Os chamados da mediunidade!
- Cantinho dos Anciãos

- 19 de jun. de 2023
- 7 min de leitura
Atualizado: 20 de jun. de 2023

Eu, Rui Ricardo, gostaria através deste pequeno relato de compartilhar nossa experiência no trabalho mediúnico da doutrina. Antes da nossa aproximação com o Espiritismo, eu devo relatar uma lembrança que só quinze anos depois viemos a compreender o quanto perdemos por não atender o chamado da espiritualidade naquele momento.
O fato aconteceu ainda na década de setenta, na cidade de Uberaba. Naquela época, eu e a Ana Maria, minha esposa, assistimos uma missa na catedral da cidade.
Foto da Catedral Metropolitana de Uberaba - Arquidiocese de Uberaba

Créditos e Fonte: Paróquia do Sagrado Coração de Jesus e de Santo Antônio e São Sebastião, 2021.
Nos momentos finais da missa, o celebrante avisa que no pátio da igreja se encontra uma banca com todas as obras psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier e que aqueles que desejarem, além disso, conhecer o mencionado médium, podem fazê-lo em sua residência onde também funciona a Casa da Prece no Grupo Espírita da Prece Chico Xavier. Contudo, devemos dizer que não foi desta vez que atendemos o chamado da espiritualidade.
Alguns anos depois, já em Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, um novo chamado, desta vez, de um colega de rádio, Edson de Oliveira. Na ocasião fomos convidados para assistir uma reunião espirita na Sociedade Espirita de Cultura e Assistência – SECA. Nós participamos da reunião do grupo e ganhamos o nosso primeiro Evangelho segundo o espiritismo.
SECA – Sociedade Espírita de Cultura e Assistência, Natal-RN

Créditos e Fonte: Foto retirada do Grupo SECA no Facebook.
Após esse episódio, mais precisamente uma semana depois, estávamos assistindo as primeiras cirurgias espirituais feitas de maneira semelhante as realizadas por Zé Arigó. Essa circunstância ocorreu em um grupo de assistência espiritual no município de João Câmara – RN, pelo médium Miguel Arcanjo. Infelizmente não recordo o nome do grupo em questão, onde o médium Miguel Arcanjo dava passividade para as cirurgias espirituais. No entanto foi muito impactante ver os procedimentos e as curas assistidas diante de nossos olhos atentos. Momentos de verdadeiros milagres.
Apesar dos momentos e fatos ocorridos, também não foi desta vez que atendemos o nosso chamado da espiritualidade. E sabem de uma coisa? Aquela velha máxima de que não era a hora e que tudo deve acontecer no tempo de Deus se fez mais uma vez presente, pois assim aconteceu, e também é certo de que se não vamos por livre vontade, chegaremos com certeza pela dor. Por volta de 1995, residindo em Sobral, região norte do Ceará, fui convidado pelo nosso irmão Otacílio para conhecer os trabalhos do Grupo Espírita Bezerra de Meneses em Sobral-CE.
GEBEM – Grupo Espírita Bezerra de Menezes, Sobral-CE

Créditos e Fonte: Foto retirada do site do Grupo GEBEM no facebook.
Eu devo dizer que me surpreendeu o convite tão certeiro do nosso irmão, pois naquele momento eu estava preocupado com a minha esposa, Ana, que sofria com a passagem de seu pai, Creval Fernandes. O nosso irmão Otacílio foi muito feliz na ocasião, indo direto ao cerne do problema, mesmo que eu me esforçasse em não demonstrar a minha dor com o desencarne de Creval Fernandes, que sempre considerei mais como um pai, do que meu sogro.
O mais estranho é que ao aceitar o convite para assistir a reunião e receber a assistência espiritual e fraterna no centro espírita Bezerra de Menezes algo aconteceu provocando um novo desencontro. No dia marcado eu tinha chegado de uma viagem e me preparava para uma estreia na rádio Princesa, na cidade próxima a Sobral, Forquilha, e junto com o meu filho, Ruan, em meio a uma chuva torrencial, acabamos sofrendo um acidente, o que nos fez adiar a nossa ida ao Grupo Espírita Bezerra de Meneses.
Alguns dias depois, ainda me recuperando do ocorrido, começo a assistir as reuniões no Grupo Espírita Bezerra de Meneses, só que desta vez, acompanhado de minha esposa atendendo novamente a um pedido do nosso irmão Otacílio e sua esposa Edna. Procurando respostas para as várias perguntas que me surgiam a cada reunião, nos vimos envolvidos pelas leituras e ensinamentos da Doutrina Espírita. A princípio no ESDE, o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita e logo depois no Curso Mediúnico.

