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No jardim de Clara de Assis

Atualizado: 23 de ago.


"No jardim de Clara de Assis, todas as rosas são bem-vindas"

"No jardim de Clara de Assis, todas as rosas são bem-vindas."                             Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
"No jardim de Clara de Assis, todas as rosas são bem-vindas." Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Introdução


Há jardins que florescem na terra e há jardins que florescem na alma. Clara de Assis cultivou ambos — com mãos serenas, pés descalços e coração entregue a um amor que tudo acolhe. Sua vida, entrelaçada com a de Francisco, é uma oferenda silenciosa à simplicidade, à humildade e ao profundo acolhimento humano e espiritual. O “jardim de Clara” não é feito de muros ou cercas, mas de portas abertas: ali, cada rosa representa uma vida, uma alma que busca amparo, consolo ou apenas um lugar onde possa florescer.


Inspirada nos ventos suaves da pobreza evangélica e na brisa leve da compaixão, Clara construiu — com Francisco — um caminho alternativo ao poder e à glória do mundo medieval. Um caminho onde cada pessoa, independentemente de sua origem ou feridas, pudesse ser recebida como criação divina. Este artigo deseja caminhar por esse jardim — não como quem visita um relicário distante, mas como quem aprende a plantar, a regar, a acolher. Porque nos dias de hoje, em meio ao ruído e à pressa, talvez o que mais precisamos seja redescobrir esse recanto onde toda rosa é bem-vinda.


1. A flor da simplicidade: a vida como leveza essencial


Jardim de Clara de Assis.                          Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Jardim de Clara de Assis. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Clara de Assis, nascida em 1194 em uma família nobre de Assis, poderia ter seguido os passos esperados de uma jovem aristocrata: o casamento, os títulos, a estabilidade material. Mas o Evangelho que inflamava o coração de Francisco também tocou o dela com intensidade inegociável. Aos 18 anos, Clara deixou o conforto de sua casa para abraçar uma vida radicalmente simples, guiada pela confiança plena em Deus. Foi no despojamento que ela encontrou sua verdadeira identidade.


A simplicidade, para Clara, não era renúncia vazia ou sofrimento por si mesmo. Era um modo de viver a liberdade interior — uma recusa delicada e firme às prisões do ego, do acúmulo e da vaidade. Em suas cartas a Inês de Praga, Clara transmite com ternura essa sabedoria espiritual: viver com pouco, para amar muito. Libertar-se do excesso, para que o coração seja morada de Deus e abrigo para o próximo.


No jardim de Clara, a simplicidade é a terra fértil onde as virtudes florescem. Nada é mais belo, para ela, do que uma vida leve, transparente e verdadeira. E ao olharmos para o mundo atual, sufocado por consumos e aparências, somos convidados a colher essa flor e plantá-la em nossa própria vida. Reduzir o supérfluo para que o essencial — o amor, a escuta, o cuidado — possa crescer.


2. A humildade que se ajoelha diante da vida


❝Abraça a Cristo pobre como tua única de esperança. Olha sem cessar para o espelho da eternidade, contempla sua humildade e pobreza, e deixa-te moldar por Ele.❞ Carta a Inês de Praga (3ª carta)


Representação de Clara e Francisco nas ruas de Assis, Itália.                               Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Representação de Clara e Francisco nas ruas de Assis, Itália. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

A humildade de Clara de Assis não era apenas uma postura discreta diante do mundo — era um modo de estar profundamente inserida no mistério da vida. Ao escolher o caminho da pobreza e da clausura, Clara não se isolou por desprezo ao mundo, mas para mergulhar mais intensamente na verdade do ser. Ela compreendia que a grandeza da alma se revela na pequenez das atitudes, no silêncio que escuta, nas mãos que servem.



Inspirada por Francisco, Clara via a criação inteira como reflexo da bondade de Deus. E, por isso, sentia-se irmã de todas as criaturas — não por sentimentalismo, mas por uma humildade radical: o reconhecimento de que todos partilhamos a mesma origem e a mesma fragilidade. A humildade para ela não era subserviência, mas consciência. Sabia-se pequena diante de Deus, e justamente por isso, sentia-se chamada a cuidar com reverência de tudo que é vida.


Comunhão do lava-pés com as irmãs Clarissas.                                                    Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Comunhão do lava-pés com as irmãs Clarissas. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Há uma força escondida na humildade que Clara viveu. Uma força que não grita, mas transforma. Ao lavar os pés de suas irmãs, ao compartilhar o pão, ao escutar com paciência, Clara ensinava com o próprio corpo que o caminho do Cristo é o caminho da descida. O mesmo Cristo que se abaixou para lavar os pés dos discípulos, abaixa-se também em Clara para erguer os caídos, consolar os cansados, dignificar os esquecidos.



