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O Ensinamento do Acolhimento pela Rosa Mística de Nazaré - Maria, A Mãe Santíssima

Atualizado: 17 de jul. de 2023

καί εἰσέρχομαι ἄγγελος πρός αὐτός ἔπω χαίρω χαριτόω κύριος μετά σοῦ[1]

E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo.[2]


וַיָּבֹא הַמַּלְאָךְ הַחַדְרָה וַיֹּאמֶר אֵלֶיהָ

“ELEYHÅ VAYOMER HACHADËRÅH HAMALËÅKH VAYÅVO

(בְּרוּכָה שָׁלוֹם לָךְ אֵשֶׁת- חֵן יְהֹוָה עִמָּךְ (בְּרוּכָה

(BËRUKHÅH) IMÅKH YËHOVÅH ESHET-CHEN LÅKH SHÅLOM

אַתְּ :(בַּנָּשִׁים

BANÅSHYM): ATË[3]

“E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Salve, cheia de graças; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres.”[4]


Imagem: Nossa Senhora da Paz

Créditos e fonte: Autor Otávio Dantas do acervo digital da Wikimedia Commons, 8 de setembro de 2022.


Maryām, no original em aramaico, Miryam (no hebráico מִרְיָם)[5], ou ainda Μαρίας, em grego. Maria, a Mãe Santíssima, como ficou conhecida em Éfeso viveu próxima a cidade, num pequeno promontório da região rural, o monte Koressos[6]. Uma colina íngreme de onde se avistava a antiga cidade grega de Éfeso e o mar Egeu com as suas ilhas na região costeira da Jônia, sudoeste da Anatólia. Hoje, toda a região pertence a Turquia. A descrição detalhada da região e do local onde foi construída a casa de Maria foi feita pelas visões da beata alemã Anna Catarina Emmerich no livro A vida da virgem Maria, e escrito pelo poeta alemão Clemens Brentano. Segundo Anna Catarina, com exceção de duas viagens a Jerusalém, os últimos nove anos de Maria foram vividos em Éfeso.


A história e o legado dos Ensinamentos de Maria compreendem uma abnegação e dedicação incansável a prática da caridade e a todos que a ela recorriam em busca de alento e acolhimento. No intuito de compreender um pouco melhor os ensinamentos dessa prática do acolhimento tomamos por referência, o texto, Maria, o último capítulo do livro Boa Nova de Humberto de Campos, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, e, também, os textos: Maria em Éfeso; Retorno a Éfeso; e Reunião dos apóstolos em Éfeso por conta da morte da santíssima virgem Maria, do livro, A vida da virgem Maria de Anna Catarina Emmerich. Ambos os textos retratam com maiores detalhes o momento em que a Mãe Santíssima viveu por nove anos, junto ao grupo de mulheres cristãs que viviam na região fugindo da perseguição em Jerusalém.


Em Éfeso, Maria realizou um trabalho em prol do amor inspirado e compartilhado pelos ensinamentos do Rabi Yeshua (Mestre Jesus). Esse abnegado trabalho se cumpriu junto a todos aqueles que buscassem a compreensão e a paz do seu acolhimento. Segundo Anna Catarina, em dado momento de suas visões, lhe foi “[...] mostrado, em espírito, a súplica que fez a seu Filho, naquela ocasião, para que ela [Maria] não vivesse naquele vale de lágrimas por muito tempo depois que Ele subisse aos Céus.” A resposta de Jesus em seguida “revelou-lhe, de modo geral, quais as tarefas espirituais que ela deveria cumprir antes de seu fim na terra.” Anna Catarina não descreve especificamente quais foram as orientações de Jesus para Maria, contudo é possível dizer que após o momento da ascensão de Jesus se passaram 13 anos e 2 meses até o momento da ascensão de Maria, observa Anna Catarina, e durante esse período Maria viveu 9 anos em Éfeso.



Anunciação


Imagem: A Virgem Maria recebe a visita do Anjo Gabriel na Anunciação

Fonte: Um local de contemplação a caminho da capela das rosas. Assis, Itália.


