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PAI JOSÉ e o ensinamento sobre as nossas senzalas de dentro e de fora - as ilusões do mundo


Da série de quatro artigos do Cantinho dos Anciãos: Vida e Sabedoria dos Vovôs e Vovós[1]


Imagem: Quadro Preto Velho, pintado a óleo, do pintor brasileiro Vicente Caruso (1912-1986).


Da série de quatro artigos do Cantinho dos Anciãos:

Vida e Sabedoria dos Vovôs e Vovós[1]



“Toda Senzala tem, tem choro, tem dor, mas tem amor pra mais de cem”

– Pai José



Em nossa primeira série de artigos do Cantinho dos Anciãos “Vida e Sabedoria dos Vovôs e Vovós” trazemos as histórias de Pai José, Vovó Maria Conga, Pai Cipriano e Negrinho Curador. Em cada história de vida um tema será abordado para aprofundarmos ensinamentos de grande sabedoria vivenciados e passados para as gerações futuras por irmãos e irmãs que cultivaram a simplicidade, a humildade e a universalidade ao longo de suas vidas.


As histórias são entrelaçadas pela vinda da Mãe África de forma abrupta através da escravidão e posteriormente pelo convívio com a violência dos maus tratos nas terras do Cruzeiro do Sul. No momento histórico a Fazenda Santa Clara, em Santa Rita de Jacutinga, no interior do Estado de Minas Gerais e na fronteira com o Estado do Rio de Janeiro recebeu em momento anterior dentre muitos negros Pai Cipriano vindo da Mãe África e no tempo do menino José, a Vovó Maria Conga que havia chegado a fazenda muita nova. Tanto Pai José quanto o Negrinho Curador nasceram de pais negros e na condição de escravos na fazenda.


Foto da Fazenda Santa Clara, no município de Jacutinga, Minas Gerais

Imagem: Créditos do site Minas Gerais do Governo Estadual de Minas Gerais.


O ambiente das fazendas e das senzalas era determinado por uma rotina quase ininterrupta de trabalho todos dias, como Vovó Maria Conga relata:


Quando a gente estava meio triste por que às vezes batia a tristeza. Ah! Dentro da mãe escravidão não era fácil não. A gente pensava ‘amanhã tudo de novo, a mesma coisa’. Aí nós ia arrumando os locais para dormir na senzala, né. Depois da nossa rezação, porque as rezas sem sempre confortavam, [pois] as doenças que tinha no pensamento [atrapalhavam], né. Aí os negros tudo pra lá e outros pra cá. Arrumando todas as coisas para dormir. (Vovó Conga, 23 de setembro de 2014)


A duríssima jornada de trabalho criava a exaustão do corpo e do espírito levando muitos ao desespero e outros a buscarem nas elevadas forças divinas e da natureza o conhecimento necessário para contornar as provas diárias de dor e sofrimento. Segundo relato de Vovó Maria Conga, na hora de dormir, nas senzalas Pai José chegava:


[...] depois que a gente tinha terminado as coisas no campo ou quando eu tinha terminado as coisas na cozinha da Casa Grande, ele chegava e perguntava pra gente: ‘Ocês estão prontos para dormir meus fios? Aí cada um dizia meio triste. ‘Nós estamos!’; ‘Nós estamos meu pai!’, ‘Aí, eu também lá no fundo, dizia nós estamos meu pai’. [Ele continuava] Vocês parem de mimimi! Para de querer dormir na vida! A vida não foi feita pra dormir, ocês tratem de ficar consciente e começar a entender que a vida tem que ser superada. Então chega de mimimi. Vocês podem tudo dormir e larguem esse mimimi no sono, porque amanhã eu quero vocês tudo forte pra lidar com a vida. Em seguida com a bengala dele punha ali as ervinhas no pito, porque não tinha fumo como é agora não! Não era assim não! Ele preparava as folhinhas secava e depois apertava com aquela mãozinha bem pequena, bem preta, bem véia, porque ele era véio, hehehe, Aí ele pegava e apertava bem aquelas folhinhas secas e depois misturava com umas coisas que eu não sei o que é, mas eu sei que quando a aquela fumaça exalava ali naquela senzala. Ih! Meu povo, como era bom! Limpava nós tudo. (Vovó Conga, 23 de setembro de 2014)

A pitada vinha com as ervas do mato colhidas com muito conhecimento e orientação espiritual para apaziguar e revitalizar corpo e espírito. Nunca para entorpecer, pois havia muito trabalho a ser feito logo cedo. As ervas preparadas emanavam aromas balsamizadores que reconfortavam e aliviavam as dores do corpo e repercutiam psiquicamente no equilíbrio emocional no momento do descanso e do sono revitalizador. Essa simplicidade para ajudar e a humildade para ensinar a todos é transmitida por meio da vida em cada experiência vivida com as pessoas em suas alegrias e suas dores.