Na medida em que iniciamos o Curso Mediúnico, Ana, minha esposa foi se envolvendo com as práticas e os conhecimentos da mediunidade e aos poucos foi se encontrando e melhorando. Primeiro com uma visão magnífica de uma chuva de energias que tornava o ambiente totalmente harmonizado. Visão que nem todos compartilharam naquele momento e isso motivou ainda mais a Ana na prática mediúnica. A motivação dela foi incentivada, também, por Edna, esposa do então Presidente do Grupo, Otacílio, que a partir de sua vidência veio corroborar o acontecimento do fenômeno astral visto por Ana.
E assim, com a oportunidade que nos foi proporcionada de conhecer os ensinamentos da doutrina, buscamos as respostas para algumas perguntas e foi quando me encontrei como palestrante dos conhecimentos das obras básicas do espiritismo.
Ao me deparar com a afirmação de Alan Kardec, de que uma das principais ações da doutrina é a sua divulgação com responsabilidade, procurei por muito tempo observar como trabalhavam os irmãos em palestras e doutrinações. Na busca por melhor compreensão tive a oportunidade de beber na fonte de muitos irmãos comprometidos com o aspecto doutrinário e servidor, como o casal Tobias e Arlete, que traziam em sua bagagem o aprendizado do Templo Espirita Tupyara. Junto ao casal aprendemos doutrinação com o nosso irmão Tobias, e com a médium Arlete, a simplicidade de dar passividade com responsabilidade. Ainda no GEFA - Grupo Espirita Francisco de Assis em Groaíras - CE, o qual tivemos, Eu e Ana, minha esposa, a oportunidade de contribuir com o casal e demais irmãos em sua fundação, dentre eles, o irmão Danúzio, Gutemberg, dentre outros.
A primeira passividade
Com mais de dez anos no Espiritismo e depois de ter participado muitas vezes como assistente em doutrinações e trabalhos nas salas médicas de várias casas (inclusive as que ajudamos em sua fundação) com tratamentos e cirurgias espirituais, foi aí que transcorreu a primeira passividade e confesso não foi fácil para mim absorver com tranquilidade já que acreditava que a minha mediunidade era referente a comunicação, pois como praticante na área, me sentia bem à vontade.
Centro Espírita Adolfo Bezerra de Menezes - Natal/RN

Créditos e Fonte: Foto retirado da internet no sítio do arquivo histórico do site CEBEM.
A primeira passividade, portanto, aconteceu quando fui convidado para fazer a palestra de abertura do centro espírita fundado e construído por João Cecílio da Costa junto com a comunidade do bairro do Alecrim em Natal-RN, o CEBEM – Centro Espírita Bezerra de Menezes, o maior centro espírita de Natal-RN. Passados alguns minutos da palestra, começo a dar passividade para o irmão Frei Damião, e pouco tempo depois a Socorrinha, então dirigente da casa está de joelhos na minha frente e as minhas mãos banhadas por suas lágrimas. Enquanto toda a assistência me olhava, sem entender direito o que se passava a dirigente explicou que eu havia dado passividade para o irmão Frei Damião.