Em tempos em que a arrogância e o individualismo parecem ser exaltados como virtudes, Clara nos devolve o valor do gesto humilde. Ela nos mostra que ajoelhar-se diante da vida — com reverência e não com medo — é abrir espaço para que a graça de Deus floresça em nós e através de nós. No jardim de Clara, cada flor é olhada com o mesmo carinho, porque nenhuma é maior ou menor: todas são dignas de cuidado.

 

3. Caridade viva: o amor que se faz gesto


Caridade nas Ruas – Luz na Escuridão. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Caridade nas Ruas – Luz na Escuridão. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Para Clara de Assis, a caridade não era uma virtude abstrata ou um ideal inalcançável — era o coração pulsante da vida cristã. Amar, para ela, era verbo que exigia movimento, presença e gesto concreto. A caridade vivida por Clara se expressava no cuidado diário, no serviço humilde às irmãs enfermas, no acolhimento silencioso de quem buscava consolo no Mosteiro de São Damião. Era o amor de Cristo tornado pão, abrigo e toque.


Clara compreendia que a caridade verdadeira nasce da compaixão — essa capacidade de sentir com o outro, de mergulhar na dor alheia sem julgamentos, apenas com ternura. Seu amor pelos pobres, pelos doentes, pelos abandonados, não era uma obrigação moral, mas uma resposta espontânea ao Evangelho. Viver a caridade era viver o Cristo crucificado e ressuscitado em cada pessoa que cruzava seu caminho.


Ela mesma dizia: “Ama a pobreza e este manto precioso te envolverá. Ama o Cristo pobre acima de todas as coisas e ninguém te arrebatará o prêmio eterno.” Nesse amor que desce até o chão, que se curva, que se doa, está o fundamento da vida de Clara. Não era a teologia da caridade apenas em palavras, mas em atitudes visíveis: partilhar o que se tem, escutar o que não é dito, estar presente com inteireza.


Clara de Assis cuidando de uma menina enferma.                                                           Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Clara de Assis cuidando de uma menina enferma. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Nos tempos atuais, quando a caridade muitas vezes é confundida com assistencialismo vazio ou com um dever pontual, Clara nos convida a redescobrir a sua essência evangélica: a caridade como estilo de vida. No jardim de Clara, a caridade é como o perfume das flores: não se vê, mas se sente — e transforma o ambiente. Amar é perfumar o outro com a bondade que emana de Deus. E isso começa no cotidiano, nas pequenas escolhas, na escuta atenta, no sorriso oferecido, no perdão silencioso.


Quem caminha nesse jardim é chamado a ser sinal do amor de Deus onde estiver. E isso só é possível quando a caridade deixa de ser conceito e se torna gesto, corpo, vida.


4. O acolhimento como forma de evangelho


Acolhimento.                                               Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Acolhimento. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Em uma época marcada por exclusões sociais, rígidas estruturas de classe e marginalização das mulheres, Clara de Assis fez de sua vida um espaço de acolhimento radical — onde o Evangelho deixava de ser apenas palavra e se tornava casa. O Mosteiro de São Damião, onde Clara viveu por mais de quatro décadas, não era apenas um espaço de clausura, mas um verdadeiro refúgio espiritual, onde as feridas humanas encontravam descanso e onde cada pessoa era recebida como imagem viva de Cristo.


O acolhimento, para Clara, não significava apenas abrir as portas físicas do convento, mas sobretudo escancarar as portas do coração. Ela compreendia que toda vida humana carrega um sagrado — e por isso, merece ser recebida com dignidade, escuta e compaixão. O outro, em sua dor e em sua beleza, era sempre bem-vindo. Sua prática de acolher não fazia distinção entre merecedores e não merecedores. No jardim de Clara, todas as rosas são bem-vindas — com espinhos, com pétalas frágeis, com histórias quebradas.


Acolhimento como Evangelho – Luz que Abraça a Margem.                                        Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Acolhimento como Evangelho – Luz que Abraça a Margem. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Essa forma de evangelizar por meio do acolhimento talvez seja uma das expressões mais profundas de sua espiritualidade. O amor vivido como hospitalidade do espírito, onde o outro é aceito como é, não como esperamos que seja. Essa postura de Clara nos desafia hoje, em tempos de polarizações, preconceitos e indiferença, a redescobrir o cristianismo como encontro e não como julgamento.