O conhecimento das ervas para curas e tratamentos e o ensino das virtudes para fortalecer o espírito e as práticas no bem e no amor compreendem os mistérios da sabedoria dos vovôs e vovós. Nas palavras de Darcy Ribeiro, sobre os conhecimentos e mistérios dessa matriz cultural, que por tantas vezes teve o seu valor diminuído e até desprezado, é possível afirmar que (2014):


Consegue, ainda assim, exercer influência, seja emprestando dengues[2] ao falar lusitano, seja [...] com o pouco que pôde preservar da herança cultural africana. Como esta não podia expressar-se nas formas de adaptação [...] por estarem rigidamente prescritos pela estrutura da colônia como sociedade estratificada, a que se incorporava na condição de escravo –, sobreviveria principalmente no plano ideológico, porque ele era mais recôndito e próprio. Quer dizer, nas crenças religiosas e nas práticas mágicas, a que o negro se apegava no esforço ingente por consolar-se do seu destino e para controlar as ameaças do mundo azaroso em que submergira. Junto com esses valores espirituais, os negros retêm no mais recôndito de si, tanto reminiscências rítmicas e musicais, como saberes e gostos culinários. (RIBEIRO, 2014, p.91)

A busca e a aproximação desses conhecimentos, bem como o seu resgate não apenas cultural, mas principalmente devido a responsabilidade para com a espiritualidade, exigem muito compromisso e disciplina de cada um para o desenvolvimento gradual nos pensamentos e das práticas do bem e do amor ao próximo. Por isso a vida e a história de um preto velho e de uma preta velha nas linhas espirituais compreende um legado vivo de evolução espiritual posto à prova nos liames da fé. Liames esses marcados na ocasião por um dos períodos mais desumanos de nossa história, o período da escravidão[3].


De acordo com a pesquisa histórica do IBGE, Brasil 500 anos sobre a Presença Negra no território brasileiro e seu povoamento, o Brasil foi o país que mais promoveu o tráfico negreiro no continente americano entre os séculos XVI e XIX. Pouco mais de quatro milhões de homens e mulheres e o equivalente a uma terça parte de todo o registro do volume histórico do comércio negreiro. A origem da matriz negra advém majoritariamente de Moçambique, Angola, Congo e Nigéria (RIBEIRO, 2014, p.88).


Imagem: Créditos de wirestock em Freepik

Etnias e religiosidades muito diferentes vindas de um caldeirão cultural continental, a Mãe África. Seus dialetos diversos já criavam muitas divisões culturais no continente africano. Quando essa diversidade chegou no Brasil não foi acolhida e integrada com equilíbrio, muito pelo contrário. Ela foi forçada pela escravização de forma violenta e desumana a choques culturais ainda mais profundos. O propósito direto era a mão de obra para todas as formas de atividades braçais e vinculada direta e concomitantemente a geração de lucros para os seus senhores das fazendas de engenho e de café.


Fotos: Na imagem da esquerda a fachada da Casa Grande e na imagem à direita o prédio da senzala com Janelas falsas, na Fazenda Santa Clara em Santa Rita de Jacutinga.

Imagens: Créditos para o site Santa Rita de Jacutinga Turismo.

As fazendas compreendiam a casa grande e a senzala[4] um conjunto simbólico de estruturas institucionais para todos os homens e mulheres escravizados. Esse complexo de estruturas foi aplicado, tanto nas fazendas cafeeiras do Sudeste do país como nas açucareiras do nordeste.

Imagem: Créditos da foto para Márcio Lucinda-Sauá Turismo.


A história de Pai José se passa nesse contexto no último século da escravidão no Brasil, por volta do século XIX. Segundo relato de Carlos de Ogum (2023), Pai José possivelmente nasceu de pais negros e na condição de escravos de uma mesma fazenda cafeeira[5] na região sudeste do Brasil. Pai José é um nome relativamente comum na linha da Umbanda[6]. No batismo dos negros escravos[7] antes de chegarem as fazendas, o nome de origem era alterado para um nome português, por isso muitos homens e mulheres escravos passaram a ter nomes de orientação católica como José, Maria, Joaquim, João, Pedro, dentre outros. Para diferenciá-los lhes era acrescido a origem, Joaquim de Angola ou Maria de Angola, e ainda, João do Congo, e assim por diante.


Pai José, talvez, não tenha tido a oportunidade de ganhar um nome de sua herança cultural ao nascer em terras brasileiras. Contudo, desde muito novo viu e vivenciou as mesmas dores e sofrimentos compartilhados por todos os irmãos e irmãs escravizados nas senzalas. Ele sentiu o peso da intolerância e da maldade exercida continuamente pelos pensamentos e as ações violentas dos senhores escravocratas e seus capatazes.


Não se sabe nada sobre o seu pai, mas, segundo o relato de Carlos de Ogum (2023), a sua mãe carregava de sua origem conhecimentos e uma grande fé nos Orixás. Esses conhecimentos lhe revelavam grandes coisas e lhe fortaleciam por meio da força vibrada pelas orações. Uma mulher de grande fé e grande amor pelos seus Orixás que constantemente se dirigia em cânticos e preces entoadas em meio as rogativas e súplicas renovando sua fé no porvir e nos Orixás para que pudessem aliviar os sofrimentos e as dores de todos aqueles entrelaçados pela vida e que hoje compunham o seio de sua família na senzala.


Após um tempo, a sua mãe se ilumina de alegria com a sensação de ter recebido dos Orixás a benção da gestação. Durante esse período, em um dia em suas orações de súplicas, mas, agora, também, de agraciamentos pelo momento vivido, essa alegria é renovada por uma revelação enquanto dormia.


