Os caboclos, irmãos da Luz
- Raul César

- 18 de set.
- 6 min de leitura
Da série inicial de vinte e um artigos:
- Texto 09 -
Vida é o espírito em movimento[1].
Kaka Werá Jecupé
É válido lembrar que nos tratamentos de desobsessão, que é uma frente delicada de trabalho, as cobranças morais sobre os colaboradores tendem a ser agudas, devido justamente a interação contínua dos tarefeiros com energias e espíritos de tendências muito sombrias. Dentre os que contribuem para um trabalho satisfatório, os caboclos são os que tem um papel fundamental no encaminhamento das energias nessa ala. Seres com características amigáveis, dedicados e honestos, depositam de seus corações, força e amparo aos que mais precisam. É verdade que, quando alguns se apresentam para comunicar algo ou realizar algum tratamento, ainda revelam falas e elementos comportamentais típicos de suas culturas quando ainda estavam encarnados, com formas de comunicação própria, mas isto não se torna um elemento impeditivo para se compreender a mensagem ou receber ajuda deles, pois sabemos que, em uma comunicação pelas vias do além, o mais importante é o conteúdo moral e não a forma da linguagem que é apresentada. Aqui temos um pequeno episódio a narrar, dentre tantos os que aconteceram nos bastidores, sobre a ajuda desses irmãos e irmãs da humanidade.
Naquele instante onde se encerravam as práticas do grupo na sala de assistência e cuidado espiritual, vimos o quanto essa integração de pensamentos era importante. Havia um consulente que precisava de uma atenção especial, por esta razão, um pequeno grupo foi para uma sala ao lado, onde aconteciam os encaminhamentos energéticos e espirituais. Lá, a emoção tomou conta de todos. Ninguém conseguia segurar a sensação de entusiasmo que tomava conta do ambiente, primeiramente devido ao fato de estarmos encerrando todos juntos a tarde de ação junto à comunidade, mas também devido às presenças espirituais que envolviam docemente o lugar.
A nossa irmã Mara[2], com sua aflorada percepção, começou a ser guiada em seus pensamentos, sinalizando, pelo conteúdo das palavras, que os irmãos caboclos, índios, flecheiros e tantos outros estavam fazendo o ajuste final de limpeza daquele tratamento. Dentre tantas coisas belíssimas que ouvimos sair de seu aparelho fonador, chegou a dizer um dos caboclos, como a resumir o ensinamento daquela tarde:
— Uma flecha apenas basta para que consigamos acertar o alvo.
Uma deliberação íntima e verdadeira, uma ação feita com o coração, um esforço justo, uma projeção da vontade do Espírito - flecha - até a manifestação da Grande Luz - Objetivo - seria o suficiente para que o benefício pudesse se realizar com serenidade e de forma perene. O mais curioso é que, mesmo na sua forma simples de expressão, víamos alguns ornamentos e conteúdos energéticos de profundos conhecimentos na aura desses irmãos, como se fossem verdadeiros instrutores de coletividades. Toda essa dinâmica bela de interação nos sinalizou algo mais além: eram eles os mesmos irmãos, de outras tantas eras de compartilhamento e experiências reencarnatórias, ligados aos antigos continentes perdidos da Lemúria e da Atlântida. Muitos dos povos originários de nossa nação são remanescentes deste lugar, sobretudo aqueles ligados linguisticamente ao grande tronco-mãe do Tupi-guarani.[3]

