, mas também destacou que a união com o que é desagradável, a separação do que é agradável e a não obtenção do que se deseja são fontes de sofrimento. Além disso, os cinco agregados influenciados pelo apego — forma, sensação, percepção, formações mentais e consciência — também são considerados fontes de sofrimento. 


Essa visão do sofrimento não é uma visão pessimista da vida, mas um reconhecimento da realidade da experiência humana. Ao compreender que o sofrimento é uma parte intrínseca da existência, os praticantes podem começar a buscar uma maneira de transcender essa condição. O entendimento profundo de dukkha é essencial para o caminho budista, pois é a base sobre a qual as outras verdades são construídas.


  1. A Verdade da Origem do Sofrimento (Samudaya)[2]: O sofrimento surge do desejo (tanha), do apego e da ignorância.



Imagens representando a origem dos sofrimentos ou ilusões do mundo.                                            crédito das Imagens pixabay por Vika_Glitter - Graehawk - Franz26, respectivamente da esquerda para direita.
Imagens representando a origem dos sofrimentos ou ilusões do mundo. crédito das Imagens pixabay por Vika_Glitter - Graehawk - Franz26, respectivamente da esquerda para direita.
"Esta é a nobre verdade da origem do sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer, buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensoriais, o desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir."

A segunda Nobre Verdade identifica a origem do sofrimento, que é o desejo (tanha), traduzido como "sede" ou "ansiedade". Esse desejo se manifesta de três formas principais: desejo de prazer sensorial (kama-tanha), desejo de existência (bhava-tanha) e desejo de não-existência (vibhava-tanha). Esses desejos são alimentados pela ignorância (avijja) da verdadeira natureza da realidade e pela falsa concepção de um "eu" permanente. 


O Buda ensinou que o sofrimento surge quando nos apegamos a essas formas de desejo, criando um ciclo contínuo de insatisfação. Esse ciclo é conhecido como samsara, o ciclo de nascimento, morte e renascimento, perpetuado pela ignorância e pelos desejos. A compreensão de que o desejo é a raiz do sofrimento é crucial para a prática budista, pois permite que o praticante comece a trabalhar na eliminação dessas causas.


Além disso, o conceito de "trishna" ou "tanha" está intimamente ligado à ideia de "samskara dukkha", que se refere ao sofrimento sutil proveniente da natureza condicionada de todos os fenômenos. Essa forma de sofrimento é mais difícil de perceber, mas é igualmente importante para a compreensão completa da origem do sofrimento. 


  1. A Verdade da Cessação do Sofrimento (Nirodha)[3]: É possível extinguir o sofrimento ao eliminar suas causas.

 

Crédito da imagem pixabay por Jhollu7.
Crédito da imagem pixabay por Jhollu7.
"Esta é a nobre verdade da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios daquele mesmo desejo, o abandono e renúncia a ele, a libertação dele, a independência dele."


A terceira Nobre Verdade afirma que é possível cessar o sofrimento. Essa cessação é chamada de Nirodha e é alcançada através da eliminação do desejo e da ignorância. Quando o desejo é extinto, o ciclo de sofrimento também é interrompido, levando ao estado de nirvana, que é a libertação do samsara


O nirvana não é um lugar ou um estado de prazer sensorial, mas uma experiência de paz, liberdade e clareza mental. É a realização da verdadeira natureza da realidade, livre de ilusões e apegos. Alcançar o nirvana é o objetivo final do caminho budista, representando a superação completa do sofrimento.


É importante notar que a cessação do sofrimento não significa a eliminação da vida ou da experiência, mas a transformação da maneira como se percebe e se reage à experiência. Ao atingir o nirvana, o praticante transcende o sofrimento, vivendo em harmonia com a realidade tal como ela é.

 

  1. A Verdade do Caminho que Conduz à Cessação do Sofrimento (Marga)[4]: O Nobre Caminho Óctuplo é o meio para alcançar a libertação.


O Caminho do Meio é o processo de consciência e ação para extinguir o sofrimento na sua origem.                                                                   Crédito da imagem pixabay por TheDigitalArtist
O Caminho do Meio é o processo de consciência e ação para extinguir o sofrimento na sua origem. Crédito da imagem pixabay por TheDigitalArtist

"Esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, concentração correta."


A quarta Nobre Verdade apresenta o Nobre Caminho Óctuplo, que é o caminho prático para alcançar a cessação do sofrimento. Esse caminho é composto por oito práticas interdependentes, divididas em três categorias principais: sabedoria (visão correta e intenção correta), ética (fala correta, ação correta e modo de vida correto) e concentração (esforço correto, atenção plena correta e concentração correta).


O Nobre Caminho Óctuplo não é uma sequência linear de passos, mas um conjunto de práticas que devem ser cultivadas simultaneamente. Cada uma dessas práticas contribui para o desenvolvimento da mente e do caráter, levando o praticante a uma compreensão mais profunda da realidade e à superação do sofrimento.


