Ataques Espirituais: por nós mesmos
- Ruan Fernandes da Silva

- 4 de nov.
- 25 min de leitura

Ataques Espirituais provindos de nossos próprios pensamentos e ações
Introdução
O tema do Quarto Estudo do Curso Mediúnico de nossa Casa de Caridade Clara de Assis - CCCA, é: "Os ataques espirituais – através de nós mesmos".
A obsessão, muitas vezes, é associada somente à ação dos Espíritos desencarnados sobre os vivos. Porém, a Doutrina Espírita e autores clássicos como Kardec, Emmanuel e André Luiz também reconhecem a obsessão entre encarnados — quando uma pessoa viva exerce influência negativa sobre si mesma ou sobre outras.
Esse fenômeno pode assumir diversas formas: desde a auto obsessão até o vampirismo energético, passando por relações interpessoais, manipulações coletivas e até pensamentos de inveja e maledicência.
A seguir, exploraremos casos narrativos que ilustram cada tipo de obsessão entre encarnados, enriquecidos com descrições espirituais visuais e análises fundamentadas.
1. Auto Obsessão – O cárcere da própria mente

Cena narrativa 1 - Médium se auto sabotando
Marcos crescera em lar espírita e tinha talento para a escrita mediúnica. Suas mensagens eram claras, trazendo consolo a muitos. Contudo, ao se comparar com outros médiuns mais reconhecidos, sentiu-se menor, incapaz e inútil.
A dúvida transformou-se em mágoa silenciosa. Ele passou a se sabotar: deixava de escrever, alegava cansaço, cultivava pensamentos de inferioridade. No íntimo, acreditava não ser merecedor dos dons recebidos.
O potencial que antes iluminava se fechava em sombras criadas por ele mesmo. Aos poucos, o sentimento de culpa pelo que chamava de “fracasso” dominou sua mente. Não eram críticas externas, mas sua própria voz interior que o martelava sem piedade.
A autopunição se tornara rotina, corroendo a alegria de viver. Sua saúde física também começou a declinar. Insônia, gastrite e dores sem causa aparente o acompanhavam. O corpo refletia os pensamentos doentios que se repetiam como um eco sem fim.

Representação espiritual visual
No plano espiritual, via-se Marcos enredado em correntes que partiam de sua própria cabeça. Eram grilhões forjados pelo pensamento fixo em culpa e revolta. Cada elo era uma lembrança distorcida, uma crítica contra si mesmo.
Sua aura mostrava rachaduras, como vidro trincado, deixando escapar energia vital. Espíritos compassivos observavam de longe, aguardando o momento em que ele buscasse luz, pois apenas sua vontade poderia romper as algemas internas.
Comentário
A auto-obsessão é o aprisionamento em padrões mentais destrutivos, quando o encarnado se torna o próprio obsessor.
Emmanuel, em Pensamento e Vida (cap. 6), afirma que “o pensamento é força criadora que plasma nossa realidade íntima”. Ou seja, cultivar ideias de culpa ou ódio contra si mesmo é envenenar a própria fonte de vida.
André Luiz, em Evolução em Dois Mundos (cap. 2), lembra que tais fixações repercutem no períspirito, gerando doenças físicas e psíquicas. O antídoto é a disciplina mental, o cultivo do amor-próprio equilibrado e da prece que reorganiza o campo íntimo.
2. Desdobramentos da Auto Obsessão - a clausura interior refletida nos espaços virtuais e físicos

2.1. Cena narrativa 2 — O Médium com Vícios em jogos de apostas virtuais
Rafael era um jovem médium promissor. Tinha sensibilidade aguçada, percebia a presença dos espíritos desde criança e, nos primeiros anos, foi exemplo de dedicação e disciplina.
Porém, quando os convites da vida mundana se intensificaram, ele não resistiu. O álcool entrou como distração, as drogas como fuga e os jogos virtuais como anestesia.
Aos poucos, suas responsabilidades no centro foram abandonadas. Prometia comparecer às reuniões, mas faltava.

Jurava aos familiares que estava bem, mas passava noites inteiras em frente ao computador, apostando dinheiro que não tinha.
O salário mal cobria as dívidas, e sua vida financeira se transformou em um abismo sem fundo.
Com o tempo, a mentira compulsiva se instalou. Inventava histórias para justificar os gastos, distorcia a verdade para esconder ausências, enganava quem mais o amava.
Seu olhar já não tinha brilho, apenas o vazio de quem se perde entre ilusões e compulsões. O dom mediúnico, antes forte, foi se tornando caótico: ele via e ouvia vozes em meio às crises de abstinência, mas já não discernia se eram manifestações espirituais ou delírios de sua mente destruída.