Os irmãos espirituais, também durante o tratamento final que realizavam nos colaboradores, fizeram uma saudação nominal aos seus mestres diretos, como o Pena Branca e o Pena Verde. Ambos ligados às estruturas de conhecimentos da Luz antiquíssimos, pois já eram instrutores desde o antigo continente situado após as Colunas de Héracles[4]. Por detrás de nomes simples como esses, a envergadura extraordinária de verdadeiros guardiões e instrutores do Bem Maior se revela. Quando esses irmãos se apresentam dessa forma, nos ensinam, em última análise, uma lição profunda de identidade e humildade. Tomemos o exemplo de Seu Pena Verde, que por vezes instruiu tratamentos na nossa casa, quando foi questionado a respeito de uma encarnação sua em eras remotas, afirmou que,
Apesar de tamanho cabedal de potencialidades intelecto-morais, esse instrutor se apresenta como um simples caboclo.
Toda atitude no bem que buscarmos fazer deve sempre ser selada com essa simplicidade que ensinam esses professores espirituais. Inclusive, na medida que avançamos sem esquecer esses pontos, alguns trechos das estradas do passado longínquo e dos processos vindouros se apresentam de forma mais clara e objetiva. Dessa forma entendemos que toda a teia da vida que nos une para as tarefas nos locais onde estamos inseridos cumprem propósitos anteriores, porque nos remetem a elementos que, por mais que nos pareçam estranhos, difíceis ou incomuns no caminho da vida terrena, fomentam em nossa alma uma sensação curiosa de ativação das reminiscências. Por isso, quase à “conta gotas”, certos pontos mais gerais do compromisso anterior dos agrupamentos vão sendo revelados.
Assim, fica evidente que o conhecimento das coisas que nos levam até a presente realidade, será aquele que nos fará adentrar, mais adiante, nos salões mais ampliados do próprio Ser. Com o tempo e a maturidade espiritual completa, vamos percebendo a visceralidade das coisas essenciais, isto é, de tudo aquilo que suspende as formas exteriores e alcançam a essência. São as mensagens atemporais, imorredouras, as quais estão em toda parte onde haja pessoas despertas para viverem nela e depois compartilharem com outros tantos, e assim por diante. Como asseverou cuidadosamente o codificador, quando se referiu ao controle das mensagens e manifestações dos irmãos espirituais em sessões mediúnicas: a essência de um ensinamento dado pela espiritualidade é mais importante do que a forma com que esse arranjo linguístico se apresente (Kardec, 2019). Por isso, sempre poderemos contemplar a sublime beleza de um ensinamento dos povos das matas, dos ciganos, africanos, indígenas, e muitos outros em um templo espiritual de nosso país, porque são reflexões que remetem aos mesmos princípios fundamentais para a evolução do espírito, pois guardam sua essência nos princípios do amor e da sabedoria.
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Raul César
Equipe Cantinho dos Anciãos
Notas:
[1] Trecho extraído do livro: “A terra dos mil povos: história indígena brasileira contada por um índio” do escritor e pesquisador indígena Kaka Jecupé (1998, p. 13).
[2] Pseudônimo.
[3] Quando aconteceu o conjunto de cataclismos e eventos catastróficos que culminaram no fim dos antigos continentes perdidos, sobretudo na Atlântida, que já havia obscurecido muito os conhecimentos da Luz e já não mais suportava tamanho descontrole emocional de seus habitantes, os verdadeiros anciãos e anciãs preparavam grupos inteiros de espíritos que passariam a compor um quadro de descendentes e herdeiros daquele belíssimo conhecimento do povo atlante, algumas dessas frotas com os jovens que estavam sendo preparados pelos instrutores da Luz aportaram em nosso país, reflorescendo a raça vermelha. Assim também foi em várias regiões como no Egito, na Mesoamérica, no Tibet, na índia e em outros territórios. Curiosamente, o Brasil tem uma ligação profunda com o antigo continente perdido. Sobre essa questão, caso o amigo leitor tenha interesse em compreender melhor esse tema, sugerimos ler a obra introdutória “Terra das Araras Vermelhas” de Roger Ferauty.
[4] Fazemos referência ao termo utilizado pelo filósofo Platão, em sua obra "Timeu-Crítias”, quando fez referência a antiga ilha que afundou, a Atlântida. (2011, p. 88).
[5] Aqui o instrutor espiritual está se referindo aos últimos anos antes da derrocada final da Atlântida, que não era apenas uma ilha, mas um continente inteiro, que foi corrompido por sacerdotes que abriram a ”porta que conduz para baixo”, obscurecendo conhecimentos tão avançados como o da época, como era o caso da Magia da Luz.
[6] Aqui o Seu Pena Verde está se referindo a um conselho de anciãos que criou estratégias, na época, de resistência ao domínio das sombras, orientando para que outros tantos não se perdessem e fortalecendo os que já eram virtuosos.
Referências:
JECUPÉ, Kaká Werá. A terra dos mil povos: história indígena brasileira contada por um índio. São Paulo: Peirópolis, 1998.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados por Allan Kardec; [tradução de Guillon Ribeiro]. – 93. ed. – 8. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2019.
ORLOVAS, Maria Silva Pacini. Os filhos de Órion, a Chegada da Hierarquia da Luz. São Paulo: Madras livraria e editora LTDA. 1998.
PLATÃO. Timeu-Crítias. Tradução do grego, introdução, notas e índices: Rodolfo Lopes. 1° ed. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2011.




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