Para chegar a esse momento de grande abnegação por todos, em Éfeso, Maria iniciou sua jornada aceitando a princípio o compromisso de acolhimento, através da gestação, da maternidade daquele que deveria ser chamado de Yeshua[7], segundo as palavras e orientações do Anjo Gabriel, no momento da anunciação da missão de Maria aos quinze anos de idade: “Alegra-te, cheia de graça! O senhor está contigo; pois bendita és tu entre as mulheres.”[8]


Esse momento inicial da missão de Maria relatado na Bíblia, por Lucas 1:28 compreende na liturgia católica a anunciação da maternidade de Yeshua pelo Anjo Gabriel. O anjo se revela diante de Maria para comunicá-la que receberia a missão de gestar em seu ventre a criança que se tornaria o messias mencionado pelos profetas da Tradição judaica, bem como, também, pelas previsões de outras Tradições e culturas do mundo antigo[9].

Imagem: Créditos de vecstock em Freepik


A jovem adolescente enfrentava o desafio de ser mãe, sem estar casada[10] e ainda ser virgem. O mistério da virgem[11] é reservado em diversas culturas ao grau de pureza física, emocional e principalmente espiritual da pessoa. Contudo, as implicações familiares e sociais sobre a gestação incomum preocupavam ainda mais Maria, como podemos observar na descrição da experiência emocional que ela vivenciou naquele momento através de seu relato no livro O Evangelho secreto da virgem Maria[12]:


[...] quando começou a falar assustei-me um pouco [se referindo a Gabriel]. Não porque sua voz fosse feia, mas o que me disse me deixou perplexa. Naturalmente era de provocar espanto. O que significava "cheia de graça"? Não estávamos todos sob o efeito do pecado original, como nos ensinavam na sinagoga? Não seria, pois, um convite à soberba? Não me havia deixado enganar com sua aparente espiritualidade? (MARTIN, 2001, p.13)


Em meio a tantos questionamentos o Anjo Gabriel tenta tranquilizá-la lhe falando e explicando sobre a maternidade de Yeshua, mas não surtiu o efeito tranquilizador esperado, como Maria comenta em seguida:


“Na verdade não eram palavras muito tranquilizantes. Dizia-me ‘não temas’, mas o que vinha em seguida era mais sério e preocupante ainda.” (MARTIN, 2001, p.13)


Mesmo diante de tantas dúvidas e preocupações a atitude particular de Maria foi de aceitação, mas não antes de certificar-se da origem de tamanha responsabilidade (2001, p.13):


[...] Perguntei-lhe [ao Anjo Gabriel]: ‘Como ocorrerá isso, se eu não conheço varão [homem]?’[1]. Não se tratava de algo sem importância. Para mim isto era fundamental. [...] Deus não poderia contradizer Deus. Deus não poderia ter semeado em minha alma, durante toda a minha vida, uma necessidade de pureza e de consagração para depois conduzir-me por caminhos contrários. E como aquilo que eu recebera sem dúvida era coisa sua, o que ocorria agora, se também vinha de suas mãos, forçosamente deveria estar em perfeita sintonia com o anterior. O anjo Gabriel soube dissipar todas as minhas dúvidas: ‘O Espírito Santo descerá sobre ti’, afirmou, "e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso aquele que nascer será santo e será chamado Filho de Deus". Estas últimas palavras colocaram tudo em seu devido lugar. Eu continuaria mantendo minha virgindade e minha pureza de alma e de corpo, sem ter que passar por situações que causavam repugnância não só a mim como a toda e qualquer moça honrada. [...] eu já estava decidida. De modo que, para evitar que suspeitasse de minha vontade de aceitar o que Deus me pedia, precipitei-me a dizer-lhe o que gritava meu coração desde o primeiro momento:


"Eis aqui a Escrava do Senhor", disse-lhe,

"faça-se em mim segundo sua palavra."

(MARTIN, 2001, p.13)


A atitude de aceitação, de coragem, de pureza e de dignidade desse momento vivido pela mulher israelita de Nazaré, Miryam, filha de Joaquim e Ana, mãe de Yeshua, foi reconhecida pela Bíblia, pelo Alcorão e pela história através de seus textos e testemunhos que impactaram diversas culturas de todo o mundo. Contudo, o momento da anunciação e de Jesus em seu ventre indicava que a caminhada estava apenas começando.


Jesus consagra Maria como a Mãe espiritual de toda a Humanidade


Imagem: Créditos de wirestock em Freepik


O transcurso dos eventos a partir da anunciação revelaram para a posteridade a história de uma mãe e de seu filho que se tornou um dos grandes Mestres da humanidade, Jesus, o nazareno. O ministério e o mistério da espiritualidade apresentado ao mundo pelo verbo encarnado ergueu o templo eterno da sabedoria viva por meio do Espírito e da Verdade. Os pilares desse templo são os ensinamentos compartilhados e vividos pelo próprio Mestre junto a seus discípulos até a sua Ascensão[1]. Durante todo o percurso a grande mensagem do amor a Deus e ao próximo se tornou o maior mandamento[2]. Os ensinamentos do amor com os discípulos, incluiu a partir da Lei mosaica, uma orientação fundamental para os novos horizontes da prática do amor quando diz:

Um novo mandamento vos dou:

“Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.”


