Um antigo nome sempre faz lembrar o antigo compromisso com a Luz
- Raul César

- há 11 minutos
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Da série inicial de vinte e um artigos:
- Texto 19 -

Enquanto Tudo está no todo, também é verdade que o todo está em Tudo. Aquele que compreende realmente essa verdade alcançou o grande conhecimento.[1]
Caibalion
Em conversa habitual com um dos voluntários da casa, falávamos a respeito do passado longínquo dos povos e da importância dos mestres que direcionaram a humanidade durante esses períodos. Refletíamos sobre como esses tutores do espírito fizeram com que a chama do entendimento permanecesse acesa mesmo nos séculos de maior obscuridade material. O irmão Ax, entusiasmado com o tema, sussurrou ao dizer que um deles que certa vez lhe apareceu — pela visão mediúnica — se chamava Chiquiteth[2]. Aquelas palavras pareciam acessar uma parte significativa da nossa consciência, reabrindo arquivos de uma memória ancestral que jazia adormecida, até o insight vir. Ao mesmo tempo em que buscávamos apreciar, pela memória, os conteúdos ocultos daquela palavra, tínhamos uma pequena prévia dos expansivos trabalhos que estavam no porvir, pois nomes de tal linhagem espiritual nunca surgem sem um propósito de serviço. Os corações, saudosos da esperança sagrada de podermos realizar aqueles trabalhos no afetuoso clima fraternal de Jesus, sentiam um bálsamo consolador. Naquela tarde, os dois mundos, o astral e o material, pareciam se entrelaçar à máxima do Axte Incal axtuce mun[3], relembrando-nos que a separação entre o 'aqui' e o 'além' é apenas uma ilusão dos sentidos limitados.
Quando entramos, voluntariamente, na esfera de percepção uns dos outros, com respeito e consideração, a linha divisória do véu de Ísis torna-se mais transparente. A empatia atua, de certo modo, como um solvente para as ilusões da matéria, e o ser se torna também mais honesto e verdadeiro consigo e com os outros, transparecendo em vida, atitude e pensamento a felicidade da união de um trabalho coletivamente construído e praticado. A vida passa a ser uma experiência singular, repleta e luminosa, onde o 'eu' se dilui no 'nós' em prol do Cristo.
Aqueles dias de ação junto às comunidades de irmãos no Barro Vermelho, em Natal, nos pareciam ser uma mínima representação dos ambientes sagrados de tratamento nas outras dimensões da existência. Cada olhar de acolhimento aos necessitados, ressoava como um eco das atividades das colônias de socorro. Todo um aparato de cuidado e amor ficava estruturado para que vinhéssemos a vivenciar uma experiência de caridade com o melhor nível de aproveitamento possível, tanto em recuperação de saúde, quanto em compreensão e entendimento fraternal. Cada gesto, diálogo, orientação e ação é envolvido pelo éter sutil da espiritualidade. Em tudo, no acompanhamento de cada caso, no tecer de cada diálogo promovido no ambiente de acolhimento, vemos a consciência coletiva se expandir. Uma verdadeira “usina de amigos” é testificada e reafirmada por cada pessoa que passa ou que por ali permanece para dar sua parcela de contribuição, gerando um campo de força capaz de transmutar a dor em esperança.
Assim, quando certos pontos do caminho já estão trilhados com tranquilidade e fé, no fio do tempo, algumas informações passam a vir à tona, revelando a percuciência da Grande Sabedoria em desvelar as coisas dentro da dimensão espacial do propósito que está erguido para o coletivo, diante da Luz-Além.[4] Esse processo contempla todas as escalas evolutivas dos seres. Desde os minerais — seres vivos que manifestam essa luz até em suas matrizes vitais, como se as próprias pedras fossem pensamentos cristalizados de Deus — até os seres cocriadores do Plano Maior[5]. Tudo está conectado nessa gigantesca essência e a cada um é revelado o que está pronto para compreender, respeitando-se o tempo de maturação de cada centelha divina.