Além disso, o Caminho Óctuplo é considerado uma prática ética e espiritual abrangente, que não se limita a uma vida monástica, mas é aplicável a todos os aspectos da vida cotidiana. Ao seguir esse caminho, o praticante desenvolve qualidades como compaixão, sabedoria e equanimidade, que são essenciais para a realização do nirvana.


Créditos da imagem pixabay por hunghq88
Créditos da imagem pixabay por hunghq88

As Quatro Nobres Verdades oferecem um mapa claro para compreender e transcender o sofrimento humano. Ao reconhecer a presença do sofrimento (dukkha), entender suas causas (samudaya), perceber a possibilidade de sua cessação (nirodha) e seguir o caminho que leva a essa cessação (magga), o praticante budista pode alcançar a libertação do samsara e viver em harmonia com a verdadeira natureza da realidade. Esses ensinamentos continuam a ser uma fonte de inspiração e orientação para milhões de pessoas em todo o mundo.


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Amor, Luz e Paz Sempre!

Salve a Grande Luz!


Ruan Fernandes

Equipe Cantinho dos Anciãos


Referências:


  1. Bodhi, Bhikkhu; Souza, Caesar. Nobres verdades, nobre caminho: A essência dos ensinamentos originais do Buda. Ed. Vozes, 2024.

  2. GYATSO, Geshe Kelsang. Introdução ao Budismo: Uma Explicação do Estilo de Vida Budista. Ed. Tharpa, 2012.

  3. Hanh, Thich Nhat. A essência dos ensinamentos de Buda: Transformando o sofrimento em paz, alegria e libertação. Ed. Vozes, 2019.

  4. Lam rim chen mo. El Gran Tratado de los Estadios em el Camino a la Iluminación. Vol I. Ed. Dharma, 2007.

  5. Lam rim chen mo. El Gran Tratado de los Estadios em el Camino a la Iluminación. Vol II. Ed. Dharma, 2009.

  6. Lam rim chen mo. El Gran Tratado de los Estadios em el Camino a la Iluminación. Vol III. Ed. Dharma, 2011.

  7. Rinpoche, Lama Michel. As quatro nobres verdades. Ed. Sinapse, 2017.

  8. Vieira, Jair Lot. Dhammapada: Os ensinamentos de Buda. Ed. Mantra, 2021.

  9. TRUNGPA, Chögyam. As 4 Nobres Verdades do Budismo e o Caminho da Libertação. Cultrix,  2013. 


[1] Dukkha é o termo utilizado por Buda para expressar a noção de "sofrimento". Embora esse sofrimento — entendido como dor física ou mental — represente uma das dimensões de dukkha, muitos budistas e estudiosos preferem manter a palavra em seu idioma original, sem traduzi-la. Isso porque consideram que nenhuma tradução consegue captar plenamente a complexidade e o alcance do conceito.


[2] Samudaya é a origem de dukkha e está relacionada com a Segunda Nobre Verdade. Ao atingir a iluminação, Buda, Siddharta Gautama, compreendeu profundamente o que é dukkha, como ela surge e o que a alimenta. Reconheceu que dukkha é impermanente, composta por causas e condições, e, por isso, passou a investigar essas origens. Ele percebeu que as causas de dukkha residem nas chamadas emoções perturbadoras, como orgulho, inveja ou ciúme, apego e desejo, carência e ganância, torpor, raiva e medo. Tais emoções, por sua vez, surgem da ideia de um "eu" — de uma identidade que, em seu esforço para se afirmar, busca se proteger, atacar ou desejar. Essa identidade ilusória, baseada na ignorância da verdadeira natureza de todos os fenômenos, é a raiz primordial do surgimento de dukkha.


[3] No budismo, nirodha, que significa "cessação" ou "extinção", refere-se à interrupção ou renúncia do desejo e da ânsia que surgem a partir da percepção e cognição não treinadas. Trata-se da Terceira Nobre Verdade, que ensina que o dukkha — o sofrimento, entendido como o ciclo contínuo de sensações, atração, repulsa e ação — pode cessar quando o desejo e o apego são abandonados. Essa cessação é alcançada por meio da prática do Nobre Caminho Óctuplo, que inclui: visão correta, intenção correta, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta. Ao atingir nirodha, o praticante alcança o estado de nibbana (em sânscrito: nirvana), que representa a libertação definitiva da escravidão ao ciclo incessante de reatividade — de desejar, rejeitar e agir impulsivamente. Segundo a monja Thubten Chodron, nirodha é o desaparecimento completo e irreversível de todas as experiências negativas e suas causas, de modo que elas não possam mais surgir novamente.


[4] O caminho budista para a libertação (mārga), também conhecido como despertar, é apresentado de diversas formas ao longo dos ensinamentos. A formulação mais conhecida é o Nobre Caminho Óctuplo, que, embora clássico, é apenas uma das muitas descrições encontradas no Sutta Pitaka. Dentro das diferentes tradições e escolas do budismo, há múltiplas interpretações e abordagens do caminho para a libertação. Os primeiros textos budistas, especialmente os Pāli Nikāyas, contêm várias exposições desse caminho, algumas das quais são destacadas a seguir.

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