O ápice veio numa noite de desespero. Endividado, rejeitado pelos familiares e sem forças para lutar contra os próprios vícios, Rafael mergulhou na escuridão do desespero.
Tomado por pensamentos obsessivos e influências espirituais, tentou contra a própria vida.
O ato não se consumou, mas o choque deixou marcas profundas, revelando a extensão da prisão em que estava.
Representação Espiritual Visual
No plano invisível, Rafael era visto envolto em correntes negras que se enroscavam em seus pulsos e tornozelos.

Espíritos viciados, magros e de olhar faminto, acoplavam-se ao seu campo energético, como parasitas sugando cada resquício de vitalidade.
Sua aura, antes clara, estava rasgada por fissuras escuras por onde se infiltravam tentáculos fluídicos.
Cada gole de álcool, cada droga aspirada, cada aposta perdida fazia essas fissuras se abrirem mais, emitindo estalos de energia densa que atraíam ainda mais obsessores.
Em sua mente espiritual, um grande cassino astral se formava, com mesas infinitas de jogos e luzes piscantes. Espíritos zombeteiros o aplaudiam cada vez que ele perdia, alimentando-se de sua frustração. Atrás das luzes, sombras riam alto, encorajando-o a apostar ainda mais.
No momento de seu desespero, o cenário espiritual se transformou em um precipício. À beira, Rafael olhava para o vazio, enquanto mãos esqueléticas o empurravam. Mas, de longe, uma pequena chama branca ainda resistia em sua fronte, sinal de que os mentores não haviam desistido. Essa centelha era sua única esperança de reerguer-se um dia.

Comentário
O caso de Rafael revela um aspecto moderno e cada vez mais comum da auto-obsessão, que se manifesta nas formas sutis de fuga da realidade — agora ampliadas pelos recursos tecnológicos e pela virtualidade.
Emmanuel, no livro “Pensamento e Vida” (cap. 13 – Vício), ensina que “o pensamento é força modeladora e, quando se fixa em imagens de prazer desequilibrado, converte-se em energia viciosa que atrai entidades do mesmo teor vibratório”. Assim, as conexões de Rafael com os jogos e substâncias químicas não eram apenas materiais: eram pontes mentais que o ligavam a regiões sombrias e a consciências igualmente enfermas.
No plano espiritual, André Luiz descreve em “Libertação” e “Nos Domínios da Mediunidade” que os vícios humanos criam verdadeiras simbioses fluídicas, nas quais espíritos em sofrimento se alimentam das sensações emanadas pelos encarnados. Cada impulso de fuga, cada aposta e cada mentira de Rafael intensificava o laço com esses irmãos ainda presos ao gozo ilusório. A dependência física, emocional e espiritual se tornava uma teia, difícil de romper sem o esforço do arrependimento e da prece.
Divaldo Franco, interpretando o pensamento de Joanna de Ângelis, adverte em “O Ser Consciente” que “a fuga de si mesmo é o princípio de toda alienação”. Rafael, ao negar o enfrentamento de suas fragilidades e buscar refúgio nas luzes do vício, mergulhou na alienação espiritual, afastando-se da própria essência divina. A ilusão do prazer instantâneo substituiu o verdadeiro sentido da existência — a evolução do Espírito.
A auto-obsessão digital, como poderíamos chamar, reflete um quadro em que o indivíduo se torna refém das próprias criações mentais, encontrando nas telas o espelho de suas carências. Emmanuel, em “Seara dos Médiuns”, lembra que “ninguém é obsidiado sem consentimento, ainda que inconsciente”, reforçando que a sintonia espiritual é sempre uma escolha vibratória. Assim, Rafael, ao cultivar a indisciplina, abriu portas psíquicas pelas quais penetraram os companheiros do erro, sem que eles precisassem forçar entrada.

