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Acolhimento, amparo e advertência: conjunções de práticas

Atualizado: 23 de ago.

Da série inicial de vinte e um artigos:

- Texto 03 -

Estender a mão e distribuir reconforto é iniciar a execução da virtude excelsa.[1]
Emmanuel

Neste dia, iniciamos as atividades em um clima fraterno, constituindo, a partir das palavras de amizade e companheirismo, um clima de harmonia geral. Em número de encarnados, contavam-se uma média de treze irmãos. Tão logo chegamos à sala de tratamento, alguns já sentiram o impacto emocional do que iríamos lidar naquela tarde. Um fato curioso desse dia é que cerca de seis encarnados precisaram receber tratamento desobsessivo e medicamentoso intenso logo assim que chegaram.


O local, ainda em reconstrução, com suas paredes sem reboco e com o piso inacabado e irregular, além da pouca iluminação, dava a tônica do quanto que ainda faltava ser feito nas diferentes dimensões da existência. Diante de uma mesa improvisada, alguns colaboradores colocavam ventiladores, água, café e alguma bolacha - que traziam de casa mesmo - para tornar os encontros mais acolhedores e partilhados, algo necessário, devido à escassez da ventilação, a uma eventual necessidade de saciar a sede e até mesmo como forma de se retemperar ao final das atividades, com diálogos edificantes sobre as questões da tarefa desenvolvida.


O nosso irmão Cantanhede[2], atento à coordenação das atividades, foi logo avisando dos desafios que enfrentaríamos nesse dia, o qual estava circundado de uma certa penumbra espiritual, apesar de ensolarado. A essa altura, quando o relógio apontava 14h, às atividades iniciaram com a mesma sequência das preces[3] ao som de uma música instrumental de paz que foi colocada em uma pequena caixa de som, auxiliando na harmonização da atmosfera astral e material.


Após essa etapa, houve a limpeza energética dos integrantes do grupo[4]. A isso, sucedeu um importante procedimento curativo a uma senhora, dona Ricarda[5], que após algum tempo internada em asilo, devido ao seu comportamento perturbador[6], teve que ser devolvida ao lar pela instituição que havia lhe acolhido.


Tudo isso, resultou em uma egrégora de muito sofrimento para ela e para a família e, quando chegou a hora de seu tratamento - que implicou numa sequência de intervenções para auxílio a todos eles - a isso foi somando um processo de revolta de uma irmã espiritual, de origem cigana, aborrecida a acusar a quantidade de seres que poderiam trabalhar e receber ajuda através daquela que foi internada, mas que não tiveram a oportunidade de se curarem e serem curados, o que resultou em semelhante manejo para a situação. Apontava o dedo em direção a ela, falava muitas coisas, sempre em tom de ameaças e aborrecimento.


Aqui, caros amigos, vemos o quanto os laços cármicos de parcerias estabelecidas pela necessidade de trabalho mediúnico, quando não alicerçados completamente em uma amizade sincera e propositiva, acabam descambando em cobranças e acusações mútuas. A irmã estava acusando a encarnada de se negar ao trabalho que era compromisso das duas, mas que não se legitimou, resultando em impedimentos para ambas as partes.


Devemos lembrar que nem sempre os laços de trabalho mediúnico acontecem pelas vias da reciprocidade amorosa e da mútua admiração, mas podem ocorrer pela necessidade de afinização e respeito para somente depois se desdobrarem em benefícios a muitas pessoas, surgindo daí uma possível grande amizade para o progresso entre os envolvidos. Num primeiro instante, pode ser um dever para ambos, o que gradualmente torna-se um estado de satisfação pela presença e dedicação um do outro à prática da caridade e da fraternidade.


Quando observamos caso semelhante, pensamos no quão grande é o amor da Divina Sabedoria, pois nos oferece tantas oportunidades de construímos amizades que fortalecem a nossa alma, que ampliam nossa força interior e acalmam nossas dores, afagando e compreendendo a dinâmica da nossa alma, nos pacificando o entendimento e aclarando os ideais.


O expandir da consciência para a amizade é, certamente, como descobrir um vale de flores no próprio espírito, é como encontrar um arranjo natural de bondade e de mansidão no vaso sagrado do coração, derramando-o sobre a terra fértil da reciprocidade, na busca pelo bem comum.   


A irmã espiritual cigana é encaminhada pela equipe dos auxiliadores de Jesus. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A
A irmã espiritual cigana é encaminhada pela equipe dos auxiliadores de Jesus. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A

Um passe misto, uma palavra amiga e um abraço coletivo resultou na manifestação desse espírito, que, apesar de iniciar sua comunicação nessa postura violenta, após alguns minutos de diálogo nesse tom mais severo, passou a ponderar sobre deixá-la em paz e seguir para a uma luz acolhedora que estava a lhe esperar.