E aqui está uma questão que, conjuntamente, é necessário pensar, para que não nos confundamos com as coisas que expressam esse manancial cósmico. Considerando o pentateuco Kardequiano, os orientadores da humanidade sugerem que, com relação ao conhecimento íntimo da Natureza de Deus, ainda não é dado entender completamente até que se tenha libertado o homem das amarras da obscuridade material[6]. Nossa linguagem atual é insuficiente para descrever a Causa Primária, mas nossa alma já consegue sentir Suas vibrações. É ainda justo que acrescentemos a esse ponto as reflexões de León Denis, quando aponta que:
Deus é incognoscível em sua essência em suas íntimas profundezas; mas revelase por toda a sua obra, no grande livro aberto nossos olhos e no fundo de nós mesmos. [...] não podemos conhecer a Deus em sua essência, mas nós o conhecemos por suas leis admiráveis, pelo plano que traçou todas as existências e no qual brilham a sua sabedoria e sua justiça. Para amar a Deus não é necessário separá-lo de sua obra; é preciso vêlo em sua universalidade, na onda de vida e amor que derrama sobre todas as coisas. Deus não é desconhecido: é somente invisível. (Denis, 2008, p. 57).
Aqui fica evidente que o caminho percorrido pelo apóstolo do espiritismo é demonstrar a centelha divina nos mais diferentes níveis e dimensões do cosmos conhecido, desde a dura matéria do planeta até o campo mais sutil e sublime da espiritualidade. Em outras palavras, assim como está a marca da Luz no princípio vital de uma Lonsdaleíta[7] — cuja dureza extrema é uma metáfora da imutabilidade das leis divinas — também habita ela o cintilar magnânimo da sutil membrana que envolve os seres que habitam a natureza das esferas melodiosas de Júpiter. Como ditou na Revista Espírita de 1858 o célebre musicista Amadeus Mozart, ao dizer que até as plantas cantavam em homenagem ao Criador naquele mundo em que ele habitava (Kardec, 2023). Essa música das esferas é o hino da matéria sutilizada retornando à sua Fonte. Nas múltiplas escalas possíveis em que as medidas do Espírito poderiam ser filosoficamente avaliadas, fica evidente que em cada ser, pensamento, sentimento, vontade e palavra, preexiste uma Expressão Maior, que é assimilada com maior ou menor lucidez enquanto os seres caminham para um aprendizado mais acurado de si e do Todo.

Ou seja, uma vez considerando os três elementos gerais do Universo: Deus, Espírito e Matéria, é feita uma reconstituição desses dois últimos elementos em suas infinitas possibilidades de conjunções para chegarmos até ao Estágio Maior. Nesta jornada, o Espírito utiliza a Matéria como ferramenta de cinzelamento, refinando suas arestas através das múltiplas existências. Esse movimento nos mostra como perceber a vastidão do que representa, de fato, o conjecturar a respeito dos elementos gerais da Fonte, para conseguirmos observar o percurso a ser seguido em nossa própria jornada evolutiva, que é, em última análise, o retorno consciente ao seio da Divindade.
O sábio Leon Denis descreve de forma simples e contemplativa que as muitas formas da matéria na natureza podem nos fazer ver a Luz oculta em cada uma delas, quando observa que:
O mar, e assim a montanha, agem sobre a nossa vida psíquica, nossos sentimentos e pensamentos e, por essa comunhão íntima, a dualidade da Matéria e do Espírito cessa um instante, para se fundir na grande unidade que tudo gerou. Sentimo-nos associados às forças imensas do Universo, destinados, seres e forças, a representar, de maneira diversa, um papel nesse vasto teatro. (León Denis, 2008, p. 71).