A mensagem do amor foi ensinada pelo mestre até os últimos momentos. Yeshua pediu a Deus para perdoar os homens, pois eles não sabiam o que faziam. E ao ver o sofrimento de sua mãe, em aflição diante da serenidade daquele olhar de melancolia intraduzível[3], e que ainda dizia em lamento, “Meu filho! Meu amado filho!. . .[4]“, o Cristo fez ecoar a mensagem universal do amor. Nas palavras de Anna Catarina:


O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores, mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradeiro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunhão com Deus, replicou com significativo movimento dos olhos vigilantes: “Mãe, eis aí teu filho!. . . E dirigindo-se, de modo especial, com um leve aceno, ao apóstolo, disse: “Filho, eis aí tua mãe!”


Segundo Humberto de Campos, João, o evangelista havia compreendido que:


“[...] o Mestre, na sua derradeira lição, ensinava que o amor universal era o sublime coroamento de sua obra.” (XAVIER, p.198)


Esse grande ensinamento iria frutificar e se fortalecer ao longo da história humana e:


[...] no futuro, a claridade do Reino de Deus revelaria aos homens a necessidade da cessação de todo egoísmo e que, no santuário de cada coração, deveria existir a mais abundante cota de amor, não só para o círculo familiar, senão também para todos os necessitados do mundo, e que no templo de cada habitação permaneceria a fraternidade real, para que a assistência recíproca se praticasse na Terra, sem serem precisos os edifícios exteriores, consagrados a uma solidariedade claudicante. (XAVIER, p.198)


Após o doloroso evento Maria permanece breve tempo na região sudoeste de Jerusalém, no monte fortificado conhecido como Monte Sião. Nessa região, também ficava a casa de Nicodemos onde todos se reuniram após a crucificação de Jesus. Aos poucos os discípulos, segundo Humberto de Campos, foram se dispersando para lugares diferentes devido ao compromisso com a Boa Nova ensinada pelo Mestre. Anna Katarina menciona que Maria retira-se para Betânia[5] onde, segundo Humberto de Campos, encontravam-se familiares do círculo mais próximo e que haviam se preparado para sua chegada para recebê-la com grande afeto. Em Betânia, Maria ficou pouco mais de três anos. Durante esses anos o tempo passou muito silencioso e triste, pois havia a angustia da saudade em seu coração (CAMPOS, 1997, p.117).


O convite para Éfeso



Foto: Rua Curetes em Éfeso.

Maria, durante os três anos na pequena aldeia de Betânia acompanhou o tempo passar de forma silenciosa e triste devido a saudade de seu coração (CAMPOS, 1997, p.117).


Segundo Humberto de Campos, o convívio com familiares e alguns discípulos, aos poucos, fez com ela observasse muitos dissabores e duras discussões por questões de status e posições familiares, origens e consanguinidades que só amargavam e nunca nutriam o desenvolvimento do verdadeiro caminho ensinado pelo Mestre Jesus.

As notícias que viam de Jerusalém narravam crescentes histórias de perseguição e de conflitos entre cristãos e judeus. Na região da Galileia (em grego Γαλιλαία e Galil, em hebraico הגליל) onde o Mestre Jesus elevou os cenáculos da união e da comunhão com Deus através do Sermão da Montanha, os grupos irmanados, agora, encontravam-se tristes e desertos (CAMPOS, 1997, p.117).


O coração e a mente de Maria reviviam continuamente o passado, pois a “Sua vida era uma devoção incessante ao rosário imenso da saudade [...] em seu mundo interior revivia na tela de suas lembranças, com minúcias somente conhecidas do amor, e lhe alimentavam a Seiva da vida.” (CAMPOS, 1997, p.118) Ao relembrar os momentos da infância de Jesus “como naquela noite de beleza prodigiosa, em que o recebera nos braços maternais, iluminado pelo mais doce mistério.” (CAMPOS, 1997, p.118).


