O estômago: de cemitério de animais à usina de Luz
- Raul César
- 11 de set.
- 7 min de leitura
Da série inicial de vinte e um artigos:
- Texto 08 -
Que o teu alimento seja o teu remédio e que o teu remédio seja o teu alimento.
Hipócrates[1]
Durante alguns meses, houve um ponto recorrente a ser analisado: casos ocorridos na sala de tratamentos espirituais em que os colaboradores sentiram dores e impressões de desconforto abdominal. Pequenas deformações, algumas vezes, foram vistas no estômago de alguns, na região do abdômen. Em determinados momentos, médiuns conseguiam sentir o odor da carne vermelha sendo processada no intestino de algumas pessoas, tamanha a desagregação que este material pode causar no ambiente sutil do astral.

Com relação a esse tema, o instrutor Ramatís[2] dita que, nos tempos que correspondiam ao início da era adâmica, quando uma parcela das civilizações no mundo vivia para reconstruir conhecimentos ainda simplórios, se caminhou a passos tímidos no tocante à questão da alimentação. Um meio ambiente inóspito, repleto de grosserias, impelido pela força psíquica dos seus habitantes, convocava os seres a uma alimentação estribada no consumo das vísceras de nossos irmãos menores da escala evolutiva. (Maes, 1987). Considerando a lei do progresso[3] que faz germinar a mais preciosa das sementes - a alma humana - uma vez alcançando compreensão mais purificada sobre as sutilezas do meio natural, o ser se torna mais responsável pela depuração estética de sua alimentação. Uma negativa a esse entendimento pode levar ao atraso no desenvolvimento emocional e moral. O benfeitor chega a explicar que o consumo de carne animal
“é contínuo foco de infecção à tessitura magnética e delicada do corpo etéreo-astral do homem” (Maes, 1987, p. 24).
Portanto, isso não se aplica somente a camada do corpo físico, é claro, pois as consequências reverberam para mais além, criando verdadeiros impedimentos à saúde integral do ser espiritual.
A respeito dessa questão ainda, o irmão espiritual Humberto de Campos, em seu livro “Cartas e Crônicas”, nos relembra a importância de avaliarmos a alimentação de nossos irmãos menores na escala evolutiva, quando aponta que essa prática é um tipo de volúpia a ser vencida pelos seres humanos, mais cedo ou mais tarde. Chega mesmo a dizer que
“o cemitério na barriga é um tormento, depois da grande transição.” (1966, p. 17).
Após a passagem para o outro lado da vida, uma inquietação acomete aqueles que ainda se sentem presos ao atavismo do consumo da carne dos irmãos menores.

O ser angélico que nos tornaremos não comerá carne de porco ou “dobradinha”. Até o acesso a nossa personalidade purificada é ampliado com o desapego ao gesto epicurista de comer cadáveres animais. Nos alimentarmos dos despojos sangrentos dos outros seres do reino animal a pretexto de nos enriquecermos de seus valores nutricionais é considerado, pelos benfeitores do astral, um equívoco grande, pois, com relação ao conjunto de nutrientes necessários a vida humana, facilmente
“esses valores nutritivos podem ser encontrados nos produtos de origem vegetal, sem a necessidade absoluta dos matadouros e frigoríficos.” (Xavier, 1982, p. 82).

Verdadeiros laços magnéticos e afetivos se estabeleceram entre a maioria dos animais que foram domesticados ao longo dos milênios: aves, mamíferos, peixes. Tomando para si a tarefa de orientação dos irmãos menores, instigando-lhes a essência divina em cada um, o reino hominal deveria instruir com amor e carinho todos os seres dos demais reinos. Ainda de acordo com o preceptor hindu, (Maes, 1987) o inocente cordeiro, quando brinca com seu tutor de forma inocente, jamais desconfia da punhalada que o homem lhe desferirá, fazendo-lhe perder grandes quantidades de sangue até a morte.

Não ignoramos as instruções dos amigos espirituais quando orientam que a alimentação vegetariana é a que mais pode se aproximar daquela utilizada largamente nas esferas onde reinam o equilíbrio, o amor e a paz. Gradualmente, o enraizamento mental e metabólico de nosso organismo, habituado com as entranhas dos irmãos animais, vai cedendo lugar ao processamento de material orgânico de origem vegetal, enriquecendo de possibilidades o nosso espírito, libertando-nos do atavismo comum.
Muitos seres de dimensões superiores do mundo espiritual apontam, mais além, para um tipo de alimentação de origem psíquica, baseada na solidariedade, onde somos nutridos quimioeletromagneticamente[4] pela respiração e pelo contato com a Luz. Vamos passando a nossa nutrição da fonte da morte - imolação pela pecuária - até a vida, - alimentando-nos na fonte Divina do amor - uma marcha que avança do sofrimento até a alegria.