Frei Damião de Bozzano
Fonte: Wikimedia Commons
Naquele momento perguntei se ela tinha a certeza de quem realmente viera estar conosco e Socorrinha respondeu que foi o Frei Damião. Segundo Socorrinha, ela tinha certeza, pois ele costumava se hospedar na fazenda dos seus pais no município de Patos - PB, quando de suas missões. Ela se lembra também de que seus pais acordavam bem cedo para as tarefas da fazenda e enquanto seu pai ia para o curral tirar o leite fresquinho, sua mãe preparava um bom dejejum para o Frei Damião e o Frei Fernando e ela toda arrumada ia levar para os dois. Ela lembra ainda que antes de tocar a porta do galpão aonde estavam os dois, o Frei Damião, abria a porta e falava, “É você minha menina” e foi assim que ele a chamou no momento da passividade.
Na medida em que tomamos conhecimento, por meio do estudo da doutrina Espírita, de que a mediunidade é uma faculdade inerente a todo ser humano[1], pode-se depreender que é uma condição de estar e não ser médium, pois estamos e não somos médiuns, o que somos, de fato, são espíritos reencarnados. Devemos assim buscar, o máximo de conhecimento, aprimorar nossas ações, procurar a harmonia e a busca dos melhores pensamentos para que a tarefa do médium, tenha o equilíbrio necessário ao trabalho mediúnico.
Quanto a atividade do médium, propriamente dita, em dar passividade aos irmãos espirituais, entende-se que, quanto mais simples for os gestos e a maneira amorosa no trato com os irmãos em atendimento, maior será a fluidez das energias e o entendimento das mensagens.
Imagem de Vovó Minervina do Centro Espírita Manoel Nicodemos sendo entrevistada pelo jornalista e médium Rui Ricardo

Créditos e Fonte: Canal do youtube Alamar Regis Carvalho, 28 de agosto de 2013.
Passados alguns dias, nova passividade, e dessa vez no centro espírita Manoel Nicodemos. Sentado na grande mesa do grupo, logo após a palestra, tivemos a confirmação da presença do Frei Damião por Dona Minervina, uma das mais experientes médiuns espiritas do RN. E assim através de irmãos mais experientes e com vidência continuamos trabalhando com responsabilidade, pois buscamos aprender com simplicidade e humildade para não incorrer em falhas e animismos. A partir das confirmações começamos a intercalar as palestras com o trabalho nas salas médicas e reuniões mediúnicas.
Atualmente, continuo buscando cada vez mais o conhecimento, uma vez que, o pensador grego, Sócrates, nos coloca a reflexão, “Só sei que nada sei”[2] compreendemos que somos contínuos buscadores do conhecimento e do desenvolvimento da consciência, portanto, eternos aprendizes, e como tal, todas as nossas ações devem ser observadas e orientadas com o carinho e o amor dos nossos irmãos anciãos.
Em tempo, devemos sempre buscar e estar atentos aos chamados da espiritualidade amiga e lembrar, quanto mais simples e amorosos nos dedicarmos ao trabalho mediúnico, maior será a chance de sermos guiados pelos irmãos comprometidos com a luz. Espero que esse relato simples possa mostrar para os irmãos o quão belo é o trabalho com a espiritualidade universal. Em breve, traremos outros relatos compartilhando sempre as vivências e a fraternidade neste magnífico caminho da Espiritualidade.
Salve a grande LUZ!!!
Rui Ricardo
Equipe Cantinho dos Anciãos
[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XXIV – item 12 [2] Frase cunhada historicamente por outros autores com base no trecho original da Apologia de Sócrates do filósofo grego Platão: […] οὗτος μὲν οἴεταί τι εἰδέναι οὐκ εἰδώς, ἐγὼ δέ, ὥσπερ οὖν οὐκ οἶδα, οὐδὲ οἴομαι [aquele homem acredita saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também estou certo de não saber.] Platão, Apologia de Sócrates, 21d.




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