André Luiz afirma em “Entre a Terra e o Céu” que “a dor é a mensageira de Deus a despertar consciências adormecidas”. O sofrimento que se seguiu ao seu colapso moral e emocional pode ser, portanto, o primeiro passo para a reconstrução de si.
O caminho de libertação inicia-se quando o indivíduo reconhece a própria prisão. A prece sincera, a busca pela terapia, o retorno ao serviço no bem e à convivência saudável são remédios espirituais poderosos. Divaldo ensina que “ninguém se reergue sem autoamor e sem disciplina da vontade”. A reforma íntima não é castigo, mas reencontro com o Cristo interno, que permanece silencioso à espera de ser ouvido.
Assim, os desdobramentos da auto-obsessão nos tempos modernos exigem vigilância redobrada. As tentações não mais se escondem em becos ou tavernas, mas se oferecem em telas luminosas que seduzem o olhar e escravizam o espírito. No entanto, como nos recorda Chico Xavier, “ninguém está tão caído que não possa levantar-se, nem tão perdido que não possa reencontrar o caminho”.
A esperança, quando sustentada pelo esforço e pela fé, é o antídoto divino contra qualquer forma de aprisionamento, seja nos labirintos da mente ou nas ilusões virtuais.
3. Obsessão interpessoal direta – As correntes do ciúme

Cena narrativa 3 - O ciúme humano e o controle disfarçado de cuidado
Cláudia era uma jovem estudiosa e dedicada às reuniões mediúnicas. Entretanto, o relacionamento com seu namorado, Sérgio, começou a se tornar um campo de tensões.
Ele a acompanhava ao centro, mas exigia controle sobre suas amizades e horários. Sempre dizia que “era para o bem dela”, mas a vigiava em mensagens, questionava cada passo, e se irritava quando ela queria servir em atividades voluntárias sem sua presença.
Aos poucos, Cláudia já não tinha liberdade. Sérgio usava chantagem emocional: ameaçava terminar a relação, acusava-a de não amá-lo o suficiente. Ela se sentia culpada, como se fosse errada por desejar autonomia. A alegria de servir foi se transformando em peso.
O centro espírita, antes refúgio de paz, agora era palco de angústias silenciosas. O ciúme tornou-se corrente invisível, aprisionando Cláudia ao controle sufocante.

Representação espiritual visual
Na dimensão invisível, cordas grossas envolviam os pulsos de Cláudia, puxadas pelas mãos de Sérgio.
Seus corpos espirituais estavam conectados por fios densos de energia cinzenta, vibrando medo e posse.
Cada lágrima dela alimentava e fazia vibrar ainda mais a trama das energias que se adensavam em dor e sofrimento. Ao mesmo tempo, os irmãos e irmãs socorristas e guias observavam de forma muito próxima uma janela de abertura gerando e buscando intuir, a inspiração para que ela encontrasse forças no Evangelho para romper o ciclo.

Comentário
A obsessão interpessoal ocorre quando um encarnado subjuga outro por manipulação ou controle.
Kardec, em O Livro dos Médiuns (cap. XXIII), já adverte que o fluido humano pode ser instrumento de dominação. O ciúme, a chantagem e a imposição da vontade criam verdadeiras correntes energéticas.
Chico Xavier, em E a Vida Continua..., mostra que tais vínculos adoecem não só a vítima, mas também o obsessor, gerando dívidas espirituais que prosseguem após a morte. O caminho de libertação é o exercício da autonomia e do amor sem posse.
4. Auto Obsessão por vaidade e Manipulação Espiritual – a prisão da mediunidade egocêntrica e o Animismo Desequilibrado

4.1. Cena narrativa 4 — A Médium em Vaidade e o Animismo Desequilibrado
Beatriz era uma médium em crescimento em sua comunidade. No início, suas manifestações eram simples, humildes, cheias de ternura e abertura para orientações fraternas. Mas, aos poucos, sua vaidade começou a florescer.
A mediunidade simples que deveria florescer naturalmente foi cedendo espaço para prazeres e vaidades. Os poucos elogios recebidos se traduziam em seu interior como chamas de orgulho enaltecendo sua "força espiritual" e, aos poucos, transformaram seu coração. Beatriz passou a se encantar com a própria imagem de intermediária do invisível.

Em suas giras, começou a dizer que incorporava ou dava passividade a entidades de renome — médicos espirituais, pombas giras sensuais, ciganas sedutoras, caboclas altivas — mas, as palavras transmitidas, não correspondiam a lucidez das falas espirituais dessas mesmas entidades, algo estava muito errado.
O tom era de manipulação, de conselhos que mais favoreciam suas vontades e caprichos pessoais do que iluminavam os caminhos alheios. Aos poucos, o animismo, distorcido por emoções e desejos íntimos, substituiu a mediunidade autêntica.