Foto: Mulher com criança no colo, São Paulo-SP, 1910

Ao adormecer, após as orações, a figura de um homem negro lhe aparece e em sua voz firme anuncia que de seu ventre nasceria uma criança que no futuro traria esperança para todos os irmãos e irmãs daquela fazenda. A criança, dizia o homem, seria um grande benzedor para as enfermidades e dores e, também, um condutor amoroso para os encaminhamentos de muitos espíritos atormentados, confusos e até obsessores vinculados as provas e as circunstâncias, as quais, todos estavam interligados no ambiente daquela fazenda (OGUM, 2023).




Imagem: Retrato do fotógrafo italiano e brasileiro Vicenzo Pastore (1965-1918) na cidade de São Paulo na segunda metade do século XIX e início do século XX.


Esse dom e essa luz da criança poderão ajudar há muitos e a todos que a ele recorrerem. O homem negro para, por um instante e olha para a face radiante da mulher e mãe, em seguida complementa, todavia, uma prova difícil virá quando tiver a idade de sete para oito anos. Segundo o relato de Carlos de Ogum (2023), nessa “[...] idade ele poderia ser tomado pela força do mal, e essa força faria de tudo para que a luz espiritual do menino se apagasse.”


Em poucos meses a criança nasceu. Na senzala, nos braços de sua mãe todos contemplavam uma energia que encantava a todos vindo do rosto feliz e angelical da criança. Os negros rodeavam e se revezavam cuidado e auxiliando a mãe com o menino. A criança cresceu com o olhar atento de sua mãe que não esquecia, nem por um momento, as recomendações recebidas pelo homem negro em seus sonhos. Ainda mais, porque o menino José era uma criança que naturalmente buscava ajudar as pessoas que precisassem, por estar vigilante e sempre pronto chamava a atenção de sua mãe e de todos como compartilhava pela prática de suas ações grande gentileza e simpatia.


Não é por acaso que na sabedoria dos vovôs e vovós há sempre os dizeres vindos da mensagem crística: “Não viemos para sermos servidos, mas antes para servirmos” (Marcos, 10,45).


Foto: Mulher rezando com criança chorando

O tempo passa e a criança agora tem oito[8] anos de idade. O coração apreensivo de sua mãe torcia para que o menino José passasse ileso pela difícil prova que lhe havia sido anunciada ainda quando estava em seu ventre. Contudo, pouco tempo após ter completado seus oito anos, as provações vieram em forma de hemorragias sem qualquer motivo físico visível, pois tinha origem em grandes manifestações psíquicas e espirituais que debilitaram o seu corpo.





Imagem: Retrato do fotógrafo italiano e brasileiro Vicenzo Pastore (1965-1918).

Seus pais muito aflitos procuram ajuda com os feitores e estes negaram, e ainda, ameaçaram com o tronco. Os pais se uniram com todos os irmãos de senzala e se revezaram com muitas orações e preces, enquanto buscavam a interseção de um velho negro da fazenda, que era benzedor, curador e com conhecimentos de magia, ele já percorria atendendo inúmeras outras fazendas na região, seu nome era Pai Cipriano.


O momento dessa interseção é marcado a partir de uma escolha de coragem, sacrifício e muito amor deste velho negro. A cura para o menino em estado gravíssimo e evoluindo rapidamente para um quadro ainda mais difícil exigiria conhecimentos muito mais profundos do que Pai Cipriano estava acostumado.



Os detalhes e o aprofundamento desta história do menino José estarão no segundo artigo dessa série A história de Pai Cipriano e o mistério da magia da Luz.



Pai Cipriano verifica espiritualmente junto ao menino as grandes dificuldades para o seu tratamento e roga aos Orixás pela orientação que vem com enorme sabedoria do centro das matas, da pureza dos Elementais, Elementos e Encantados[9]. O caminho para as ervas estaria na mata mais fechada e durante sua ausência aplicou uma benzedura para estabilizar os efeitos no corpo do menino e pediu para que todos ficassem em oração até ele voltar. O caminho indicado pelos Orixás em suas visões era através da mata. Em determinado momento, ao adentrar a floresta, parecia outra realidade dimensional acessada por permissão dos Elementais, como se tivesse passado por um portal, e após encontrar as ervas, o caminho de volta, se mostrou muito difícil, mas no final chega na fazenda, apesar de bastante debilitado diante das provações. O banho com as ervas é dado para prepara-lo energeticamente para a benzedura que é aplicada em seguida. Enquanto o menino se recupera o chá lhe é ministrado de tempo em tempo para dissipar os últimos efeitos das ações psíquicas.

Imagem: Créditos de Sketchepedia em Freepik


Após essa dura prova de vida diante de resgates difíceis e sacrifícios José tem o seu espírito liberto provisoriamente de amarras do passado que se entrelaçavam com irmãos ainda se mantendo na obscuridade. A gentileza e a satisfação natural que José possuía por ajudar aqueles que necessitavam, agora, recebia o emprego de novos conhecimentos e futuras habilidades advindos das mãos hábeis de seu mestre Pai Cipriano. Nos dizeres de Carlos de Ogum (2023): “A partir dessa cura, José se dedica a aprender todas as magias, benzeduras e a arte de curar através de ervas e raízes, assim como seu mestre e salvador o velho negro Pai Cipriano”.