Assim foi convencida a deixar para trás a razão de seu sofrimento, e, mesmo movida pela tristeza de uma oportunidade não lograda, entregou-se aos espíritos auxiliares de Jesus, deixando a companheira encarnada.


Aconteceram ainda alguns outros encaminhamentos espirituais com os pacientes, até que, logo após, os grupos de trabalhadores foram reorganizados no espaço, formando dois círculos: um para a desobsessão e outro para a sala de tratamentos espirituais. Referindo-se ao primeiro, tudo transcorria dentro de uma certa normalidade. Muitos sofrimentos foram dirimidos através dos esforços coletivos. Alguns gritos e choros foram ouvidos e vistos pelos instrutores do invisível.


Em um determinado momento, os irmãos espirituais alertaram para uma fila que se formou do lado de fora da casa. Necessitados, vindos de vários lugares, ali poderiam receber do Mais Alto um auxílio fraterno para as dores e inquietações. Na parte de cima do templo, outra fila também se formava, a de ajudantes, socorristas, mensageiros, amparadores e instrutores, socorrendo e cuidando deles, em pleno acordo com a vontade grandiosa do Pai Celestial.


Com relação ao segundo grupo, a dinâmica seguia em um ritmo um pouco diferente. Os nomes eram evocados e mentalizados para que a irmã Célia[7], sensitiva que recebia, naquela tarde, as impressões das curas do além, pudesse repassar à equipe encarnada quais seriam as terapêuticas adotadas para cada paciente e por quanto tempo, os demais colaboradores, atentos, anotavam tudo. Alguns recebiam a orientação da prática do Evangelho no Lar; outros, a utilização da Pomada Vovô Pedro, outros tantos, ao fortalecimento da fé e dos bons pensamentos, e a todos eram emitidas vibrações de Amor e Luz.


Aqui vale destacar o benefício do uso desta pomada sagrada na cura das pessoas que passam pelos círculos de tratamento. Muitos são os relatos de pacientes sobre melhoras físicas, emocionais e espirituais com a utilização dela. A respeito das contribuições para os corpos físico, emocional e espiritual, podemos elencar o caso de uma irmã que estava sofrendo, de forma simultânea, com dores musculares na região cervical e com uma cefaleia, relatando estar a três dias sem movimentar bem o pescoço.


Após as rogativas em prol da saúde dela, vimos uma colaboradora passar a pomada no centro da testa e também na região ínferoposterior da cabeça, próximo a região da cervical Atlas[8]. O efeito, segundo a enferma, foi quase imediato. Um alívio conjunto e instantâneo que causou até sonolência nela, pois devido a dor, sequer conseguira dormir adequadamente nos dias anteriores. Após a aplicação, ficou sem dor alguma, chegando a se emocionar com o efeito. É justo reconheçamos também que, quando um caso de ajuda é bem-sucedido, é porque múltiplos recursos são mobilizados para fazer dar certo, inclusive aqueles os quais não visualizamos.


Pomada Vovô Pedro.
Pomada Vovô Pedro.

Nesse sentido, é importante lembrar que a amigável abordagem dos tarefeiros da Luz aos que são acolhidos é indispensável, pois é sempre motivador para uma pessoa que chega debilitada emocionalmente, uma boa recepção, pois esta postura emana serenidade e simpatia. Foi o que aconteceu no caso da nossa irmã Ricarda e àquela que estava a lhe cobrar. As abordagens carinhosas inspiram as pessoas a se melhorarem, impele-as a renovação dos hábitos, auxiliam no bom ânimo, na melhoria da autoestima e na própria continuidade do tratamento iniciado.


As boas palavras abrigam o próximo em nosso coração, focalizam os aspectos espirituais de melhoria interior, que é essa ponte magnânima, erguida nos pilares seguros das boas intenções. O passe misto, aliado ao uso dos unguentos ou líquidos magnetizados no astral, selam uma grande força que atua sobre o paciente.


O leitor amigo, no entanto, poderia perguntar: mas e se a espiritualidade precisar passar alguma advertência para uma pessoa que esteja vivendo de forma completamente equivocada?


Falarão eles docemente? Sim, os “puxões de orelha” existem – já ouvimos vários - mas eles nunca são feitos com grosseria, mas sim com respeito. Sim, chamarão a atenção para a necessidade de auxiliar os seus familiares, por exemplo, mas sem presunção; indicarão bons pensamentos, sem alimentar o contrário nem em si, nem no outro; apontarão o bom senso como fundamental, porém sem exageros na fala ou nos gestos.