Maria percebia que “era o rio das recordações desaguando, sem cessar, na sua alma rica de sentimentalidade e ternura. Nazaré lhe voltava à imaginação, com as suas paisagens de felicidade e de luz.” (CAMPOS, 1997, p.118). Em sua mente, segundo Humberto de Campos (1997, p.118), se revelava:


"A casa singela, a fonte amiga, a sinceridade das afeições, o lago majestoso e, no meio de todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando, no erguimento da mais elevada concepção de Deus, entre os homens da Terra. De vez em quando, parecia vê-lo em seus sonhos repletos de esperança. Jesus lhe prometia o júbilo encantador de sua presença e participava da caricia de suas recordações." (CAMPOS, 1997, p.118).


As lembranças ligavam Maria continuamente a Jesus, seu filho amado, mas também a mantinham firme nos ensinamentos passados pelo Mestre. O momento para se iniciar o trabalho que havia sido consagrado por Jesus na cruz a “Maria”, como Mãe Espiritual da Humanidade, e a seu filho, João, que nos representava a todos, agora, se revelava pelas palavras de João enquanto narrava sua caminhada até Éfeso. Aos poucos, a chama viva do grande compromisso, se acendia no coração de Maria reconhecendo nas confidências e planos mais simples de João, o por vir luminoso de uma jornada em que “[...] andariam ambos na mesma associação de interesses espirituais. Seria seu filho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho.” (CAMPOS, 1997, p.118).


O filho de Zebedeu contou a Maria que havia feito morada em Éfeso e na medida em que os ensinamentos e as práticas do Mestre Jesus foram semeadas nas cercanias da cidade “as ideias ganhavam terreno entre almas devotadas e sinceras.” (CAMPOS, 1997, p.118).


João, em Éfeso, estava preocupado com o aumento das perseguições em Jerusalém, contudo, precisava de uma casa onde pudesse se abrigar e compartilhar com Maria. Em dado momento, João conhece um rei de um castelo próximo ao distrito em que famílias e amigos já residiam nas proximidades de Éfeso (OLIVEIRA, 2019, p.283). Esse rei fazia parte de uma família real da corte de Adiabene e havia sido deposto. João passou a visitá-lo com frequência e o rei se converteu ao amor do Cristo (CAMPOS, 1997, p.118). O rei muito grato fez a doação de uma casa que ficava a três léguas[1] de Éfeso, mais precisamente no promontório denominado de Monte Koressos e do alto do monte era possível avistar o Mar Egeu e algumas de suas ilhas como Samos, Ikaria, Chios, Patmos e Astipaleia.


Anna Katarina descreve com riqueza de detalhes a região e as casas das famílias que viviam nos arredores do campo e do monte Koressos:


"Nesse platô, colonos judeus fizeram suas casas. Era um lugar muito solitário, rodeado por pequenas porções de areia, embora tivesse encostas muito férteis e agradáveis, bem como cavernas rochosas limpas e secas. Era deserto, mas não desolado. Possuía algumas árvores em forma de pirâmide, espalhadas ao redor, de troncos suaves, com ramos amplos, que produzem boa sombra. [...] algumas moravam em grutas, na terra ou nas pedras, com acabamento em madeira leve para se tornarem habitáveis, e outras em frágeis cabanas ou tendas. [...] Suas habitações eram como celas de eremitas; usavam como refúgios o que a natureza lhes oferecia. Como regra, viviam cerca de quinze minutos de distância uns dos outros. Todo o assentamento era uma vila dispersa." (OLIVEIRA, 2019, p.282).


A beata alemã descreve, também, a partir de suas visões quem eram as famílias, suas origens e porque escolheram viver em terras tão distantes: “Várias famílias cristãs e mulheres [judias parentes de Maria][2] já haviam se estabelecido ali; [...] As pessoas haviam escolhido aquela região a fim de escaparem da perseguição violenta.”


Foto: Casa da Mãe Maria (Meryem Ana Evi)

Segundo Anna Katarina, a casa de Maria ficava na região rural, mais precisamente no “[...] campo perto da cidade, onde várias mulheres, bem amigas, haviam se estabelecido. Sua moradia ficava numa colina [Koressos]. Essa colina era bem íngreme na direção de Éfeso. Avenidas largas levavam até a cidade e o chão abaixo das árvores ficava coberto com frutos amarelos” (OLIVEIRA, 2019, p.282). A estrutura da casa foi erguida de forma peculiar, pois a “[...] casa de Maria era a única construída com pedras.” (OLIVEIRA, 2019, p.282). Na parte de trás da casa ficava “[...] o cume da colina rochosa, de onde se podia ver por sobre as árvores e colinas a cidade de Éfeso e o mar com suas muitas ilhas. O lugar ficava mais próximo do mar do que de Éfeso.” (OLIVEIRA, 2019, p. 286).