Dessa maneira, podemos avistar, no horizonte próximo da consciência, um despertar suave para algo que sempre esteve à nossa disposição: a nossa integração com a natureza, representada primeiro pelos elementos da própria Mãe-Terra, até o saltar aos mundos infinitos, aos sóis infinitos, aos mistérios do Reino dos Céus, como diria o Mestre Jesus. A experiência na Casa dos Espíritos, portanto, não é um evento isolado, mas uma breve nota em uma sinfonia universal de auxílio mútuo e contínuo.
Para empreendermos mais apuradamente um outro aspecto com relação a essa parte, é necessária uma breve organização do trabalho em frentes diferentes de serviço, dentro das coletividades que trabalham para Jesus, no sentido de otimizar os polos para melhor servir. Sobre isso trataremos mais detidamente no próximo capítulo, mergulhando na estrutura de funcionamento desses exércitos de luz que operam entre as dimensões.
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Raul César
Equipe Cantinho dos Anciãos
Notas:
[1] Antigo princípio hermético. De forma imperfeita, poderíamos dizer que essa máxima é um convite ao desenvolvimento espiritual. Afinal, a ideia do Todo é de que seja algo intrínseco, imanente à realidade em seu próprio contexto universal. E isso se aplica em “cada parte, partícula, unidade ou combinação dentro do universo” (Três iniciados, 2021, p. 76). Esta noção está muito aproximada a outro princípio, o da correspondência. Dentro do hermetismo, essa máxima explica que “aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo” (2021, p. 26). Ou seja, de que as coisas que compõem o universo conhecido e desconhecido, independentemente de onde se situem no espaço-tempo, são semelhantes. Ou, em termos de analogia, poderemos lembrar as palavras do Mestre, quando nos ensinou do Todo, quando disse “como no céu, também sobre a terra. (Mateus, 6:10) Dias (2016, p. 55).
[2] Antigo termo usado para se referir a alguns dos altos iniciados dos antigos templos da Atlântida. Chquiteth Arelich Vomalites, por exemplo, foi o tríplice título dado ao Grão-Mestre Djehuty, um sumo-sacerdote de um templo da Luz, naquela época. É possível que Chiquiteth seja não um nome de alguém, mas um título dado a um ser que alcançou determinado nível evolutivo num determinado período da Atlântida. Sabemos que os irmãos espirituais não se preocupam com nomes e personalismos, preferindo, em muitos casos, utilizarem nomenclaturas que estão associadas aos grupos que faziam parte.
[3] Em uma tradução livre seria: “conhecer a Deus é conhecer todos os mundos. ” Antigo lema atlante.
[4] Aqui utilizamos a terminologia para nos referirmos a instâncias maiores da criação Divina, as esferas superiores do astral.
[5] Aqui, o termo designado faz referência a terminologia utilizada pelo irmão André Luiz, na obra Evolução em dois mundos (2009). O autor espiritual, a respeito desses irmãos maiores na hierarquia, escreve que “os grandes Devas da teologia hindu ou os Arcanjos da interpretação de variados templos religiosos, extraindo desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constroem os sistemas da Imensidade, em serviço de Cocriação em plano maior, de conformidade com os desígnios do Todo-Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação Excelsa.” (2009, p. 13)
[6] O livro dos Espíritos, questões 11 e 12. (2019)
[7] Mineral polimorfo que detém o maior nível de dureza já conhecido pela humanidade até os atuais dias, chega a 11 na escala Mohs.
Referências:
DENIS, Léon. O Grande Enigma. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Disponível em: https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l51.pdf. Acesso em 25, dez 2024.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados por Allan Kardec; [tradução de Guillon Ribeiro]. – 93. ed. – 8. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2019.
TRÊS INICIADOS. O Caibalion: estudo de filosofia hermética do Antigo Egito e da Grécia. 2° ed. São Paulo: Editora Pensamento Cultrix, 2021.
XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois mundos. Ditado pelo espírito André Luiz. 11° ed. Rio de Janeiro, FEB, 1989.




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