A prece: o indispensável recurso do amor.
- Raul César

- 15 de ago.
- 8 min de leitura
Atualizado: 23 de ago.
Da série inicial de vinte e um artigos:
- Texto 02 -

Meu irmão, tuas preces mais singelas
São ouvidas do espaço ilimitado
Mas sei que às vezes choras consternado
Ao silêncio da força que interpelas
Volve ao templo interno e abandonado
A mais alta de todas as capelas
E as respostas mais lúcidas e belas
Hão de fazer-te alegre e deslumbrado
Auta de Souza - soneto “Mensagem Fraterna”[1]
No primeiro dia de retorno as atividades presenciais na nova sede da Casa dos Espíritos, foi possível perceber uma intensa conjunção de múltiplos elementos - materiais e espirituais, mentais e emocionais - por parte de todos os integrantes do tratamento espiritual e desobsessão presencial e à distância.
Em um primeiro instante, foi feita a prece inicial, a sequência foi de três preces: Pai Nosso, Ave Maria e oração de São Francisco, como de costume. Aqui vale ressaltar a importância da prática da oração para atividades como essa, tendo em conta que a prece é um elemento chave no processo de estabelecer as bases energéticas, pois criam e recriam as ambientações astrais de sustentação e de egrégoras[2] pacificadoras. Assim, terminadas as rogativas, o salão, apesar de incompleto do ponto de vista da estrutura material, já se apresentava pronto em muitas de suas dimensões espirituais.
Sobre a relevância da prece nas reuniões que tenham a ver com as interações das energias sutis, recordemos as orientações do benfeitor Aniceto ao espírito André Luiz, a respeito dos preparativos indispensáveis para uma ação de benfeitoria:
“toda prece, entre nós, deve significar, acima de tudo, fidelidade do coração. Quem ora, em nossa condição espiritual, sintoniza a mente com as esferas mais altas e novas luzes lhe abrilhantam os caminhos.” (Xavier, 2011, p. 50-51).
Logo, essa prática, quando brota do mais profundo da alma favorece o contato nosso com os mundos superiores, sublimando o nosso coração, refrigerando nossa alma, harmonizando a estrutura do ser.

A respeito ainda desse bálsamo consolador, Kardec assevera que os amigos espirituais o diziam constantemente sobre uso das palavras durante a prece: "a forma nada vale, o pensamento é tudo. [...] Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração." (Kardec, 2014, p. 327). A sequência utilizada nas preces é mais uma construção emocional estipulada pelo grupo do que uma estrutura rígida de culto ou rito. No caso da nossa Casa, é uma linguagem de identificação do agrupamento com o mestre Jesus, a Mãe Amantíssima e o instrutor Francisco de Assis, por exemplo.
Naquela tarde, formaram-se dois círculos de preces. O trabalho em moldes circulares possui uma série de elementos facilitadores para a corrente de fluxos energético-espirituais e etéricos poderem melhor fluir no tratamento de todos. A curva contínua do círculo favorece, em uma dimensão prática, um movimentar dinâmico, isso estimula a criatividade e a integração, além do diálogo. Na geometria sagrada, assim como em muitas correntes filosóficas orientais, essa figura é usada intencionalmente para criar a ideia de um ambiente de igualdade e unidade, para proteger e isolar o espaço sagrado, para centralizar a energia e a intenção do grupo, e para recordar, mesmo que de forma inconsciente por alguns membros, o simbolismo de totalidade e da perfeição.
A tônica do tratamento ficou clara logo na primeira mensagem recebida pelo grupo, quando, da equipe dos irmãos franciscanos, um conhecido irmão[3] desperta a emoção de todos os que ali escutavam, a dizer:
— Meus amados irmãos, paz convosco! Início este momento a falar da alegria de podermos reunirmo-nos para este trabalho de amor. Dizia com afeto e carinho.
— A Lei Divina existe e se manifesta tão somente para que o ser humano caminhe diante dela, neste mundo. Nenhuma estrutura física será tão necessária quanto aquela que é construída no eterno das coisas imutáveis na Lei. Quando comecei este trabalho, nem teto, nem casa, nem templo nós tínhamos, mas a boa vontade foi o que nos guiou até aqui, e continuamos. É justo que os homens ponderem a respeito das coisas verdadeiramente importantes para si e para a vida coletiva.
Aquelas palavras de incentivo e esperança pareciam penetrar no mais fundo dos corações dos irmãos que ouviam. Cada palavra parecia possuir uma luz e uma força que, apesar de suaves, nos impulsionava em alegria e empatia uns com os outros. Um clima de amor fraterno parecia adentrar, a pouco e pouco, naquele espaço físico. Após as instruções e lições amorosas, um irmão, após breve silêncio do instrutor espiritual, indagou emocionado:
— Pai Francisco, o que devemos fazer diante do porvir?
Todos permaneciam atentos às palavras que vieram após um breve silêncio daquele que parecia sondar as palavras do seu interlocutor:

— O porvir seguirá seu curso, meus filhos. Não ignorem que os percalços e desafios são importantes e as lutas, mesmo que a custo de suor e esforço, sempre devem se direcionar para que tudo aconteça no bem. Sim, terão pedras no caminho, mas, o que importa, já que elas podem ser retiradas pelo esforço do amor?
Com sua paciência sublime, respondia com atenção e carinho a cada indagação que parecia surgir na mente dos encarnados que ali estavam. A comunicação acontecia dentro do círculo de tratamentos espirituais à distância.
Havia também a formação de um outro círculo, como dito anteriormente, para os tratamentos de desobsessão que compunham um círculo com maior número de encarnados, em torno de quinze, nesse dia. No espaço astral, os passes de limpeza para os encarnados já iniciavam e, com eles, o conjunto de encaminhamentos dos irmãos que já tinham feito a passagem para a realidade espiritual em estado de sofrimento, além das formas-pensamento e formas-sentimento ligadas a determinadas informações psíquicas do grande grupo, algo que se repete muitas vezes durante qualquer sessão de limpeza astral no campo áurico coletivo.
Levando em consideração que a atividade psíquica pelos pensamentos e as sensações consequentes deles, em cada pessoa adulta é, em média, muito intensa[4], passemos a considerar que ao menos 1% das formas destes pensamentos diários se repitam com uma certa frequência, com cenários, pessoas e circunstâncias que se apresentam sempre de forma muito semelhante. Essa movimentação, portanto, provoca um conjunto de sentimentos de alegria ou tristeza, tensão, medo, raiva ou euforia, agitação e tranquilidade. A depender do conteúdo dessa conjectura mental, podemos, então, indagar: o que acontece nos campos emocionais e mentais de uma pessoa enquanto isso ocorre?
De acordo com o instrutor espiritual Ramatís, os pensamentos - manifestações vivas da atuação das inteligências da criação - são semelhantes a ondas que, no ajuntar de múltiplas camadas de corpos que o ser possui, é direcionada mais fortemente pelo corpo mental, e, quando em ação, projeta-se para além dos contornos de seu autor ou autora, revelando o teor daquela criação.
O benfeitor ainda esclarece que, com relação a potencialização do pensamento, trata-se de um processo que envolve a produção de uma série de vibrações, que precisa estar em um tipo de conexão perfeita com a matéria mental que está em derredor, só assim, desse fenômeno, gera-se:
uma forma-pensamento simples e pura, cuja configuração, radiação, vitalidade, brilho e colorido perduram tanto quanto seja a força ou a convicção de quem a emite. A forma-pensamento, também conhecida por elemental ou elemental-artificial, lembra uma entidade vivente, temporária, mas dotada de intensa atividade e animada pela ideia-mater que a gerou. É um produto da própria alma, mas nutrida pela essência elemental vivificante e eletrônica do corpo. (Maes, 1986, p. 63).