“Toda Senzala tem, tem choro, tem dor, mas tem amor pra mais de cem”

– Pai José –


A emancipação das nossas senzalas interiores e exteriores está em convertê-las em santuários de luz libertando cada um de nós do cativeiro da ilusão. O sentido depreendido das palavras de Pai José está na sabedoria de quem vivenciou as experiências do sofrimento, das dores, das escolhas difíceis em momentos cruciais e da coragem para superar os grandes sacrifícios para que a luz do Divino Amor floresça no âmago do espírito. São palavras que representam a magnitude real de como o amor é desenvolvido em todos nós e, por isso, quanta força de vontade é necessária para nós firmarmos continuamente os fundamentos desse amor na comunidade ao nosso redor.


Para cada um de nós que eleva essas fundações naturalmente expande as vibrações de pensamentos e atitudes para outros. Essa expansão dos pensamentos e das ações é feita na medida dos conhecimentos adquiridos e do aprimoramento da consciência na simplicidade, na humildade e na universalidade. Preceitos e virtudes primordiais advindos dos Mestres Anciãos e reverberado em toda a Senda da Luz para todos os seres que escolherem o caminho da evolução espiritual.


Essa foi a escolha de Pai José, o menino que se transformou em homem feito, forjado na labuta da fazenda e no trabalho solidário junto aos irmãos e irmãs de senzala. Gradualmente foi sendo reconhecido pelo esforço incansável e por não desistir de nenhum obstáculo, principalmente quanto aos cuidados e tratamentos espirituais de quem necessitasse, como seu mestre Pai Cipriano, vivenciou e ensinou. Pai José devolvia a violência do mundo ao seu redor com simplicidade e compreensão e suas emoções eram demonstradas sempre “com fala mansa, um tímido sorriso e um olhar penetrante, que encantava a todos que o procuravam, sejam negros escravizados, capatazes ou ainda os próprios senhores donos de escravos [...] Ele era realmente diferenciado, [...] tinha um maravilhoso dom de acalmar dores, tanto do corpo físico quanto do espírito.” (OGUM, 2023).


Em dado momento na formação de Pai José uma segunda grande história cruza seus caminhos. A história da mulher negra e na condição de escrava da fazenda, que ficaria conhecida por sua determinação, conhecimento e coragem no auxílio de outros irmãos e irmãs não só da senzala, mas para além dela, Maria Conga, mais conhecida hoje, nas linhas da Umbanda e para além dela, como Vovó Maria Conga. A companheira de vida de Pai José compartilharia a dura jornada por longo tempo, e neste percurso de vida, ainda haveria um grande encontro com a terceira história entrelaçada no caminho de Pai José, a do “Negrinho Curador”.


As histórias de “Vovó Maria Conga” e do “Negrinho Curador” estarão em breve no terceiro e no quarto artigo da série do Cantinho dos Anciãos “A vida e a sabedoria dos Vovôs e Vovós”.


Passados alguns anos, com inúmeras histórias e trabalhos ainda por serem contados e compartilhados no momento certo por Pai José e por todos aqueles que fizeram parte desses momentos, um evento é destacado dos demais, principalmente, devido a sua correlação com os acontecimentos de sua primeira grande provação em vida.


Os irmãos espirituais[10] na condição de obsessores aguardavam brechas na guarda espiritual de Pai José para tentarem novamente uma incursão em seus objetivos iniciais, como havíamos acompanhado anteriormente. Contudo, os anos foram transcorrendo e Pai José foi se fortalecendo na serenidade dos pensamentos, dos atos e na ajuda para com todos. Assim, os irmãos ainda sujeitos a obscuridade manifestadas por seus pensamentos e atos, não alcançavam e nem logravam êxito em seus objetivos de desviar o caminho de vida de Pai José.


Ao constatarem, reiteradamente, as dificuldades, praticamente, intransponíveis em prejudicar, o velho negro em sua serenidade, a legião de irmãos então passou a analisar quem no entorno de Pai José poderia ser atingido. A pessoa escolhida deveria provocar uma brecha e um desequilíbrio suficiente em Pai José para que ele caísse em uma armadilha. Eles aguardaram com paciência, o dia e a hora certa, quando a maioria dos negros na senzala estivessem mais fragilizados, diante inclusive, de outros fatores externos além do ambiente hostil dos maus tratos diários, como por exemplo, a mudança climática.


Assim, em determinado dia em que todos os negros estavam reunidos à noite na senzala, uma atmosfera coletiva de energias mais fragilizadas era formada por decorrência do sofrimento, dos pensamentos pesarosos e ainda acrescida pelo frio quase congelante de uma noite de inverno com muitas chuvas. Os Negros, sem praticamente nenhuma coberta e ainda à mercê de um chão batido com algumas poucas tábuas frias espalhadas em partes isoladas do chão, tentavam com muita dificuldade ficarem unidos para se aquecerem ao redor de pequenas fogueiras no barracão da senzala.


Homens, mulheres e crianças na condição de escravos ao redor de uma fogueira

Imagem: Recorte da tela "Mercado de escravos" do pintor Johann Moritz editada por nós em outra imagem de fundo que mostra um galpão de senzala em seu ambiente interno.