A essa questão, ainda levantamos o caso narrado pelo nosso irmão André Luiz, através da mediunidade santa de Chico Xavier. O médico amigo chega a lembrar de um diálogo com Lísias, seu benfeitor, sobre um momento na história da comunidade espiritual em que viviam, na qual havia alimentação com contextura astral provinda do magnetismo dos animais. Sim, por um período, na colônia Nosso Lar, devido aos recém-chegados do mundo material que eram habituados com o consumo desenfreado de carne animal, havia alimentação organizada nesses moldes. Fala-se, inclusive, que
“muitos recém-chegados ao "Nosso Lar" duplicavam exigências. Queriam mesas lautas, bebidas excitantes, dilatando velhos vícios terrenos” (Xavier, 1995, p. 54-55).
Organizações eminentes de irmãos que viviam ali formaram
“protestos de caráter público, reclamando. Por mais de dez vezes, o Ministério do Auxílio esteve superlotado de enfermos, onde se confessavam vítimas do novo sistema de alimentação deficiente. ” (Xavier, 1995, p. 55)
Apesar das acusações se multiplicarem significativamente, o sábio dirigente jamais desistiu do empreendimento, empregando esforços gigantescos para a instrução dos habitantes mais renitentes. Por mais de vinte anos se alongou o conjunto de medidas para reeducação nutricional do povo, até que todos começaram a perceber gradualmente uma nova realidade, mais sublime e luminosa, em todos os locais: praças, parques, ministérios, escolas, hospitais. Tudo passou a vibrar em uma mais fina e serena sintonia.
O instrutor do amigo André Luiz comentou, mais adiante, que, no período mais recente, todos estavam reconhecendo que a iniciativa primeira do governador, por mais que tenha sido vista com desagrado por alguns em um primeiro momento, foi a melhor para todos, pois favoreceu uma libertação espiritual em níveis coletivos. Uma das grandes vantagens compartilhadas por Lísias foi o fato de que
“reduziu-se a expressão física e surgiu maravilhoso coeficiente de espiritualidade.” (Xavier, 1995, p. 57-58).
Assim, todas as vezes em que nos movimentamos para reduzir os impactos de nossa existência sobre outras formas de vida, estamos também colaborando para um novo coeficiente global para o mundo de regeneração. Nossa existência vai, gradualmente, se tornando mais suave e leve. Passamos a pesar menos na balança divina e nossa frequência vibratória pode se tornar mais branda, transformando para melhor tudo ao redor.

Deixar o consumo de carne animal é, portanto, substituir o prazer selvagem de se deliciar do sangue e das impressões fisiológicas da dor de nossos irmãos pelo prazer duradouro e perene de viver em harmonia com todos eles. Esse movimento é tão transformador que, uma vez o ser humano se dedicando expressivamente na mudança desse vício, pode passar a acessar planos mais sutis da própria consciência, podendo até, a depender do esforço de purificação, acessar o reino dos deuses da natureza: os elementais. Estes seres, magnânimos em tratamentos espirituais, no restabelecimento da saúde integral, da alegria de viver, dos movimentos naturais de criação divina, são indispensáveis em procedimentos mediúnicos que envolvam tratamentos de saúde mais delicados. Por isso, ainda mais é pedido às pessoas que participam de atividades com passe magnético, passe misto, passe desobsessivo e qualquer procedimento terapêutico que implique na transfusão de energias, em doação de amor.
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Raul César
Equipe Cantinho dos Anciãos
Notas:
[1] Em grego clássico Ἱπποκράτης, de acordo com Frazão (2023), na Grécia, foi considerado o pai da Medicina. Iniciou o procedimento de observação clínica, é considerado um dos famigerados médicos da antiguidade grega.
[2] Mestre Hindu, um dos fundadores da ordem da Cruz e do Triângulo, que busca unir os ensinamentos Cristãos às antigas tradições de sabedoria indianas, no mundo espiritual. É considerado um dos grandes emissários do Cristo Cósmico.
[3] Em O Livro dos Espíritos, o professor Allan Kardec descreve o progresso como sendo uma das leis naturais, ou divinas. Vemos na pergunta 753, o seguinte questionamento e resposta: Segue sempre marcha progressiva e lenta o aperfeiçoamento da Humanidade? “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto devera, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma. ” (2019, p. 353).
[4] Este termo foi cunhado pelo irmão espiritual e médico André Luiz, na obra Evolução em Dois Mundos (1989).
Referências:
FRAZÃO, Dilva. Biografia de Hipócrates. Site Ebiografia. Disponível em: https://www.ebiografia.com/hipocrates/. Acesso em 08 jan 2025.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados por Allan Kardec; [tradução de Guillon Ribeiro]. – 93. ed. – 8. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2019.
MAES, Hercílio. Fisiologia da alma, obra mediúnica ditada pelo espírito de Ramatís ao Médium Hercílio Maes; rev. de B. Godoy Paiva. — 5 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987.
XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois mundos. Ditado pelo espírito André Luiz. 11° ed. Rio de Janeiro, FEB, 1989.
XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Ditado pelo espírito Emmanuel. 9° ed. Rio de janeiro: FEB, 1982.
XAVIER, Francisco Cândido. Cartas e Crônicas. (pelo espírito Irmão X)1° ed. Rio de Janeiro: FEB, 1966.
XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. 43° ed. Brasília: FEB, 1995.
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