Acolher é evangelizar sem gritar, sem exigir, sem impor. É fazer do olhar um lugar de descanso, do gesto uma cura, do silêncio uma escuta. Acolher, como fazia Clara, é permitir que o outro floresça no seu tempo, sem pressa, sem cobrança. É criar um solo fértil de confiança e amor para que a graça de Deus possa agir.


E talvez essa seja a mais profunda beleza do jardim de Clara: um lugar onde ninguém precisa provar seu valor para ser amado. Onde não se pergunta de onde a pessoa veio, mas para onde ela pode crescer. Onde a fragilidade não é condenada, mas abraçada. Porque para Clara — e para o Cristo que ela seguiu — toda vida é digna de florescer.


5. Clara e Francisco: irmandade que cura


Clara e Francisco, o  Amor que Transborda, e a Irmandade que Cura.                                   Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Clara e Francisco, o Amor que Transborda, e a Irmandade que Cura. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

A história de Clara de Assis não pode ser contada sem o brilho sereno da presença de Francisco. E, da mesma forma, Francisco não seria o mesmo sem o espelho puro da alma de Clara. A relação entre os dois não foi de dependência, mas de profunda comunhão espiritual — uma irmandade que ultrapassava os limites do tempo, do gênero e das estruturas sociais. Eles se reconheceram não por aparência ou palavras, mas por afinidade de espírito: ambos desejavam viver o Evangelho em sua nudez mais pura.





❝O homem vale o que é diante de Deus, e nada mais.❞ — Fioretti di San Francesco (As Florezinhas de São Francisco)


Francisco: A Liberdade do Evangelho Descalço.                                                      Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Francisco: A Liberdade do Evangelho Descalço. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Francisco foi quem primeiro apontou o caminho da pobreza evangélica, da simplicidade radical e do amor às criaturas.


❝Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o irmão Sol... pela irmã Lua e as estrelas... pelo irmão Vento... pela irmã Água... pelo irmão Fogo... pela nossa irmã, a mãe Terra.❞ Cântico das Criaturas (Cântico do Irmão Sol)





Clara: Guardiã do Amor Silencioso.          Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Clara: Guardiã do Amor Silencioso. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

❝Ama com todo o teu ser Aquele que por teu amor se entregou totalmente.❞

Carta a Inês de Praga (4ª carta)


Clara, com sua força interior silenciosa, foi quem sustentou esse ideal no silêncio do claustro, dia após dia, com a fidelidade que brota do amor profundo.


Ele foi o trovador da liberdade, ela, a guardiã do amor. Ele caminhava pelas estradas da Úmbria, pregando com os pés; ela, do mosteiro, pregava com a vida, com o olhar, com a oração incessante.


❝Clara pregava mais com os olhos do que com palavras.❞

Do Processo de Canonização (testemunho das irmãs)


Clara e Francisco, o Amor que Transborda, a Irmandade que Cura.                                    Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Clara e Francisco, o Amor que Transborda, a Irmandade que Cura. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

A beleza dessa amizade espiritual reside na reciprocidade sem possessão, no respeito sem controle, na liberdade sem separação. Clara e Francisco se apoiaram sem se apagar, se escutaram sem se dominar, se inspiraram sem se confundir. Eram dois ramos da mesma árvore — diferentes, mas alimentados pela mesma raiz do Evangelho.


Essa irmandade nos ensina que o verdadeiro encontro entre pessoas acontece quando há espaço para o crescimento mútuo. Não é preciso aprisionar o outro para ser amado. Clara e Francisco viveram uma comunhão que curava, porque brotava do desejo comum de servir a Deus nos pobres, nos doentes, nos excluídos. Eles descobriram que, quando o amor é puro, ele não exige, apenas transborda.


❝Quando o coração ama verdadeiramente, não se cansa nem se apaga, mas se inflama.❞ Pensamentos atribuídos a Clara pelas irmãs clarissas


No jardim de Clara, essa amizade com Francisco é uma fonte de inspiração. Mostra-nos que é possível caminhar juntos, mesmo em rotas diferentes, quando o horizonte é o mesmo. E mais: ensina-nos que o amor que cura é aquele que respeita o mistério do outro, que não exige frutos imediatos, mas cultiva, com paciência e fé, a beleza única de cada rosa.