Todas essas pequenas atitudes ajudam diretamente o trabalho das equipes espirituais. Na instrução dos bons amigos, tudo vem de forma firme e solidária, nunca arrogante ou vaidosa. Por isso, a pretexto de se informar algo da espiritualidade amiga, não será aceitável qualquer gesto, por parte do médium, que não seja o do acolher e orientar com amor.


Diante disso, a emissão voluntária de pensamentos e projeções mentais de Luz por parte dos trabalhadores de apoio para a potencialização do fluxo vital e etérico é muito importante. O princípio da mentalização é entendido, portanto, como um fator pertinente ao tratamento de curas e cuidado com todos.[9] 


Naquela tarde, o tempo transcorreu cerca de uma hora e meia de ação conjunta, quando nosso irmão Cantanhede convidou a todos para reunião final de encaminhamentos e finalização dos trabalhos. Naquilo que imaginávamos ser o encerramento de fato, uma das irmãs sensitivas pode ceder comunicação a voz que emanava do Conselho dos Anciãos.[10]


No astral da casa, um grande portal luminoso se dilatou há poucos metros acima de nossas cabeças, e pudemos contemplar a beleza simples e magnífica de uma tenda armada sobre o agrupamento. Aquela choupana luminosa, predominantemente dourada e branca, podia mesclar os nobres elementos astrais de abrigo e segurança, mas também de conexão com as esferas superiores.


O impacto dessa formação e apresentação aos envolvidos de nosso plano foi tão intenso que alguns chegaram a se prostrar em reverência e respeito aos irmãos que apresentaram palavras de esperança e disciplina:

—  Abrimos este portal para que todos possam entender que o autor de todos os trabalhos é Deus, e, por isso, não há trabalhador maior ou menor, só há o serviço para Ele, diante de sua criação. Aqui, todos são tratados como iguais, pois são vistos aos olhos do Pai.
Um ancião aconselha um grupo de trabalhadores. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A.
Um ancião aconselha um grupo de trabalhadores. Imagem do Cantinho dos Anciãos gerada por I.A.

E, após a sondagem completa dos corações que viam o fenômeno, ainda prosseguiu a entidade venerável, advertindo, sem afetações, quanto a necessidade de desenvolvimento da fé, da confiança em Deus e nas equipes espirituais dedicadas ao bem, além de inquirir quanto a intenção das pessoas estarem ali para trabalhar, no sentido de examinar de forma mais profunda, as razões para estarmos nos dedicando a obra do Mestre, se sinceridade declarada pela boca seria a mesma do coração de cada um.


Dadas as devidas instruções - as quais não iremos detalhar por completo, sob o risco de esquecermos pontos fundamentais - em um clima de atenção e gratidão, a reunião foi encerrada. Preces e palavras de esperança foram ouvidas. Nisso, todos começaram a se organizar para seguirem em direção aos seus outros compromissos, na esfera material.



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Raul César

Equipe Cantinho dos Anciãos



Notas:


[1] Livro: Pão Nosso. (Xavier, 2006, p. 77).

[2] Pseudônimo do irmão que coordenou as atividades, na esfera material, naquela tarde.

[3] Aqui nos referimos a prece do Pai Nosso, seguido de uma Ave Maria e a Oração de São Francisco.

[4] Nesse ínterim, é importante ressaltar que, de acordo com os relatos dos irmãos encarnados, havia um fluxo energético intenso para ser tratado no ambiente. Percepção essa que durou quase toda a tarde, vindo a melhorar somente já ao final dos tratamentos presenciais.

[5] Aqui, também utilizamos um pseudônimo, para preservar a identidade da irmã.

[6] A nossa irmã Ricarda, durante a atual encarnação, portava a faculdade mediúnica que, naturalmente, precisava ser desenvolvida e ampliada. No entanto, assim como acontece a muitas pessoas, ela se negou e isso acarretou em uma série de consequências físicas e emocionais que culminaram em todo um processo doloroso, visualizado pelos médiuns, na sala de tratamentos.

[7] Pseudônimo que utilizamos para uma das irmãs médiuns que participava do trabalho naquela tarde.

[8] É uma ossificação que tem uma forma anelada e começa na base do crânio.

[9] Em outra oportunidade, trataremos com mais detalhes sobre esse assunto das mentalizações e também sobre certas formações terem impactos diferentes umas com relação às outras.

[10] Irmãos espirituais muito mais adiantados - orientadores da humanidade, e que estão atrelados ao compromisso espiritual de progresso da humanidade terrestre em direção a um mundo regenerado. Eles orientam e amparam os corações dos tarefeiros nos principais pontos da jornada. Trataremos de alguns outros pontos sobre eles em um capítulo posterior.


Referências:


XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. Ditado pelo espírito Emmanuel. 28° ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006.

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