Um outro registro feito em detalhes, por Anna Katarina, na rotina diária de Maria, se encontrava na parte de trás da casa, um caminho por onde ela percorreu inúmeras vezes representando a via crucis[3] até o alto do monte para suas orações.


Esse cenário humilde e simples junto a natureza foi elevado por meio do trabalho dedicado e sincero de todos os envolvidos a um santuário de acolhimento universal. Até os dias atuais representa em ensina o simbolismo maior da universalidade. O local é respeitado e sagrado para cristãos e mulçumanos. A Casa de Maria erguida pelo filho de coração, João, recebeu, também, os discípulos de Jesus que lá frequentavam continuamente. Assim, como a serva amiga de Maria mencionada pela Beata Anna Katarina em suas visões, a comunidade de familiares e amigos da região, bem como todos aqueles que dos mais diversos lugares buscavam o lar da Casa da Mãe Santíssima.


O sublime florescimento da Rosa Mística de Nazaré


Nossa Senhora Rosa Mística, da Ladainha Lauretana.

A Mãe Maria aceitou o convite de João e o compromisso com Jesus para sua consagração espiritual, nas palavras de Humberto de Campos (1997, p.118): “[...] se reuniriam ambos [Maria e João] para cultivar a lembrança permanente de Jesus. Estabeleceriam um pouso e refúgio aos desamparados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os espíritos de boa-vontade e, como mãe e filho, iniciariam uma nova era de amor, na comunidade universal.”


A partir de sua simples habitação homens e mulheres, gradualmente ao longo dos anos foram sendo recebidos das cercanias do Monte Koressos, bem como de terras distantes. No “altar imponente da natureza” (CAMPOS, 1997, p.118) foi erguido um novo cenáculo no Santuário de Amor e Luz da Casa da Mãe Santíssima. A distância da cidade não parecia criar qualquer obstáculo para todos aqueles que acorriam a Mãe de todos.


As casas e habitações aos poucos foram sendo formadas e preenchidas em toda a região. As famílias, alguns judeus parentes de João e de Maria, alguns outros amigos de jornada se afastando das perseguições na Betanéia[1], ainda outros advindos da cidade de Éfeso ou das cidades próximas, gradualmente, em “[...] todas as adjacências se povoavam de novos núcleos de habitações alegres e modestas” (CAMPOS, 1997, p.118).


Nos primeiros momentos as visitas mais próximas compartilhavam histórias e recordações que pareciam pertencer a uma outra vida, uma vida preenchida pela Luz magnífica do Mestre entre nós. Em meio as lembranças e diante da presença recorrente das pessoas, os diálogos e as conversas solicitaram, aos poucos, orientações, da experiência de João e de Maria, sobre os ensinamentos do Mestre. Assim, as visitas se transformaram, em poucas semanas:


[...] num ponto de assembleias adoráveis, onde as recordações do Messias eram cultuadas por espíritos humildes e sinceros. Maria externava as suas lembranças. Falava dele com maternal enternecimento, enquanto o apóstolo comentava as verdades evangélicas, apreciando os ensinos recebidos. Vezes inúmeras, a reunião somente terminava noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. (CAMPOS, 1997, p.118).


Imagem: Créditos de vecstock em Freepik


As filas se precipitavam em direção a Casa da virgem Maria, pois ouviam de grandes distâncias, e até em outras terras, ser chamada de a Mãe Santíssima. Nas palavras de Humberto de Campos:


"Decorridos alguns meses, grandes fileiras de necessitados acorriam ao sitio singelo e generoso. A notícia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara um clarão de esperança por todos os sofredores. Ao passo que João pregava na cidade as verdades de Deus, ela atendia, no pobre santuário doméstico, aos que a procuravam lhes exibindo suas úlceras e necessidades. Sua choupana era, então, conhecida pelo nome de “Casa da Santíssima”." (CAMPOS, 1997, p.119).


Os meses se transformaram em anos e o trabalho incansável de Maria crescia junto a muitas pessoas peregrinando em busca do alento de seu acolhimento, de seus conselhos e de seus tratamentos para a cura de enfermidades do corpo e da alma. Os testemunhos de fé e de cura elevaram entre todos aqueles que sofriam a esperança viva na presença da Mãe Santíssima. A expressão “Mãe Santíssima” repetida tantas vezes e tendo alcançado terras tão distantes deveria ter uma origem e, segundo Humberto de Campos, advém de: “[...] certa ocasião, quando um leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe osculou as mãos, reconhecidamente murmurando: ‘Senhora, sois a mãe de nosso Mestre e nossa Mãe Santíssima!”


