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O afetuoso alerta de Frei Damião

Da série inicial de vinte e um artigos:

- Texto 16 -

Irmãos no serviço: Frei Damião recorda que, para curar o próximo, precisamos primeiro tirar as roupas do preconceito e da aparência. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A.
Irmãos no serviço: Frei Damião recorda que, para curar o próximo, precisamos primeiro tirar as roupas do preconceito e da aparência. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A.

Em uma das tardes de serviço no bem, quando já se aproximava o encerramento das atividades, o amigo e instrutor Frei Damião de Bozzano pedia licença e saudava a todos com votos de muita paz. Sua fala expressava gratidão por estar contribuindo com as atividades desenvolvidas na casa, o que muito sensibilizou os corações de todos os encarnados que ali estavam com os ouvidos atentos. Em seguida, passou nosso irmão a instruir diretamente sobre a abordagem do serviço oferecido pelo templo, e como que cada um poderia observar as situações dali para frente.

— Meus irmãos e irmãs, aqui é um pronto socorro espiritual e, sabem o que isto significa? Aqui não é lugar de religião. Não há bandeiras religiosas aqui. Devemos servir a quem chega por aquela porta, sem barreiras. Cada um escolhe o jeito que deseja semear a palavra, mas, uma coisa muito importante é não estar vestido com nenhum adorno externo.  Qualquer um p ode escolher o lugar e o espaço que quiser para atuar, contanto que cheguem sem essa roupa que faz o atendido esquecer a essência das coisas e focar só no que é aparente. Se for para ser assim, melhor é chegarmos nus, sem peça alguma.

Aproveitamos o ensejo firme do Servo de Deus para pensarmos um tanto na crueza da mensagem. Vejamos o quanto é extensivo o raciocínio, apesar de simples ter sido a sua forma de comunicá-lo. Munidos de preconceitos, dificuldades de compreensão com relação a outras linhas religiosas, filosóficas ou até científicas, muitas vezes pode o ser humano ficar à mercê das próprias impressões sobre as coisas, sem se preocupar em realizar aprofundamentos sobre os temas e situações que lhe ocorram ou lhe interessem. Na casca externa do ensinamento do Mestre, temos múltiplas escolas de formação. O catolicismo romano, o protestantismo e suas inumeráveis linhas internas, o anglicanismo etc, e isso em termos de historicidade cristã dos “vencedores” da narrativa história, isto é, sem considerarmos a presença e importância do Senhor de Mundos sobre religiões como a umbanda, o candomblé ou até mesmo sobre o movimento islâmico. Uma vez nos dando o trabalho de raspar essa superfície, encontramos, logo abaixo, um conteúdo mais interno da mensagem do Mestre sobre a essência das religiões. Este aprofundamento está ligado ao acesso a uma perspectiva mais profunda, a uma camada bem menos externa e, portanto, menos aparente das lições de sabedoria e amor do Senhor da Luz. Nesse ponto, vemos uma queda exponencial dos elogios às discrepâncias entre as linhas religiosas e passamos a mergulhar num oceano repleto dos ensinamentos de ouro do Coração Magnânimo que viveu na Galileia. Isso fica evidente quando ele mesmo chega a afirmar a mulher samaritana, quando a encontrou no poço de Jacó:

[...] Crede em mim, mulher, porque vem a hora quando nem neste monte nem em Jerusalém é o lugar onde é necessário adorar. [...] Mas vem a hora – e é agora – quando os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em espírito e verdade, pois também o Pai busca os que assim adoram. Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.[1]

Vemos, desta forma, a Boa Nova sem limitações das exterioridades, “nua”, aberta e compreensível para todos os que quiserem buscá-la. Adorar ao Pai em espírito e verdade é tarefa que se inicia no nosso tempo, onde as barreiras do dogmatismo estão sendo desmontadas. Compreender a natureza mais sutil da revelação é como participar de uma celebração musical onde todos são bem-vindos, onde cada voz pode entoar seu tom, conforme a organização da partitura universal da espiritualidade. Com relação a essa parte, o Mestre foi muito mais assertivo:

"Um novo mandamento dou a vocês: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros." (João, 13:34).

Entender o próximo, aceita-lo e amá-lo como se amasse ao Pai é uma mensagem que ultrapassa todo obstáculo de natureza humana.

Não há, acreditamos, nenhuma dificuldade em se compreender o alcance imenso de palavras tão singelas quanto essas ensinadas pelo Messias. Com relação a essa luminosidade grandiosa que encobre a multidão, vemos ele acrescentar em um exemplo prático, que o Bom Samaritano[2] foi aquele que cumpriu essa Lei pois que exerceu a misericórdia para com o caído, e não os membros do povo escolhido. A caridade é um caminho que pode ser percorrido por qualquer pessoa, em razão disso, qualquer empecilho a ela deve ser sobriamente retirado para que o ensinamento chegue com maior pureza aos corações. Assim, retomando as palavras do benfeitor de Bozzano, é bom vermos o quanto cada um pode escolher livremente como semear, contanto que a boa ação considere o caráter universal dos ensinamentos de nosso Senhor.  Não ter “religião”, portanto, é a melhor forma de termos uma verdadeira religião, porque essa ideia ultrapassa as conveniências das estruturas normativas de instituição e passa a vivência mais pura do ensinamento, o que implica em não nos prendermos a ritos, fórmulas ou estruturas rígidas de ação. Acessórios, adornos, instrumentos, todos são expressões parciais do ensinamento de nosso Senhor, enquanto que o coração puro, a nudez de uma ação benevolente, é uma revelação sublime que se inspira no ensinamento perene do Senhor da Luz.


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Raul César

Equipe Cantinho dos Anciãos


Notas:

[1] (João, 4:21-23 e 24). (Dutra, 2016, p. 404).

[2] Lucas (10:25-37) (Dutra, 2016, p. 309).


Referências:

DIAS, Haroldo Dutra. O Novo Testamento. 1° ed. Brasília: FEB, 2016.

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