No particular, Beatriz usava o nome das entidades para justificar escolhas duvidosas, como:
“A pomba gira me autorizou a viver intensamente meus prazeres”, - dizia ela quando se entregava a relacionamentos efêmeros e festas.
Ou ainda:
“A cigana me pediu para eu desfrutar da vida”, falava quando gastava horas em bebidas.
Assim, um véu perigoso se estendeu: sua própria mente confundida passou a vestir máscaras espirituais para legitimar os vícios, a vaidade ao alimentar o ego e sufocar o espírito.
E da mesma forma, começou a fazer trocas astrais vendendo serviços espirituais (leituras de cartas, tratamentos, orientações, etc) com falsas orientações de entidades de luz, que na verdade eram entidades zombeteiras com orientações de finalidade aos interesses e ouvidos de Beatriz, para criarem armadilhas, em que a médium se enredasse ainda mais na vaidade e no orgulho.

No centro espírita que frequentava e despertava sua vibração, aos poucos sua luz foi se esvaindo. Alguns médiuns começaram a perceber as incoerências, outros se afastaram em silêncio.
Beatriz, porém, sentia-se ainda mais poderosa, acreditando ser escolhida e incompreendida. Contudo, era tudo ilusão de sua mente. Na verdade, a sintonia com entidades em sofrimento aumentava, sugando sua energia vital.
O animismo vaidoso tornava-se um campo fértil para obsessores que se divertiam vestindo roupas como fantasias que ela mesma lhes entregava.
Seu reflexo espiritual mostrava-se corroído: as entidades de luz não mais se manifestavam, mas ela não percebia. Olhos espirituais observavam-na com pesar, vendo-a afundar no teatro da própria mente, acreditando-se canal do sagrado, quando, na verdade, era apenas um eco distorcido de si mesma.

Representação Espiritual Visual
No plano invisível, Beatriz aparecia como uma marionete cercada por fios negros, que entidades zombeteiras puxavam com prazer. Cada vez que ela se apresentava como uma pomba gira ou um cigano, uma máscara grotesca se formava sobre seu rosto astral, deformando sua fisionomia em algo híbrido e falso. A energia de seu chakra cardíaco era comprimida e ofuscada para melindrar os sentidos.
Atrás dela, luzes que antes irradiavam em tons dourados estavam agora apagadas, substituídas por reflexos vermelhos e lilases disformes, como chamas de um fogo enganador. Espíritos zombeteiros gargalhavam, trocando máscaras entre si e vestindo trajes caricatos de médicos, caboclos ou ciganas, num carnaval sombrio.
A aura da médium, antes translúcida, estava manchada por manchas escuras que pulsavam como feridas abertas. O ambiente espiritual em que trabalhava já não era mais um templo, mas um palco enevoado, onde as ilusões se misturavam às intenções humanas.
O mais trágico era a ausência de amparo elevado: mentores a observavam de longe, em silêncio, esperando o momento em que a dor e a lucidez da queda a fariam clamar pela verdade. Até lá, seu cenário espiritual era um teatro de sombras sustentado pela vaidade.

Comentário
A mediunidade é uma ponte sagrada entre o visível e o invisível, mas quando o ego se coloca no centro dessa ponte, ela deixa de servir à luz e passa a refletir as sombras do próprio médium.
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (cap. XX), adverte que “os Espíritos se comunicam conforme a natureza moral do médium” — e, assim, o orgulho, o personalismo e o desejo de destaque tornam-se ímãs poderosos para inteligências enganadoras, que exploram a vaidade humana como porta de entrada. Emmanuel reforça, em Seara dos Médiuns, que o servidor da luz precisa “esquecer-se de si mesmo para ser fiel ao Cristo”. Quando Beatriz começou a buscar reconhecimento mais do que servir, o intercâmbio espiritual deixou de ser canal de amor para se tornar espelho de suas próprias ilusões.
André Luiz, em Nos Domínios da Mediunidade, descreve o animismo desequilibrado como o “campo em que a mente humana substitui o Espírito comunicante, projetando seus próprios desejos e criações mentais”. É o instante em que o médium se torna prisioneiro das próprias imagens, acreditando estar inspirado por entidades elevadas, quando, na verdade, apenas ecoa as vozes da vaidade e do autoengano. Divaldo Franco, inspirado por Joanna de Ângelis, ensina que “a vaidade espiritual é a mais perigosa das máscaras, pois se disfarça de virtude”. A libertação desse ciclo começa pelo reconhecimento humilde do erro, pela prece sincera e pelo retorno ao Evangelho como bússola interior. Só então a mediunidade retoma seu verdadeiro sentido: ser instrumento de luz e serviço, jamais de poder ou exaltação pessoal.
5. Obsessão coletiva