Em uma dessas fogueiras estava Pai José vigilante, mas já demostrava sinais de cansaço e se preparava para adormecer, quando sentiu algo estranho no ar e enquanto procurava com seu olhar percebeu em seu “afilhado e protegido”[11], algo estranho. O menino era aquele que todos chamava de “Negrinho”. Pai José nesse momento se aproximou e começou a sondar o menino. Ao descobrirem no coração de Pai José um amor paternal com o “Negrinho” a legião direcionou todos os esforços para dominar psiquicamente o menino da mesma forma como haviam feito no passado com Pai José.


O objetivo dos irmãos aprisionados em suas ilusões do passado entre pensamentos vingativos e de rancor era desestabilizar o emocional de Pai José plantando a semente da desesperança com a fatalidade do menino, que abalaria sua fé e o seu trabalho luminoso na solidariedade para com todos (OGUM, 2023). A legião de irmãos rapidamente envolvera o espírito do menino “Negrinho” isolando-o psiquicamente e espiritualmente, o máximo possível, do seu corpo físico. As energias densificadas aos poucos foram expandindo o domínio até que muito fragilizado em suas energias fosse perdendo a sua vitalidade corpórea.


Pai José não tinha tempo a perder, a situação ficou crítica muito rapidamente. O espírito do menino possivelmente tinha sido levado para regiões obscuras. Por impulso sente que precisa fazer algo profundo e urgente para que o corpo do menino sustentasse a sua vitalidade e ganhasse um pouco mais tempo no tratamento de resgate de reconexão do espirito do “Negrinho”. De acordo com o relato de Carlos de Ogum (2023), Pai José, num gesto de profundo amor e sacrifício pelo afilhado aproximou-se dele e:


[...] se abraçou com ele e se elevou em orações, e nesse instante entendeu que a alma do pequeno tinha sido entregue a escuridão, [...] O negro José, ainda abraçado com o corpo inerte de seu afilhado, clamou por Oxalá, [e] pediu entendimento e sabedoria ao seu mestre Pai Cipriano. [...] e nesse momento ouviu a sua voz serena lhe dizendo, que a força de sua fé o levaria a salvar a alma já perdida da criança, ele deveria [portanto] fortalecer suas forças, clamar a Deus com toda a força de sua fé, e deixar que seu espírito tomasse o corpo do menino. Fazendo isso ele teria como manter uma alma no corpo inerte da criança, e da mesma forma teria como levar sua alma as profundezas escuras para resgatar o seu afilhado “Negrinho”. Mas de forma nenhuma deveria enfraquecer sua fé, pois assim sua alma ficaria presa dentro da fortaleza obscura dos obsessores, e ele acabaria escravizado por Kiumbas e Zombeteiros (OGUM, 2023).


Sem dúvida alguma havia muitos riscos envolvidos e a recomendação primordial era uma atitude de fé inabalável para que ambos pudessem retornar em segurança. Aos nossos olhos terrenos, tudo o que estava para ocorrer se revelaria na imagem de um Pai desesperado abraçando a criança e tentando com o próprio calor corpóreo salvar das garras do intenso frio o inerte corpo do afilhado em condições que caminhavam para uma possível hipotermia. Contudo, o olhar espiritual mediúnico de Pai José revelava, uma situação ainda maior diante das circunstâncias, um possível sofrimento ainda mais doloroso para o espírito da criança. O seu espírito poderia perder a luminosa missão que teria pela frente.

Pai José se concentra, eleva seus pensamentos a Luz Maior e segui as orientações de seu mestre Pai Cipriano. O espírito se expande e divisa com o corpo inerte do seu afilhado ao entrar em transe profundo. No transe, o seu corpo se agita ficando trêmulo e seus olhos semicerrados revelam o desconforto psíquico-espiritual com a região e o ambiente de energias densificadas na escuridão. O foco é ir com fé em busca do regate da alma do pequenino (OGUM, 2023). A região escura pesa e drena com muita rapidez a energia espiritual e produz efeitos densos nos sentidos criando ilusões que abalam ainda mais o emocional. A concentração deve ser precisa e contínua.

Imagem: Créditos de wirestock em Freepik


Não havendo espaço para erro avançava, mas em pouco tempo foi surpreendido por muitos irmãos. Era a legião que o aguardava ansiosamente para enfraquece-lo e aprisiona-lo. A concentração desses irmãos obscurecidos recaía sobre o espírito de Pai José para desconcentrá-lo e leva-lo para caminhos com ainda mais escuridão. Em alguns desses caminhos eram ampliados os odores fétidos para provocar uma enorme confusão na sua psique. Durante o percurso, em cada passo, rezava e orava enquanto lembrava dos conselhos de Pai Cipriano que, agora, ressoavam em seu espírito com uma vibração sutil. A fortaleza de labirintos sustentada por gerações de formas pensamento e formas sentimento, numa enorme egrégora obscura desses irmãos era superada com muito esforço e fé na Luz Maior, “[...] mostrando que sua fé era maior que qualquer coisa” (OGUM, 2023). Fazendo jus a pergunta, geralmente feita, pelos Vovôs e Vovós nos tratamentos e encaminhamentos: “Quem pode mais do que Deus, meus filhos?” e a resposta afirmativa e imediata é sempre: “Só Deus e mais ninguém!


