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Carne nada vale

Atualizado: 18 de set.

Da série inicial de vinte e um artigos:

- Texto 07 -

Os homens, porém, sem dar-se conta da necessidade de espairecimento sem destruição da vida, da alegria, sem o apelo à desordem e do prazer sem o comprometimento moral, fixam-se nas fugas espetaculares à responsabilidade, permitindo consumir-se inutilmente e alongando por largo período a frustração não atendida, a sede e a fome não saciadas.
Manoel P. de Miranda[1]

 

Em um lugar onde haja harmonia e estima entre os praticantes da fé, todos os propósitos se encaminham para o bem com tranquilidade. As saudações dos irmãos e irmãs do astral sempre buscam fomentar a paz entre os servidores. Isso fica evidente, sobretudo em períodos onde as grandes necessidades morais das almas se tornam ainda mais expostas nos eventos coletivos catárticos como as festividades juninas ou carnavais, por exemplo.

A ação renovadora de um dos encontros aconteceu - dentro de uma certa normalidade - com muitos tratamentos, encaminhamentos e canalizações dentro dos círculos de atuação. Entretanto, como era um tratamento que acontecia em um período de reverências à Baco[2], algumas especificidades se apresentaram para todos.

Dr. Bezerra de Menezes e outros irmãos espirituais socorrem pessoas durante uma festa de carnaval, em referência ao livro "Nas fronteiras da loucura". Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A
Dr. Bezerra de Menezes e outros irmãos espirituais socorrem pessoas durante uma festa de carnaval, em referência ao livro "Nas fronteiras da loucura". Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A

De acordo com o benfeitor espiritual Bezerra de Menezes, as festividades carnavalescas  são resultantes de vestígios das percepções e sensações bárbaras e elementares que o ser humano ainda traz em seu coração e em seus pensamentos, mas quando o despertar para as grandes verdades da imortalidade e da vida no além for mais ou menos compreendida pela maioria, sumirá de nosso planeta, sobretudo


“quando a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real substituírem as paixões do prazer violento e o homem houver despertado para a beleza, a arte, sem agressão nem promiscuidade." (Franco, 1982, p. 53).

É justo que entendamos a necessidade de auxiliar a todos, sem julgamentos, mas não devemos esquecer simultaneamente da nossa necessidade de, pelo exemplo, incentivar aos demais o seguimento de um bom caminho, independente de qual seja a época do ano. Afinal, a pretexto de relativizarmos as práticas culturais e lembrarmos do livre-arbítrio, é necessário ajustarmos nossas vidas ao eixo sagrado da divindade pela correção dos erros e não pelas incansáveis justificativas que poderemos dar para continuar caminhando na mescla de sombras e luzes.

Na sala, durante as atividades de harmonização[3], uma linda canção se fez ouvir. Era um canto para Iemanjá[4]. Todos os que ouviram, puderam sentir a luz e o amor da presença amorosa desta energia abençoada. A maioria de nossos irmãos inquietos e adoecidos que estavam participando dos blocos de rua, se viam sequiosos do sentimento puro da alta espiritualidade, por isso mergulhavam no campo das sensações dos entorpecentes e do movimento das músicas alegóricas e sexualizantes que, aliás, parecem mais pedidos de socorro coletivo do que melodias para o divertimento. A força de todo este movimento, sem dúvidas, é resultado da incipiência da maturidade do senso moral, como diria Kardec[5].

Correm também, nossos irmãos, geralmente, para casas e apartamentos localizados em avenidas litorâneas, próximas às praias, à procura de “divertimento”. Por isso, o trabalho dos elementais e elementos, deuses da escala evolutiva paralela a nossa, é redobrado. Incansavelmente, os elementais e seres encantados, seguindo a orientação da Grande Fraternidade, manipulam os lenitivos necessários, improvisando socorro e amparo a todos os que não percebem o perigo extrafísico que estão correndo nesses dias que, mesmo parecendo breves em seu conjunto de feriado nacional, podem causar danos e traumas gravíssimos à consciência do espírito, que é imortal.

Cada elemental da natureza pode compor o quadro dos auxiliares e cooperadores do Bem, assim como qualquer um de nós, encarnados, também o pode, assim como eles podem fazer parte da equipe dos perturbadores e brincalhões, tendo em conta que seu senso moral está também em crescimento, assim como para qualquer um dentro da escala evolutiva abaixo do primeiro nível de pureza espiritual correspondente a escala espírita[6]. O que nos interessou, naquela tarde de tratamentos, foi perceber a importância da colaboração provinda de muitas matrizes de conhecimentos para o socorro às situações mais inusitadas.