O trabalho físico e espiritual de Maria realizava na prática os fundamentos do mais elevado ensinamento do Mestre Jesus. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” Acolher a todos de forma incondicional e universal gerou no cerne da Casa da Mãe Santíssima a tradição mística da Mãe da humanidade. Tradição confirmada por todos os espíritos acolhidos e amparados pela palavra maternal nos momentos mais difíceis, bem como por todos os testemunhos de fé e cura.

No percurso de sua casa, também, corroboravam com a tradição do acolhimento da flor mística de Nazaré, os apóstolos e discípulos, como João, que em suas pregações em Éfeso: “consolidava o conceito, acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato, pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emissário de Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura.” (CAMPOS, 1997, p.119).

A gentileza, os gestos simples e amorosos reconhecidos por todos lhe rendiam muitas saudações e agradecimentos, mas a Mãe Santíssima, com a mesma gentileza “se esquivava às homenagens afetuosas dos discípulos de Jesus” (CAMPOS, 1997, p.118) e de todos aqueles que lhe prestavam louvor. Seu coração se iluminava com a fraternidade daquele cenáculo. Uma irmandade dedicada e erguida pela “[...] confiança filial com que lhe reclamavam a presença” (CAMPOS, 1997, p.118) e que “[...] era para sua alma um brando e delicioso tesouro do coração.” (CAMPOS, 1997, p.118).


Se permitir de corpo, mente e alma ir até as dores daqueles que sofrem. Por intermédio do acolhimento a Mãe Santíssima ensinou a viver e amparar o sofrimento do corpo e da alma de todos aqueles que precisarem, numa atitude incondicional e universal. Pois, o trabalho discipular é pelo exercício prático do Amor e sua disciplina é determinada pela postura espiritual do coração. Nas palavras de Humberto de Campos:


"Diariamente, acorriam os desamparados, suplicando a sua assistência espiritual. Eram velhos trôpegos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invocavam a sua proteção, mães infortunadas que pediam a bênção de seu carinho. “Minha mãe dizia um dos mais aflitos como poderei vencer as minhas dificuldades? Sinto-me abandonado na estrada escura da vida [...]" (CAMPOS, 1997, p.119).


Com calma e de forma serena, "Maria lhe enviava o olhar amoroso da sua bondade, deixando nele transparecer toda a dedicação enternecida de seu espírito maternal. — “Isso também passa! — dizia ela," (CAMPOS, 1997, p.119). As palavras reconfortantes "[...] abrandavam a dor dos mais desesperados, desanuviavam o pensamento obscuro dos mais acabrunhados." (CAMPOS, 1997, p.119)


O ensinamento do Amor pelo acolhimento é a realização espiritual da Mãe Santíssima, a Mãe de toda a humanidade. A sua vida nos deixou uma doce canção que fez ecoar o grande conhecimento do trabalho transformador através do Amor Fraternal Universal. Acolher é orientar e amparar; acolher é trazer paz de espírito aos sofredores da carne e da alma, acolher é se colocar no lugar do outro a ponto de partilhar suas dores e suas alegrias, acolher é viver e compartilhar com o outro o Amor pela mais sublime luz, o Cristo, o Mestre Jesus. Nas palavras da Mãe Santíssima (1996):

Imagem: Créditos de vecstock em Freepik


Se um dia, querido João, [...] o amor se fez carne, agora o amor queria se fazer público. [...] Meu filho me ensinou que não existem barreiras para o amor e que o verdadeiro milagre está em romper essas barreiras. Jesus soube, desde muito cedo, o que teria que saber, porém não lhe bastava saber tudo e sim viver tudo. Viver não só um dia, um mês, um ano, e sim durante muito, muito tempo. Tanto tempo como se o final não chegasse nunca, como se não lhe importasse a chegada desse final. Aprendeu o que significa a paciência e, por sua vez, a humildade. Aprendeu que não basta dizer: "Senhor, Senhor" se não se fizer a vontade do Pai, inclusive quando não se entende para onde conduzirá essa vontade. Aprendeu que as palavras convencem quando quem as ouve escuta um tom de voz que só emite aquele que as viveu intensamente e que, para tanto, o tempo é imprescindível. Se depois falou com convicção do amor, é porque durante muitos anos viveu amando e não só as coisas grandes como também as pequenas, as do dia-a-dia, as que ninguém, exceto Deus, vê e valoriza. (MARTIN, 1996, pags. 63 e 74)


Gratidão, Mãe Santíssima!