Quando os caminhos foram se abrindo o espírito do menino se revelou em um dado local da fortaleza labirinto que seria difícil localizar especificamente. A alegria de reencontrá-lo e trazê-lo para perto foi interrompida, apenas pela ação coletiva da legião de irmãos que, agora, mais desesperados, por presenciarem diante deles a frustação de seus objetivos, avançavam sem qualquer estratégia atacando de todas as frentes e das mais diversas formas. Esses inúmeros irmãos eram Eguns[12], Kiumbas[13] e Zombeteiros[14], apenas para exemplificar alguns (OGUM, 2023). Nada adiantou, pois firmado na fé da Luz Maior, a Luz da Grande Luz, o espírito de Pai José se elevou novamente e pede, com simplicidade e humildade, para manter sua fé e assim conseguir sair da fortaleza escura junto do espírito do menino.


Imagem: Créditos de kjpargeter em Freepik

Em meio a escuridão, o espírito de Pai José sente um ardor profundo de fé renovada quando naquele momento uma grande luz branca se revela e se expande envolvendo-os naquele ambiente dimensional astral. Ele abre os olhos lentamente e ouve do cerne da luz branca uma voz confiante e já conhecida lhe dizendo para continuar seguindo em frente junto com seu afilhado (OGUM, 2023). A voz firme de Pai Cipriano em pouco tempo se apresentou naquele ambiente com uma legião de irmãos, espíritos guerreiros da Luz, os Exus[15], que por sua vez eram comandados pelo irmão Exu Tranca Ruas[16]. Na medida em que se aproximaram foram ganhando terreno e dando proteção ao espírito de Pai José e seu afilhado.


O retorno dos dois espíritos aos seus corpos físicos daquele ambiente denso e obscurecido fez com que Pai José saísse do seu transe e recuperasse a consciência. O abraço paternal de Pai José é contemplado pelo rosto feliz do “Negrinho” que olha atentamente para o rosto esgotado de Pai José. O menino abre um sorriso de agradecimento diante da boa vontade, da fé e do amor manifestado pela coragem e pelo sacrifício deste velho negro, que não pensou nem se quer uma vez, diante da necessidade e do compromisso, em salvar o espírito do seu afilhado das provações e do vale da escuridão da legião de irmãos obsessores (OGUM, 2023).


Pai José, segundo o relato de Carlos Ogum (2023), em seguida, se “[...] ajoelhou e agradeceu a Zambi, nosso Pai Maior. Agradeceu, também, a seu mestre, Pai Cipriano, e a toda legião de trabalhadores da luz, como os irmãos Exus”.


A história de Pai José possui vários outros capítulos que as poucas palavras transcritas nesse pequeno artigo não são capazes de esgotar. Mas a lição ensinada e compartilhada pela vida, a vivência e as atitudes renovam em todos nós o espírito luminoso dos princípios da simplicidade, humildade e universalidade elevados e firmados através de tão vigoroso empenho no sacrifício de coragem e luz por amor ao próximo.

Imagem: Créditos para Freepik

Todos os países, as culturas, as etnias, os lares, os pensamentos e ideias, todos nós temos o compromisso de olharmos atentamente para as nossas senzalas interiores e exteriores, e buscarmos promover mudanças que nos libertem das ilusões em que vivemos.


Imagem: Créditos para Freepik

Para cada um de nós comecemos por enxergar o quanto pode ser feito pelo outro que está em nossas famílias, os nossos familiares e ao mesmo tempo, por todos aqueles que necessitam de ajuda ao nosso redor. Não se esqueçam que a sabedoria dos Vovôs e Vovós (Pretos e Pretas Velhas) começa pelas pequenas coisas. Está nos detalhes da vida a essência para o despertar amoroso que direcionará a transformação das nossas próprias vidas.


Por tanto, observem ao seu redor atentamente, e reduza as ilusões que tapam os seus olhos e observem o quanto de dor, de sofrimento, de ódio, de raiva, de vingança, de angústia, de ansiedade, de dúvidas e desesperanças que só poderão ser libertadas e contornadas com pequenos gestos de respeito, gentileza, compreensão, empatia e amor todos os dias em todos os lugares.


As pequenas atitudes com simplicidade, humildade e universalidade realmente promovem a alquimia da Luz em nós. Em outras palavras de sabedoria de Pai José, ele assenta dizendo: “Aprenda, meus filhos, que de nada serve ser luz se não iluminar o Caminho dos Demais”[17]


Adorei as Almas!

Epà hey Bàbá


Amor, Luz e Paz Sempre!

Salve a Grande Luz!



Imagem: Créditos para Freepik


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Ruan Fernandes da Silva

Equipe Cantinho dos Anciãos



Como citar esse artigo: SILVA, Ruan Fernandes. PAI JOSÉ e o ensinamento sobre as nossas senzalas de dentro e de fora, as ilusões do mundo. <>. Acessado em (insira aqui a data que você pesquisou esse artigo, por exemplo: Acessado em 15 de julho de 2023).