Em outras palavras, através do corpo mental, região que registra a soma de todos as histórias, feitos e tendências da alma encarnada, propaga-se em ondas e partículas - assim o movimento físico da luz, em uma analogia simples - um conjunto de elementos sutis, os quais vibram em interação mais ou menos confluente ou desagregada, com outras tantas fontes dos que estão ao redor.
Todo pensamento, portanto, detém uma matriz, um manancial que o conduz desde o princípio da ideia até a consumação dela, em níveis e dimensões diferentes.
Há pessoas que, adentrando em estado de contemplação e vivência das virtudes como fraternidade, solidariedade ou compaixão, conseguem perceber várias nuances emocionais e visuais que elevam completamente seus espíritos a um estado mais depurado de consciência, o que faculta uma degustação dos mundos sublimes, fermentando em sua alma uma verdadeira consciência de que faz parte de um Todo muito amplo e amoroso, e isso lhe incentiva ao retorno a essas grandes qualidades como a caridade e a busca pela Sabedoria Divina, só que de modo mais aprimorado. Vivendo com intensidade tais experiências, é possível perceber a massa psíquica se desprendendo de seu autor, promovendo uma expansão de si para o além.
Do mesmo modo acontece, a título de analogia, com relação às forças contrárias, porque há pessoas que, ignorando completamente qualquer fator que envolvam as virtudes e a sabedoria da Grande Luz, negam completamente toda presença luminosa no dentro-de-si, aprofundando processos de negação completa do que representa o Bem Supremo, criando, de forma inconsciente, zonas de bloqueios nos fluxos de seu períspirito, criando formas mentais doentias. É importante ainda ressaltar, todavia que, entre um extremo e outro, há muitos níveis e graus diferentes de interação com esse elemento, todos eles também parciais, mas formando elos com os que lhes são correspondentes.
Durante o trabalho no bem, quais podem ser os pensamentos que mais facilmente poderiam nos conduzir a uma formação coletiva de paz e amor? E, diante disso, quais seriam os impactos práticos dessa perspectiva neste mesmo trabalho? Uma das respostas possíveis a esses simples questionamentos está na própria presença da espiritualidade nessas atividades redentoras. Toda a assistência espiritual dos desencarnados, que envolve um conjunto de procedimentos para serem encaminhados os lenitivos e orientações, se torna um pequeno intervalo entre a concentração do grupo e a percepção e integração deles, ligando-os mutuamente a mesma fonte de energia amorosa.
A vontade de realizar algo para o bem das pessoas de forma desinteressada é uma construção, uma prática, um exercício constante. Essa prática não é simples porque exige muitas renúncias às coisas que nos prendem à ignorância, porque tendemos a nos apegar ao que é efêmero. Aprender com os instrutores da humanidade é uma benção e um esforço que empregamos, circunstância essa que, quando ininterrupta, se torna o próprio reconhecimento da nossa relação com a totalidade, mesmo que de forma incompleta.
A prece, nesse sentido, não se limita a palavras articuladas ou gestos repetidos; ela se apresenta enquanto um canal pelo qual o espírito se conecta à Fonte que permeia toda as existências. Tornar-se um instrumento consciente desse recurso exige entrega e disciplina, pois é na pureza da intenção e na constância da prática que se manifesta seu potencial de transformação. Nos templos espirituais, a prece se revela indispensável, não apenas como ato devocional, mas como ferramenta viva de harmonização e cura, sustentando os trabalhos invisíveis que acompanham cada gesto de amor e dedicação.
Assim, percebemos que a prece é a própria expressão do reconhecimento da interdependência entre o eu, o outro e a própria criação amorosa de Deus.
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Raul César
Equipe Cantinho dos Anciãos
Notas:
[1] Do livro Parnaso de Além-Túmulo. (Xavier, 2009, p. 95).
[2] De acordo com o médium Hercílio Maes, em orientação dada pelo instrutor espiritual Ramatís, escreve que (1986), quando nos referimos a ideia de egrégora, diz respeito a uma forma astral gerada e alimentada, mental e sentimentalmente, por uma coletividade, e isso se dá pela persistência de motivos, costumes, devoções ou ideais num mesmo ponto ou objetivo. O autor pontua que, sob tal influência, a matéria astral plástica faz-se compacta e toma forma, sob o alimento incessante das mesmas vibrações, pensamentos etc. Então produz-se um ser ou manifestação, que adquire vida, animado de uma força boa ou má, conforme os pensamentos emitidos, influindo vigorosamente em todos os que passam a subordinar-se à sua influência.” (Maes, 1986, p. 68).
[3] São Francisco de Assis.
[4] De acordo com o Dr. Jordan Poppenk e M° Julie Tseng, pesquisadores do tema, o ser humano tem, em média, 6,2 mil pensamentos por dia.
Referências:
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo: com explicações das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida. [Tradução de Evandro Noleto Bezerra da 3 ed. francesa, revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866]. - 2 ed. Brasília: FEB, 2014.
RAMATÍS. Magia de redenção. 4 ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1986.
XAVIER, Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. Rio de Janeiro: FEB, 2009.


Pô mano, que texto daora esse sobre a prece! 👏 Mesmo eu não sendo espírita, curti demais a pegada, pq falou de oração de um jeito simples, real, sem enrolar. Tipo, é sobre sentir Deus no peito de verdade e mandar aquela energia boa pro universo, sem frescura. Me bateu até uma lembrança das histórias da minha vó, lá no interiorzão de SP. Ela falava das casas espíritas, parecia outro mundo. Minha vó dizia que com a cabeça mais aberta, o negócio é fazer o bem, sem julgar ninguém.