6. O jardim como espiritualidade prática


❝No jardim de Clara, o amor não gritava. Ele florescia em silêncio.❞


Ensinamentos de Clara de Assis pelas irmãs clarissas


❝Lá, o amor não era falado — era cuidado.❞                                            Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
❝Lá, o amor não era falado — era cuidado.❞ Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

O jardim de Clara de Assis não é uma metáfora romântica — é uma realidade espiritual construída com gestos cotidianos, escolhas conscientes e amor persistente. É uma espiritualidade que floresce não apenas nas orações, mas na forma como se lava uma ferida, como se divide o pão, como se ouve uma irmã em silêncio. Para Clara, espiritualidade não era fuga do mundo, mas modo de estar no mundo com leveza, gratidão e reverência.





Acolher e Amparar.                            Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Acolher e Amparar. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

"Clara me viu chegar e não perguntou meu passado. Pegou minhas mãos sujas e cansadas e me colocou diante do pequeno canteiro de ervas. Disse apenas:

‘Aqui você pode começar de novo. A terra entende as dores antes mesmo que a boca as confesse.’

E assim foi. Eu comecei regando plantas — e fui sendo regada por um silêncio que curava." - Testemunho de uma clarissa


No Mosteiro de São Damião, Clara criou um espaço onde o Evangelho era vivido com os pés no chão e o coração voltado para o céu. A contemplação e a ação estavam unidas: rezar era também servir; adorar era também acolher. A vida simples das irmãs pobres de Santa Clara era um testemunho vivo de que a fé se encarna na rotina — e que a beleza do divino se revela nas pequenas coisas: na mesa partilhada, no trabalho feito com alegria, no cuidado com a natureza, no silêncio que escuta Deus e o próximo.


A Espiritualidade prática do Jardim de Clara. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
A Espiritualidade prática do Jardim de Clara. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

"Não sei quando comecei a sorrir de novo. Só sei que um dia, no meio da lavanda, ouvi meu coração dizer: “Sou amada.” E foi como colher uma flor que nasceu dentro de mim.” - Testemunho de uma irmã clarissa


Essa espiritualidade prática é profundamente atual. Em um mundo ansioso por resultados, por eficiência, por consumo e distrações constantes, Clara nos convida a um ritmo diferente: o ritmo da escuta, da presença, da delicadeza. Ela nos lembra que cada ação, por mais simples que seja, pode ser sagrada se feita com amor e intenção. O modo como tratamos as pessoas, como cuidamos da casa, como respondemos às dificuldades — tudo isso é parte do jardim que cultivamos com a vida.


“Antes de vir para cá, eu queria servir a Deus fazendo grandes coisas. Eu sonhava com obras, discursos, conversões. Quando cheguei, Clara me deu uma enxada e disse: ‘Aqui servimos ao Cristo pobre não com pressa, mas com presença. Acalme seu coração, filha.’" - Testemunho de um clarissa.


No jardim de Clara, a espiritualidade não é espetáculo, mas serviço. Não é aparência, mas essência. E é justamente essa espiritualidade silenciosa e concreta que transforma vidas, porque toca o mais profundo da alma humana: o desejo de ser amado, de ser visto, de ser cuidado.


Viver no jardim de Clara é aceitar que a fé não precisa de grandes gestos para ser autêntica. Basta que ela seja vivida com verdade. É fazer do cotidiano um altar, das mãos instrumentos de paz, e do coração uma terra fértil onde Deus possa plantar suas flores de compaixão, humildade e amor.


7. Conclusão: Tornar-se rosa no jardim da acolhida


Acolher e Amparar.                                   Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
Acolher e Amparar. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

“Eu tinha perdido minha mãe. E perdi junto minha vontade de viver. Quando Clara me acolheu, ela não disse: ‘Seja forte’. Ela só sentou comigo, no jardim, e ficou ali. Em silêncio. Um dia, estávamos colhendo camomila, e comecei a chorar. Ela não disse para parar. Só me olhou com aqueles olhos de oração e disse:

‘As lágrimas também irrigam. O jardim do coração floresce quando não impedimos a chuva de cair.’

Foi nesse dia que comecei a entender o que era ser acolhida. Ser acolhida é não precisar esconder a dor. É ter alguém que rega com você, mesmo quando você não consegue levantar a cabeça.” - Testemunho de uma clarissa.


No jardim de Clara de Assis, todas as rosas são bem-vindas — e isso não é apenas uma bela metáfora, mas uma convocação profunda. É o chamado para que cada pessoa, com suas luzes e sombras, com suas histórias e cicatrizes, encontre um lugar de acolhida, de repouso e de renovação. Clara, com sua vida silenciosa e luminosa, nos convida a sermos parte desse jardim — não apenas como visitantes, mas como cultivadores.