5.1 – Cena Narrativa 5 – O médium manipulador no centro espírita
Um homem chegou, com o corpo alquebrado e a mente tomada por dores invisíveis numa determinada Casa Espírita. Falava pouco, mostrava-se simples, quase humilde, trazendo no semblante a marca de quem carregava fardos pesados.
À primeira vista, todos se compadeciam, acreditando em sua sinceridade.
O doente físico e espiritual parecia buscar refúgio.
Uma dirigente da Casa Espírita, ao vê-lo no portão, se antecipou preocupada com a imagem que via e se dirigiu até o homem e falou:
— “Seja bem-vindo, irmão. Aqui encontrará paz e apoio para sua caminhada.”
Ele sorriu, em voz baixa:
— “É o que mais preciso... um pouco de luz no meio da minha escuridão.”
Mas por trás daquela fragilidade, ocultava segredos inconfessáveis. Era um homem marcado por escolhas sombrias, por alianças escusas e práticas que feriam a consciência. Manipulava informações pessoais, inventava histórias, e já tramava como se reerguer, não pela renovação interior, mas pelo controle dos outros. Ainda no fundo do poço moral, percebia a oportunidade de domínio que a confiança alheia lhe traria.

Nos primeiros meses, conquistou espaço com gestos de bondade aparente.
Ajudava em pequenas tarefas, demonstrava zelo nas reuniões, mantinha postura respeitosa diante dos dirigentes.
Ganhava confiança passo a passo. Um trabalhador chegou a comentar com outro nos corredores:
— “Esse irmão é exemplo de superação, não acha?”
— “Sim... com tanto sofrimento, ainda encontra forças para servir. É uma inspiração para nós.”

Pouco a pouco, começou a opinar com firmeza nas decisões da casa. Seus argumentos eram bem estruturados, sua fala transmitia convicção. Alegava experiência em outros centros, como se conhecesse os bastidores do movimento espírita. Assim, insinuava-se como alguém capaz de “orientar melhor” os caminhos da instituição. Seu tom, inicialmente tímido, tornava-se cada vez mais seguro, quase impositivo.
Logo, o discurso de vítima deu lugar ao discurso de autoridade. Pouco a pouco, começou a opinar com firmeza nas decisões da casa. Alegava ter passado por diversos centros, trazendo histórias e “ensinamentos” que impressionavam os ouvintes. O que ninguém percebia era que, em sua trajetória, ele havia se envolvido em práticas escusas, trabalhos espirituais marcados pela vaidade, pela busca de poder e pela exploração da fragilidade alheia. Agora, disfarçadamente, começava a semear esses mesmos elementos no novo grupo.

Em uma reunião mediúnica, aproveitou-se de um momento de silêncio para sugerir algo que destoava da pureza do trabalho:
— “Em outros lugares onde trabalhei, aprendi que certos espíritos precisam ser atendidos com firmeza. Às vezes, é necessário impor a vontade do médium para que obedeçam. Talvez devêssemos adotar métodos mais diretos.”
Um médium mais antigo, intrigado, retrucou:
— “Mas não foi isso que aprendemos... Nosso esforço deve ser sempre pela caridade e pela humildade.”
Ele, com voz calma, mas carregada de persuasão, rebateu:
— “Compreendo sua preocupação, meu irmão, mas nem sempre a teoria funciona na prática. Há recursos que não estão nos livros, mas que são eficazes. Não seria melhor garantir resultados, mesmo que os caminhos sejam diferentes?”
Essas insinuações, que surgiam como conselhos experientes, na verdade eram tentativas de distorcer o trabalho mediúnico, abrindo brechas para a manipulação das energias e para a influência de entidades inferiores, afinadas com sua sombra.
Certo dia, ao conversar em particular com um pequeno grupo, deixou escapar sua ambição:
— “Se eu pudesse reorganizar esta casa, ela seria muito mais produtiva espiritualmente. ”Um dos médiuns retrucou, intrigado:
— “Mas não é função da diretoria conduzir esses rumos?” Ele, com sorriso cínico, respondeu:— “Às vezes, a direção não enxerga o que é melhor. Alguém precisa abrir seus olhos.”
Aos olhos dos frequentadores, sua presença parecia renovadora. Mas nos bastidores, já controlava escalas mediúnicas, exigia posições de destaque e impunha sua palavra como verdade inquestionável. Os que o questionavam sofriam críticas veladas, ironias sutis ou exclusão dos trabalhos.
Sua influência expandia-se também ao campo material: assumiu parte da administração das doações, desviando recursos sob o pretexto de “gestão responsável”. Certa vez, ao ser indagado por uma tesoureira sobre valores que não batiam, rebateu com firmeza:
— “Minha irmã, talvez tenha se confundido nos registros. Confie em mim, está tudo em ordem.”
A mulher, insegura, acabou por aceitar, mas saiu com o coração apertado.