Fontes:

Andrade, Vinicius. O Silva que nos une - A trajetória de um dos sobrenomes mais comuns do Brasil. Portal Claro! - <http://www.usp.br/claro/index.php/tag/silva/>. Acessado em 10 de julho de 2023.

CAMPACCI, Claudio. Os sobrenomes mais comuns do Brasil. Primeira edição. Publicação autônoma. 2012.

CONGA, Vovó Maria. Os laços do destino. Canal do Youtube da médium Marcia Moraes. <https://www.youtube.com/watch?v=S-781YlCgmU&t=199s>. Acessado em 10 de julho de 2023.

FILHO, Duílio Battistoni. A escravidão dos negros em Campinas. novembro 16, 2017 IHGG Campinas. <https://ihggcampinas.org/2017/11/16/a-escravidao-dos-negros-em-campinas/>. Acessado em 10 de julho de 2023.

LOPES, Manoel. Exu Pagão e Exu de Lei. <https://www.blog.mataverde.org/exu-pagao-e-exu-de-lei/>Acessado em 14 de outubro de 2018.

PIRES, Fernando Tasso Fragoso. As grandes fazendas de café. https://www.abic.com.br/tudo-de-cafe/as-grandes-fazendas-de-cafe/. Acessado em 09 de julho de 2023.

REIS, J.J. A presença negra: encontros e conflitos. In: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro, 2000.

SOUZA, Lucas Irain – Babá Alá Omín. 24 de agosto: saiba quem é Exu Tranca Rua na Umbanda. https://dol.com.br/noticias/espiritualidade/767768/24-de-agosto-saiba-quem-e-exu-tranca-rua-na-umbanda?d=1. Acessado em 14 de julho de 2023.

Notas: [1] Nós optamos pela denominação de Vovôs e Vovós no título da série de artigos, tendo em vista, a universalidade da linguagem, pois Vovôs e Vovós possui um maior alcance e inclusão de outras entidades que se reconhecem como Anciãos, bem como, de outras Tradições culturais e religiosas.

[2] Contribuir com elementos de fala e modificações de linguagem.

[3] Sabe-se que a palavra escravidão significa a posse do homem pelo homem, juridicamente sancionada e que remonta a épocas bem recuadas. A civilização romana, por exemplo, subsistiu por meio dela. A escravidão moderna inaugurada sob o signo do capitalismo tem como objetivo básico a produção para o mercado mediante o lucro. No Brasil, no início de sua colonização e dada à carência de mão de obra na lavoura, todos os grupos sociais se uniram na manutenção do sistema, contando com a colaboração da Igreja que ensinava ao cativo a ver no seu senhor, um pai, alguém que ele deveria amar e respeitar, oferecendo-lhe o sacrifício do seu trabalho e do seu suor. O padre Antônio Vieira, no século XVII, dirigindo-se aos negros de um engenho no dia de São João Evangelista, dizia-lhes: “Não há trabalho nem gênero de vida no mundo mais parecido à Cruz e à Paixão de Cristo que o vosso”. (Filho, 2017) [4] É importante acrescentar que existia, segundo Fernando T. F. Pires, uma espécie de “quadrado funcional” sempre presente nas fazendas coloniais brasileiras, principalmente as produtoras de café. Nas palavras do autor eram: “O conjunto de edificações, notadamente a casa-sede, a senzala, o engenho de café e a tulha, formavam usualmente um “quadrado funcional”, denominação dada à forma de implantação das mesmas no sítio natural, tendo o terreiro de café, ao centro, como referência.” A sua disposição, ainda segundo o autor, era em muitos locais: “[...] modificada ou se ajustava ao porte da propriedade quando, por exemplo, existiam mais de um terreiro ou a topografia do sítio apresentava desníveis” (PIRES, 2021) [5]Segundo orientação dos Vovôs e Vovós passada a nós era a Fazenda Santa Clara, em Santa Rita de Jacutinga, no Estado de Minas Gerais. [6]Segundo Pai Léo Del Pezzo, o nome mais conhecido é Pai José de Aruanda, mas há, também, vários outros com seus respectivos nomes e histórias de vida, Pai José de Angola, Pai José da Guiné, Pai José das Almas, Pai José de Congo, Pai José Cambinda, Pai José Nagô, Pai José da Cachoeira entre outros Pai José. [7] Segundo historiadores do Museu da Imigração de São Paulo no departamento de História e Genealogia os homens e mulheres na condição de escravos que aportavam nos portos do Brasil eram rebatizados com nomes e sobrenomes portugueses por padres católicos. Os nomes e principalmente os sobrenomes eram comumente vinculados aos nomes e sobrenomes dos seus proprietários por contrato mediante a legislação escravocrata do período. Segundo os estudiosos o sobrenome mais comum entre os brasileiros nos dias atuais decorre deste processo, pois o sobrenome “Silva” era um sobrenome de muitos senhores de escravos. Literalmente toda a liberdade de origem era coercitivamente retirada, inclusive o nome. Outro aspecto a considerar é a constatação, segundo pesquisa feita por Claudio Campacci em seu livro Os Sobrenomes mais comuns do Brasil, de que havia uma divisão dos portugueses que chegavam no Brasil e registravam em seus nomes um acréscimo de sobrenome, tanto para aqueles que ficaram no litoral acrescendo o sobrenome “Costa”, como aqueles que iriam para o interior do país e mais próximo das florestas, com o acréscimo de Silva que significa a partir do latim Selva.