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Amor, Luz e Paz Sempre!

Salve a Grande Luz!


Ruan Fernandes

Equipe Cantinho dos Anciãos


Referências:

ARAi - Almeida Revisada e Atualizada. 1993. Disponível em: < https://search.nepebrasil.org/interlinear/?chapter=1&livro=42&verse=28>. Acesso em: 24/06/2023.

(ARC). Portal SBB. Almeida Revisada e Corrigida. Consultado em 16 de julho de 2019 (ARC)

CAMPOS, Humberto. Boa Nova. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. - Rio de Janero: FEB - Federação Espírita Brasileira, 1997.

MARTIN, Santiago. Evangelho secreto da virgem Maria. tradução Yolanda e Hilton Amaral. - São Paulo: Mercuryo: Paulus, 1999.

MEHLMANN, J. História da Palestina nos tempos do Novo Testamento. Revista de História, [S. l.], v. 20, n. 42, p. 351-393, 1960.

OLIVEIRA, Gilmar. MARIA, A VIRGEM SAGRADA – BIOGRAFIA: Da Obra de Anna Catharina Emmerich. – Lauro de Freitas, BA: Editora Compaixão, 1999.

Texto da Bíblia em Grego - (BGB) - Bíblia Grega Bereana. Disponível em: < https://search.nepebrasil.org/interlinear/?chapter=1&livro=42&verse=28>. Acesso em: 24/06/2023.

Texto da Bíblia em hebraico. Hebráico Pro. Disponível em: < https://hebraico.pro.br/r/bibliainterlinear/texto.asp?g=1%2C2&gb=1e2%2C2&s=LUCAS&p=1&sa=s#versiculo14>. Acesso em: 24/06/2023.


Notas:

[1] Texto em Grego - (BGB) - Bíblia Grega Bereana. [2] (ARAi) - Almeida Revista e Atualizada Interlinear. [3] Textos em Hebráico - (BHB). [4] (ARC) - 1969 - Almeida Revisada e Corrigida.

[5] Miryam, Maria (do nome hebraico מרים, transliterado como Miriam, que significa "senhora, soberana") + Do hebraico Myriam, compreende a forma e a estrutura da escrita mais primitiva do nome Maria. A partir de Myriam é possível traduzir em vários significados como “a que deseja uma criança”, soberana e senhora; ou ainda “gota do mar”, entre outras. Myriam, também, foi o nome da irmã de Moisés, na Bíblia. [6] Atualmente Colina de BullBul-dag (Bülbüldağı - Colina do Rouxinol).

[7] "Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Irás conceber em teu ventre e darás à luz um filho, a quem darás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado 'Filho do Altíssimo'. O Senhor lhe dará o trono de Davi, seu pai. Reinará sobre a casa de Jacó pelos séculos e seu reino não terá fim". [8] Maria, no livro O Evangelho secreto da virgem Maria narra que a após a primeira saudação de Gabriel “Alegra-te, cheia de graça!”, a segunda parte se encerra em “O senhor está contigo.”, não havendo, por tanto, o trecho “pois bendita és tu entre as mulheres.” [9] Um testemunho do grande alcance a partir de outras culturas e Escolas de Grande Conhecimentos, no caso, mais específico, vindas do oriente, sobre a profecia do nascimento do messias, nos foi legada pelos próprios textos da Bíblia quando Mateus, em seu Evangelhos a história da vinda dos três magos Baltasar, Melchior e Gaspar que vieram de terras distantes para adorar o Cristo e lhe trazer presentes (ouro, mirra e incenso). [10] Naquele momento Maria não estava casada, mas já havia um compromisso entre famílias com Yosef (José). [11] Em várias culturas da história humana a figura da virgem eleva a condição da mulher a um grau de pureza, não apenas físico, mas principalmente emocional e espiritual. Como, por exemplo, no caso do Culto a deusa romana Vesta e as vestais que eram as sacerdotisas virgens responsáveis pela Casa da Cidade de Roma e por manterem a chama de Vesta sempre acesa para proteger a cidade de Roma. O resguardo das sacerdotisas começava pela castidade física e se ampliava até a condição mais elevada em Roma, que era o seu próprio estatuto de leis. Eram servidoras do estado romano com autonomia de testamento e de administração dos próprios bens.