A máscara de piedade escondia cobiça crescente. E, não bastasse a corrupção financeira, revelava-se moralmente degradado. Utilizava a confiança das médiuns mais jovens para insinuar-se com elogios excessivos e convites fora do ambiente do centro. Em uma ocasião, ao despedir-se de uma delas, deixou escapar:
— “Você tem uma luz especial... deveria me permitir acompanhá-la mais de perto.”
A médium, desconfortável, respondeu em tom firme:
— “Prefiro manter nossa convivência apenas aqui no trabalho espiritual.”
O centro, antes reduto de luz, agora era palco de intrigas.

Correntes vibratórias densas impregnaram o ambiente, tornando as reuniões pesadas e confusas. Espíritos inferiores, aliados a ele, alimentavam-se das discórdias geradas. Em certa noite, um dirigente mais atento ousou confrontá-lo:
— “Irmão, tenho observado certa rigidez em suas colocações. Será que não estamos nos afastando do espírito de fraternidade?” Ele, com olhar calmo mas voz cortante, respondeu:
— “Fraternidade não significa desordem. Se não houver liderança firme, este centro perderá o rumo.”
A casa sofria em silêncio, sem perceber plenamente que a obsessão coletiva já estava em curso.
Aquele homem, outrora acolhido como enfermo necessitado de auxílio, havia se tornado instrumento de perturbação. No íntimo, já não buscava cura, mas domínio. Sua obsessão pessoal expandira-se e contaminara o grupo, explorando as fragilidades espirituais daqueles que nele confiavam.
Representação espiritual visual
No plano espiritual, Eduardo aparecia como rei em trono de ouro falso. Sobre sua cabeça, coroas de fumaça negra se formavam e se desmanchavam, símbolos da vaidade transitória. Espíritos zombeteiros o rodeavam, estimulando seu orgulho.
A casa espiritual refletia o desequilíbrio: paredes energéticas antes claras estavam agora manchadas de cinza, enquanto irmãos necessitados eram afastados pela atmosfera pesada.
Comentário
Essa narrativa ilustra a obsessão coletiva em ambiente religioso, quando um indivíduo subjuga mentes e corações por carisma e vaidade. Emmanuel, em Fonte Viva (item 88), adverte sobre o “império do pensamento” e o perigo de líderes que usam a fé como instrumento de dominação. A Doutrina Espírita orienta que a verdadeira autoridade se mede pelo serviço e pelo exemplo, nunca pela imposição.
O abuso da mediunidade gera débitos severos, como André Luiz expõe em Nos Domínios da Mediunidade (cap. 16), ao mostrar médiuns que pervertem o dom em vaidade e comércio.
6. Obsessão por intenção – As flechas da maledicência

6.1. Cena narrativa 6 - O veneno da inveja
Rose era comerciante dedicada, mas o sucesso despertou inveja em vizinhos. Alguns comentavam: “um dia essa loja quebra”, “ninguém cresce tão rápido sem sujar as mãos”.
Os murmúrios se espalhavam como praga silenciosa. Ela começou a sentir dores de cabeça do nada e um peso no peito, sem motivo aparente.
As vendas diminuíram, e seu ânimo se esvaía. Embora não houvesse ataques diretos, as palavras de inveja a rodeavam como nuvem tóxica.
No lar, o desânimo se estendia: discussões banais surgiam, a harmonia familiar se desajustava.
A cada comentário maldoso, ela absorvia vibrações que afetavam sua energia vital. Algumas poucas pessoas lhe orientaram fazer preces e outras até mesmo lhe indicaram locais para fazer trabalhos espirituais e tirar demandas. Contudo, ela não escutava, pois acreditava que não existia essas coisas espirituais e por isso o problema era só uma má fase da vida. O quadro só piorava gradualmente. Sem perceber, tornara-se alvo de uma corrente mental coletiva, formada por pensamentos envenenados.