[8] Em conversa mediúnica com Pai José ele fez questão de confirmar que estava no momento desta provação com oito anos de idade. [9] Em todas os povos e culturas do mundo ao longo da história registraram e contaram lendas e mitos sobre seres extraordinários que povoam a natureza. Seja pela literatura (Irmãos Grimm) ou por alquimistas (Paracelso) ou, ainda, por pesquisadores (Rudolf Steiner) a busca pela melhor aproximação e compreensão revelou conhecimentos iniciais que indicam graus de grande pureza a partir desses seres. Ainda que o universo dimensional desses seres da natureza seja tão particular em relação a nós, há muitas relações e interações construídas ao longo tempo entre esses dois mundos. Nas Tradições dos grandes conhecimentos há muito respeito aos Elementais, Elementos e Encantados, principalmente, devido a conexão dimensional com ensinamentos, sabedorias e curas revelados por portais dimensionais que nos reconectam ao que há de mais sublime e essencial na natureza e em nós mesmos.

[10] A orientação das Vovós e dos Vovôs para todos os momentos e não apenas para os Tratamentos e Encaminhamentos espirituais é de que devemos sempre no dirigir a todos por irmãos e irmãs. E isso incluí, obviamente, os irmãos e irmãs ainda com pensamentos e atitudes obscurecidas. Lembrem-se, nós somos uma fraternidade cósmica, uma cósmica que compreende uma pluralidade de mundos e dimensões. [11]Segundo Carlos Ogum (2023), o Negrinho que nasceu na Fazenda Santa Clara por pais negros e na condição de escravos era protegido e afilhado de Pai José, mas também, tinha sido adotado por todos os outros devido ao seu carisma e o seu “[...] sorriso sincero e cativante, uma criança realmente encantadora.

[12] Eguns é um termo amplo e de raiz africana, mais precisamente, do Iorubá para designar todos os espíritos desencarnados, sejam eles evoluídos ou não. Na condição negativa do termo estão vinculados e nessa sintonia as almas e espíritas desorientados, muito aflitos e desejosos de qualquer orientação. Todavia, a frequência de seus pensamentos tortuosos não os liberta do que foram e do ainda desejam da vida material, principalmente, sobre os desejos e sentimentos. Nessas condições encontram no astral um ambiente que potencializa ainda mais essas frequências ilusórias de desejos e sentimentos entrando, consequentemente, na sintonia de outros que desejam fazer de tudo para manter essas mesmas ilusões. [13] Os Kiumbas, segundo as matrizes africanas e as religiões afro-brasileiras, são Eguns com pensamentos, emoções e práticas ainda muito grosseiras e violentas. Eles possuem uma sintonia com traços arcaicos de outras vidas ligadas por ambições, corrupções e degenerações manifestas pelas guerras, discórdia, ganância por poder e status quo, vingança e grandes concentrações de ódio e rancor. São todas posturas atrasadas e que engessam a evolução espiritual. A consequência dessa postura reiterada é a manifestação deliberada e acumulada de formas pensamentos e sentimentos que criam grandes ambientes negativos e zonas de egrégoras obscuras. No jogo de manipulações visando desestabilizar projetos, ambientes e pessoas voltadas para bem, se apresentam como entidades de orientações e proteção em várias religiões, ou ainda como Exus na Umbanda. Contudo, seus discursos são mistificados. Deturpados e distanciados dos ensinamentos e práticas luminosas dos Mestres Anciãos e dos trabalhadores da Luz. [14] Os espíritos zombeteiros, segundo as matrizes africanas e as religiões afro-brasileiras são Eguns, isto é, desencarnados e mais identificados pelas características da personalidade do que por diferencial de forma. Assim, as suas características estão associadas a zombarias, troças, brincadeiras de mau gosto ou exageradas, escarnecimentos, motejadores, satíricos, dentre muitos outros. [15] O Exu é um termo, segundo Manoel Lopes, em Exu pagão e Exu de Lei, das matrizes africanas e das religiões afro-brasileiras. Exu é compreendido como uma egrégora ou hierarquia de espíritos em diversos níveis de entendimento e discernimento. Eles ajudam em muitos tipos de trabalhos espirituais, auxiliando na comunicação, proteção e em processos de passividade e/ou aproximação em médiuns. [16] Exu Tranca Ruas ou Tranca Rua, segundo as matrizes africanas e as religiões afro-brasileiras, é um enviado de Ogum. Exu Tranca Ruas é o nome do comandante da falange de Exus que carrega o seu nome, Falange de Exus Tranca Ruas. Na tradição espiritual, segundo Lucas Irain de Souza, Babá Alá Omín, da casa T.E.U.C.Y, a atuação e trabalho de Exu Tranca Ruas e sua falange de Exus é a limpezas astral dos caminhos do mundo, capitão das encruzilhadas, guardião dos caminhos e defensor dos oprimidos. Atividades que compreende na essência a responsabilidade de todos os Exus, isto é, manter o equilíbrio entre o mundo espiritual e o mundo material como guardiões da humanidade. [17] Frase de Pai José compartilhada pelo relato de Carlos de Ogum, História de Pai José (2023).


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