“vaso de humildade, armário de castidade, ardor da caridade, doçura da bondade, ... prestimosa para se compadecer, discreta para se calar; madura no silêncio.”

Ser rosa no jardim de Clara é aceitar que somos únicos, frágeis, mas infinitamente amados por Deus. É compreender que nosso valor não está no que possuímos ou aparentamos, mas no que somos diante do mistério do amor divino. E, acima de tudo, é acolher também as outras rosas ao nosso redor — com suas diferenças, com seus espinhos, com sua beleza.


Segundo a Bula de Canonização, Santa Clara foi descrita como quem:


“plantou e cultivou no campo da fé a vinha da pobreza, da qual se colhem frutos de salvação, abundantes e ricos. Ela fez no terreno da Igreja o jardim da humildade, formada pela falta de muitas coisas, em que se colhe uma grande variedade de virtudes.”

A vida de Clara nos ensina que espiritualidade não é um privilégio dos fortes, dos puros ou dos preparados. Pelo contrário: é um caminho para os que se sabem pequenos, necessitados e desejosos de florescer. Sua humildade nos desarma, sua simplicidade nos inspira, sua caridade nos move. Ela fez de sua vida um jardim onde o Evangelho não era apenas anunciado, mas encarnado — um lugar onde o amor se tornava lar.


Hoje, mais do que nunca, somos chamados a plantar esse jardim onde estivermos. Em nossas famílias, comunidades, trabalhos, relações. Somos chamados a viver a fé com delicadeza, com coragem e com ternura. A praticar a simplicidade que liberta, a humildade que acolhe, a caridade que cura. A transformar nossos espaços em refúgios de paz, nossos gestos em sementes de esperança, e nossas palavras em fontes de consolo.


No Jardim de Clara, o acolhimento não é um gesto pontual — é um modo de viver.    Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.
No Jardim de Clara, o acolhimento não é um gesto pontual — é um modo de viver. Imagem do Cantinho dos Anciãos criada por i.a.

Clara de Assis continua a nos ensinar — não com teorias, mas com a beleza de uma vida entregue por amor. Que possamos aprender com ela a sermos também jardim. Que o outro, ao se aproximar de nós, encontre descanso, acolhida e flor. Porque no jardim de Clara, onde todas as rosas são bem-vindas, aprendemos que toda vida, ao ser amada, floresce.


No Jardim de Clara, o acolhimento não é um gesto pontual — é um modo de viver. Cada irmã é uma flor diferente, com histórias, dores e tempos únicos. Ali, o semear é diário:


Semear paciência com quem ainda não floresceu.

Semear escuta onde antes havia silêncio duro.

Semear beleza mesmo entre as pedras.

E, sobretudo, semear dentro o amor que se aprende cuidando do outro.


❝O coração que ama aprende a cultivar. E quem cultiva com amor, sempre será colhido por Deus.❞ — Frase do Cantinho dos Anciãos inspirada na Espiritualidade do Jardim de Clara de Assis



Paz e Bem a todas as Clarissas e a todos os Franciscanos, em Cristo nosso Senhor!


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Amor, Luz e Paz Sempre!

Salve a Grande Luz!



Ruan Fernandes

Equipe Cantinho dos Anciãos



Referências:


CLARA DE ASSIS. Cartas a Inês de Praga. Tradução de Frei Alberto Beckhäuser. São Paulo: Vozes, 2006.

CLARA DE ASSIS. Testamento de Santa Clara. In: Fontes Clarianas. São Paulo: Vozes, 2006.

FRANCISCO DE ASSIS. Escritos de São Francisco de Assis. Tradução de Frei Fernando Domingues. Petrópolis: Vozes, 2001.

FRANCISCO DE ASSIS. Carta aos Fiéis; Regra Não Bulada; Cântico das Criaturas. In: Fontes Franciscanas. São Paulo: Vozes, 2006.

FREI ALBERTO BECKHÄUSER (Org.). Fontes Franciscanas e Clarianas: Escritos e documentos sobre São Francisco e Santa Clara de Assis. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2006.

JOÃO PAULO II. Carta Apostólica para o VIII Centenário de Santa Clara de Assis. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1993.

1 comentário


Joãof27
Joãof27
06 de set.

Que texto bonito e cheio de alma! A forma como você falou de Santa Clara de Assis e desse "jardim" que acolhe todas as rosas me tocou de verdade. Dá uma sensação de respiro, sabe? Como se fosse possível viver com mais leveza, sem precisar ser perfeito o tempo todo. É inspirador pensar que existe espaço pra todo mundo florescer, do seu jeito e no seu tempo.

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