Representação espiritual visual
Na dimensão espiritual, flechas negras cruzavam o espaço e atingiam a aura de Rose.
Cada comentário malicioso se condensava em projétil energético, abrindo pequenas fissuras em seu campo fluídico.
Atrás dela, mentores buscavam defender e inspirar, mas a sintonia vibratória enfraquecida facilitava a penetração das más influências.
Comentário
Essa é a obsessão por intenção, ou “feitiço mental”, quando pensamentos negativos persistentes agem como forças reais. Kardec, em O Livro dos Espíritos (q. 459), explica que somos constantemente influenciados por pensamentos alheios.
Isso vale também para encarnados. André Luiz, em Ação e Reação (cap. 3), reforça que a maledicência é energia que adoece não apenas a vítima, mas também quem a emite, criando laços de sofrimento mútuo. O remédio é cultivar vibrações de caridade, que se tornam verdadeiro escudo protetor.
7. Obsessão energética por vampirização - Dois casos

7.1. Cena narrativa 7 – O amigo que suga
Carlos gostava de estar cercado de amigos. Muito feliz inspirava momentos de alegria de forma descontraída com todos. Mas havia um em especial, Júlio, um homem mais velho e que já tinha muito tempo tempo na empresa. Nas conversas da roda de amigos era o que parecia sempre drená-lo.
Após alguns encontros com os amigos, após o trabalho, Carlos sentia-se exausto, sem forças, como se tivesse corrido uma maratona. Júlio quando falava compartilhava notícias e reclamações sem parar de seus problemas, reclamava de tudo e nunca ouvia conselhos.
Sempre buscava atenção exclusiva ao compartilhar os problemas, exigindo grande energia emocional de quem o cercava. Com o tempo, Carlos desenvolveu ansiedade e queda na imunidade. Não conseguia produzir e nem sentir, a mesma alegria de antes, ao estar com os amigos.

Não percebia que seu desgaste era efeito da constante vampirização energética.
Embora desejasse ajudar, não sabia estabelecer limites, tornando-se refém do fluxo sugador de Júlio.
Representação espiritual visual
No plano sutil, Júlio aparecia acoplado ao plexo solar de Carlos, como ventosa energética. Sugava fluidos vitais que se condensavam em sua aura.
Espíritos em desequilíbrio se aproximavam para partilhar do banquete fluídico. Carlos, enfraquecido, brilhava menos a cada encontro.

Seus mentores buscavam inspirar-lhe a necessidade do “sim” com limites e do “não” consciente, que são formas de caridade consigo mesmo.
Comentário
A obsessão por vampirização ocorre quando um encarnado se liga a outro para sugar-lhe energia. André Luiz, em Mecanismos da Mediunidade (cap. 19), descreve o fenômeno das trocas fluídicas, mostrando que podem ser salutares ou predatórias.
Em Os Mensageiros (cap. 37), vemos exemplos de médiuns enfraquecidos por falta de vigilância e proteção fluídica. O equilíbrio está em aprender a doar energia de forma consciente, sem permitir que a caridade se transforme em exploração.

7.2. Cena Narrativa 8 - No bar: Vícios e seus ambientes: Portas Abertas aos Prazeres Materiais e Interferências Espirituais
No bar, Robson, bebia copo após copo, tentando esquecer dores que não se apagavam.
O ambiente parecia vibrar em sintonia com sua fraqueza: risadas vazias, músicas ensurdecedoras, cheiro de fumaça densa. Atrás de cada gesto de prazer, pairavam figuras invisíveis que se deliciavam com seus excessos.
Robson, ao tragar o cigarro, sentiu um arrepio diferente. Como se outra boca sugasse junto com a sua, usando seu corpo como instrumento. Ao apostar no jogo, o coração batia acelerado, não apenas por ansiedade, mas por vibrações estranhas que se misturavam à sua energia vital. Era hospedeiro inconsciente de presenças famintas.