[12] Na Biblioteca de Santa Maria de Arezzo (Itália) foi encontrado um manuscrito de uma monja do século IV intitulado Itinerarium que relatava quase por completo uma viagem as terras onde Jesus havia vivido. A monja nascida na Espanha, ainda sob o domínio romano, escreveu tudo aquilo que viu e sentiu durante a viagem. O Itinerarium, da monja espanhola Egeria (ou Eteria, ou Echeria), segundo a forma no momento em que foi descoberta, em 1884, estava incompleto. Contudo, no decorrer do relato a monja transcreve, ao final, como um apêndice o texto que recebeu de outro monge em sua viagem a terra santa. “Tratava-se do Evangelho Apócrifo da Virgem Maria. Um texto ao qual se referiram alguns dos primitivos padres da Igreja, que, no entanto, não tinham certeza de ter existido.” (MARTIN, 1996, p.07).

[13] E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço varão?

[14] Momento em que Yeshua caminha com os discípulos em corpo físico espiritual até o Monte das Oliveiras para o último momento com todos. [15]Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mateus 22:37-40) [16] Boa Nova, 1997, p.117. [17] Boa Nova, 1997, p.117. [18] Do hebraico bét nîyyah, uma contração de bét nanîyah, que significa “casa” (bét) + “de Ananias” (nanîyah).

[19] Mais precisamente 14,48 quilômetros ou uma caminhada de pouco mais de 3 horas e 30 minutos até a cidade de Éfeso.

[20] “Entre as santas mulheres, que viviam nos assentamentos cristãos perto de Éfeso e que visitavam a Santíssima Virgem em sua casa, havia uma filha da irmã de Anna, a profetiza do Templo. [...] Essa mulher estava ligada à Sagrada Família por meio de Anna. [...] Outra mulher, que vivia na vizinhança de Maria, [...] era a sobrinha de Isabel, chamada Mara.” (OLIVEIRA, 2019, p. 287). [21] O Caminho da Cruz de Maria tinha doze Estações. Ela mediu em passos todas as distâncias. João providenciou os marcos de pedra com as inscrições. Inicialmente eram apenas pedras brutas para marcar os lugares. Depois, foram mais elaboradas. Agora havia pedras brancas baixas e lisas com muitos lados — creio que oito — e uma pequena depressão no centro. Cada uma dessas pedras apoiava-se sobre uma base do mesmo tipo de pedra, cuja espessura ficava oculta pela relva e pelas belas flores ao redor. As pedras e suas bases eram inscritas com letras em hebraico. Essas Estações localizavam-se em depressões, semelhantes a pequenas bases redondas. Eram cercadas; uma trilha circundava a pedra com largura suficiente para uma ou duas pessoas aproximarem-se e lerem a inscrição. Os espaços ao redor das pedras, cobertos com grama e belas flores, variavam de tamanho. As pedras nem sempre ficavam descobertas. Quando ninguém estava rezando, havia uma esteira ou cobertura, presa de cada lado, fixada com duas cavilhas. As doze pedras assemelhavam-se; eram todas gravadas com inscrições em hebraico, mas em posições diferentes. A Estação do Monte das Oliveiras ficava num pequeno vale, perto de uma gruta, onde várias pessoas podiam ajoelhar-se em oração. A Estação do Monte Calvário era a única que não ficava numa depressão, mas numa colina. Para chegar à Estação do Santo Sepulcro, devia-se passar sobre essa colina e chegar à pedra numa depressão. Ainda mais abaixo, ao pé da colina, numa gruta, ficava o Sepulcro no qual a Santíssima Virgem foi sepultada. Creio que a sepultura ainda deva existir debaixo da terra e que será descoberta um dia. [22] É algures [em algum lugar] expressamente qualificada de toparquia, o que pode referir-se à parte ocupada pela colônia dos judeus babilônicos, chamados por Herodes, [...] refletindo por meio desta mesma expressão o sistema administrativo que vigorava na Judéia. A colônia mencionada, cujos componentes se concentravam ao redor da vila de Bathyra e outras vilas menores, tornou-se, desde o início, um foco de rígida observância judaica, atraindo outros judeus de todas as partes. [...] Regia-se, à maneira da Judéia, por meio de um conselho oligárquico de setenta varões, eminentes por seu nascimento e sua prudência, exemplo seguido, mais tarde, por José, durante seu governo na Galiléia.







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