Yemanjá, a rainha do mar. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A
Yemanjá, a rainha do mar. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A

O trabalho com a desobsessão é como um livro aberto a contar várias histórias de desesperação e dor, mas também de alívio e boas surpresas no caminho. A inusitada paisagem de pedras e conchas do mar, com fluidos que se manifestavam como ondinas e a projeção energética de uma espécie de sereia do mar, são verdadeiramente encantadores de se ver. É como se a sala do templo tivesse sido transportada por alguns instantes até uma faixa de areia diante do mar, onde ali seguiria em fluxos de encaminhamentos. São as maravilhosas e inusitadas manifestações do astral.

Muitos auxílios aconteceram na tarde oculta e silenciosa daquela choupana sagrada. Os milhares, apesar de não terem podido ver, eram ajudados pelos outros tantos milhares de servidores. Homens, mulheres, elementais, instrutores espirituais e tantos outros bem-intencionados, que anseiam pelo reinado da Luz no mundo, realizavam, ao esforço de muitas dores, o acolhimento às energias dos que ainda não despertaram para a realidade de que, mesmo a carne nada valendo em termos essenciais, a responsabilidade pelas ações dos espíritos sempre nos acompanhará em todos os lugares que estejamos, no mundo espiritual.

Bendito será o momento em que todas as festividades serão em prol do louvor ao nome do Senhor da Luz, que preparou um verdadeiro festim de superações às dores de nosso mundo.



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Raul César

Equipe Cantinho dos Anciãos


Notas:


[1] Pereira Franco (1982, p. 97).

[2] Baco para os romanos ou Dionísio para os gregos, era o “deus” do vinho. Estava atrelado a ideia dos prazeres da carne, como as orgias e a embriaguez. Aqui fazemos referência a um dia de trabalho durante a semana de carnaval, quando a ambientação atmosférica e astral da cidade se descambava em precipitações morais, mas com a força atuante de detenção de males maiores pelas equipes de socorristas e instrutores do mundo espiritual e material.

[3] Este é um procedimento que acontece antes de qualquer atividade nas salas de tratamento da casa, todos os médiuns passam por esse processo que visa equilibrar ainda mais as energias psíquicas antes do trabalho junto à comunidade. Também denominada de "limpeza dos médiuns".

[4]É sempre importante ressaltar que todos os Orixás, irmãos da Grande Luz, dentro do conhecimento da Umbanda, são representações de caminhos evolutivos que conduzem até a Inteligência Suprema, ou, na linguagem Yorùbá, conduzem até Olodumarê. De acordo com Bolaj IIdowu (1962) apud Ọsanyìnbí, Ọ. e Falana, K. (2016, p. 61), o povo Yorùbá acredita em: Deus, Olodumare; em divindades, Òrìṣà, em espíritos; ancestrais e poderes misteriosos. (tradução nossa).

[5] De acordo com Allan Kardec, a compreensão das coisas essenciais à transformação moral é resultante de uma certa sensibilidade do ser, e isso implica em no desenvolvimento de uma maturidade “que independe da idade e do grau de instrução, porque é inerente ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito encarnado” (Kardec, 2014, p. 229).

[6] Os Espíritos, na codificação do espiritismo, admitem três categorias principais, ou três grandes divisões. Na última, a que fica na parte inferior da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão para o mal. Os da segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: são os bons Espíritos. A primeira, finalmente, compreende os Espíritos puros, os que atingiram o grau supremo da perfeição. (2019, p. 92). Ao que parece, esta escala, apesar de ser subdividida em 10 classes menores, cada uma com suas especificidades, está completa para o primeiro nível. Muito provavelmente, uma vez o espírito atingindo essa escala de modo completo, se abrirá para o ser puro de coração uma nova escala. Seus níveis ainda são desconhecidos para nós, pois falta-nos um sentido claro para percebê-las pela experiência, mas a intuição nos impele a observar a grandiosidade da Criação ante as qualidades notáveis que o Espírito pode adquirir.


Referências:


KARDEC, Allan. O livro dos espíritos: filosofia espiritualista / recebidos e coordenados por Allan Kardec; [tradução de Guillon Ribeiro]. – 93. ed. – 8. imp. (Edição Histórica) – Brasília: FEB, 2019.

ỌSANYÌNBÍ, Ọ. and Falana, K. (2016) An Evaluation of the Akure Yorùbá Traditional Belief in Reincarnation. Open Journal of Philosophy, 6, 59-67. doi: 10.4236/ojpp.2016.61007. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/295687157_An_Evaluation_of_the_Akure_Yoruba_Traditional_Belief_in_Reincarnation. Acesso em: 4 dez. 2024.

PEREIRA FRANCO, Divaldo. Nas fronteiras da loucura. Salvador: Liv: Espírita Alvorada, 1982. (Espírito Manoel Philomeno de Miranda).

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo: com explicações das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida. [Tradução de Evandro Noleto Bezerra da 3 ed. francesa, revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866]. - 2 ed. Brasília: FEB, 2014.



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