Os vícios se tornaram algemas invisíveis. Sem perceber, já não buscava prazer, mas alívio para a abstinência que também não era só dele. Espíritos vampirizavam-lhe a vitalidade, transformando cada ato em sacrifício silencioso. O prazer virou tormento, a liberdade transformou-se em prisão invisível.
Certa manhã, diante do espelho, Robson não reconheceu o próprio olhar. Viu olhos que não eram seus, refletindo sede insaciável.
Desesperado, caiu de joelhos, pedindo ajuda. O silêncio respondeu, mas ao fundo uma centelha brilhou: o primeiro passo para quebrar as correntes havia sido dado.
Representação espiritual visual:

Em torno das pessoas entregues aos vícios, espíritos densos se aglomeram como nuvens escuras, colando-se aos centros vitais do corpo. Como parasitas, sugam as sensações que não podem mais vivenciar por si mesmos. Cada tragada, cada gole, cada aposta é acompanhada por fileiras invisíveis de sombras, celebrando em silêncio.
A cena espiritual é dantesca, pois revela uma degradação e sujeição por parte do encarnado as entidades densas de forma profunda, onde cordões vibratórios se interconectam aos encarnados e desencarnados em círculos viciosos.
O prazer de um alimenta a fome do outro, perpetuando a prisão de ambos.
Somente a renúncia consciente e a disciplina amorosa podem dissolver os fios, permitindo que luzes superiores ocupem o espaço antes dominado pela sombra.
Comentários:
O uso desequilibrado de prazeres como sexo irresponsável, drogas, álcool, fumo e jogos de azar representa um grave desregramento moral, que fragiliza os centros vitais do corpo e abre campo vibratório para entidades viciosas.
Emmanuel, no livro Roteiro, adverte que "o vício prolongado é uma auto-hipnose destrutiva", capaz de desorganizar não apenas o organismo físico, mas também o campo espiritual do indivíduo. Esses comportamentos atraem espíritos desencarnados que ainda se comprazem nesses prazeres e que, sem corpo físico, buscam sensações através dos encarnados. A obsessão se instala muitas vezes sob o disfarce do prazer, gerando dependências cada vez mais profundas. A superação exige não apenas força de vontade, mas apoio espiritual, psicológico e familiar, com base em um processo de reconstrução moral.

Mestre Jesus, a Luz do Mundo
O Senhor da Luz, o Mestre Jesus, o Nazareno, nos ensina que ao colocarmos nosso coração nos prazeres do mundo — riquezas, vícios, orgulho, vaidade — desviamo-nos do que é eterno. Esses prazeres são passageiros e muitas vezes o apego ao mundo leva à perdição espiritual:
“Porque onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração.” (Mateus 6:21)

Mestre Krishna e o Templo do Cristal
Assim, também, nos ensina o Mestre Krishna que, o desejo é a porta para o sofrimento, quando nos diz:
“O desejo nasce da contemplação dos objetos. Do desejo nasce a ira. Da ira, confusão da mente; da confusão, perda da memória; da perda da memória, destruição da inteligência; e da destruição da inteligência, o ser perece.” (Bhagavad Gita 2:62–63)
Conclusão
A obsessão entre encarnados é fenômeno tão real quanto a influência espiritual. Ela assume formas variadas — auto obsessão, interpessoal, coletiva, por intenção ou energética — e sempre deixa marcas no períspirito e nas relações humanas.
As narrativas aqui apresentadas são convites à reflexão sobre nossas próprias atitudes. Quantas vezes nos tornamos, mesmo sem perceber, obsessores de nós mesmos ou de outros?
O estudo espírita e o Evangelho no coração são recursos de libertação. Onde o orgulho prende, a humildade liberta. Onde a inveja fere, a caridade cura. Onde a posse sufoca, o amor verdadeiro restaura.
Aos irmãos e irmãs, que leram até o final este artigo, um presente para os vossos corações e mentes. Todos somos iguais diante do Senhor da Luz, por isso, o lema de nossa amada Casa de Caridade Clara de Assis - CCCA é:
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Amor, Luz e Paz Sempre!
Salve a Grande Luz!
Ruan Fernandes
Equipe Cantinho dos Anciãos
Referências:
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